Não é de hoje que os funkeiros gostam de aparecer na telinha usando artigos de luxo. Mas só mais recentemente eles acertaram a mão em conseguir se autorretratar. No auge da ostentação, carrões, mansões, helicópteros, eram itens quase obrigatórios nos videoclipes. Agora, o negócio mudou de figura e cada vídeo tem um tema melhor definido e menos copiado do modelo hip-hop norte-americano.
O Mc Livinho, por exemplo, curte contar umas histórias, já fez videoclipe falando da namorada que voltou e sobre a máxima do pegar geral. O MC Bin Laden, por sua vez, gosta mesmo de umas fantasias e faz vídeos caseiros, tendo sempre a KL Produtora como cenário de vários clipes.
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Quando assisti ao vídeo de “Baile de Favela“, do Mc João, pensei “cara, cadê a ostentação?”. O MC chega de carro nos fluxos, abre o som do porta-malas e canta sua música com a galera. No fim do clipe, ela ainda arrisca um ‘mosh’, mostrando o rolê da juventude periférica.
O movimento do funk ostentação continua crescendo — e o mais impressionante é observar como havia um cenário totalmente fértil para trabalhos de audiovisual. A partir de 2010, sem apoio de grandes marcas, sem grandes planos de marketing, sem ações gigantescas, a galera das comunidades paulistanas viu seus vídeos viralizarem na internet. Kondzilla, o mais prolífico arrebanhador de views, está na dianteira da turma dos produtores com mais de meio BILHÃO de visualizações.
Para entender melhor como o funk paulistano chegou nesse formato de videoclipe — com menos influência externa e mais a carinha da curtição da comunidade —, separamos 13 clipes que contam a evolução desse subgênero do funk paulistano, do começo da ostentação até agora.
Ah sim, você também pode ver como eram os videoclipes de funk antes da ostentação.
#1
Megane – Boy do Charme
Kondzilla, 2011 – 7 milhões de view
O trabalho que deu o ponta pé inicial para a enxurrada de videoclipes de funk ostentação veio do Mc Boy do Charme, da Baixada Santista. Junto do parceiro Kondzilla, também da Baixada, subiram pra capital e no esquema um ajudando o outro, gravaram o vídeo que iria influenciar o movimento do funk paulistano.
#2
Nego Blue – As minas do Kit
2011, 5 milhões de views
Correndo por fora, Nego Blue mostrou que o lance não era só ter imagens em HD, o importante era mostrar uma música boa e imagens legais. Gravado em Cidade Tiradentes, bairro na zona leste de São Paulo, o clipe mostra a galera na rua ostentando carros de luxo e uma mulherada bonita. Nessa época, Nego acertou na letra, promovendo as mulheres. Além da “As minas do kit’ ele também lançou ‘Deixa elas passar’
#3
Mc Guimê – Ta Patrão
Direção, Kondzilla, 2011, 27 milhões de views
Aqui é o ponto em que a produção de videoclipes no funk paulistano vira. O MC Guimê acerta com uma letra boa, um clipe mais arrojado e chega na casa dos 27 milhões de views. Antes de fechar 2011, KondZilla já começava a acertar na fórmula visual pras músicas de funk, e esse era apenas o primeiro trabalho visual do MC.
#4
Mc Rodolfinho – Como é bom ser vida Loka
Kondzilla, 2012, 21 milhões de views
O Kondzilla já sabia o caminho das pedras, e abriu 2012 com o clipe do novinho Rodolfinho que emplacou um baita sucesso. O ano começava bem pro diretor que já começava a definir a linguagem do movimento ostentação.
#5
Mc Guimê – Plaque de 100
Kondzilla, 2012, 62 milhões de views
Com o caminho livre, o diretor chamou o MC Guimê de lado pra fazer um modelo novo de videoclipe. Ao invés de só retratar os produtos de luxo, o diretor teve a ideia de produzir um trabalho no estúdio, com modelos, figurinos e outros elementos. Num bate-papo, o diretor me contou: “Eu queria ter feito o clipe todo no estúdio, mas fiquei com medo de fazer e a galera não entender, achar que era uma coisa mais simples, sendo que seria uma coisa mais complexa”.
Simples ou complexo, “Plaquê de 100” divide o movimento funk paulistano em dois momentos: antes, um retrato fiel dos MC’s gravando em carros na sua comunidade, e agora um momento de magia, onde se criava um modelo nacional de ostentação.
#6
Mc Lon – Novinha vem que tem
Máximo, 2012, 46 milhões de views
Com cada vez mais videoclipes passando a marca de 10 milhões de views, o movimento ostentação começou a chamar a atenção de outras produtoras. A Máximo, já vinha conversando com o Guimê e Rodolfinho — dois grandes nomes do movimento, e abraçou o Mc Lon.
Com uma linguagem parecida com a do KondZilla, Lon crava 46 milhões de views.
#7
Mc Nego do Borel — Os caras do momento
Tom Produções, 2012, 42 milhões de views
Além da Máximo, o Tom Produções já trabalhava com videoclipes de funk. Com alguns sucessos como Mc Fininho – Amor Proibido, (20 milhões de views) o diretor ainda não tinha acertado em nenhum roteiro de sucesso, até aparecer o Nego do Borel.
Como bom carioca, o videoclipe já abre com os meninos do passinho, e em seguida mostra a linguagem da ostentação numa narrativa carioca. É parecido, mas não é igual, ainda assim Tom registra seu nome no movimento.
#8
Bonde das Maravilhas – Aquecimento das Maravilhas
Tom Produções, 2013, 20 milhões de views
De 2013 pra frente, o cenário abriu de tal forma que tinha espaço para todo mundo. Era uma enxurrada de videoclipes. É nesse momento que os diretores começavam a mudar (de novo) o formato dos videoclipes. Se antes eram sempre mostrando artigos de luxo, mansões, dinheiro e símbolos de poder, agora o importante era entreter.
As meninas do bonde das Maravilhas mostram todo seu rebolado e ajudam a abrir caminho para novas narrativas.
#9
Mc Guimê – Na pista eu Arraso
Fred Ouro Preto, 2013, 55 milhões
O então formato estabelecido de videoclipes de funk, começa a cair. O modo PIMP, com garotas, carrões e ostentação, começava a ser adaptado a cada novo clipe. Guimê já estava em outro patamar, com apoio de marcas e patrocínio para videoclipes. Neste trabalho, a cor do clipe é quase dourada, transformando tudo em ouro – até as modelos.
#10
Valesca Popozuda – Beijinho no Ombro
Map Style, 2013, 50 milhões de views
O auge, e também momento de declínio, da ostentação veio com a Valesca Popozuda. A diva grava o videoclipe da sua música “Beijinho no Ombro”, num castelo, com direito a tigre, coruja e sacerdotes. Ela se apresenta como uma rainha, ostentando joias e um trono.
Depois disso estava difícil imaginar outra forma de demonstrar mais poder.
#11
Mc Bin Laden – Lança de Coco / Passinho do Romano
KL Produtora, 2014, 1,5 milhões de views
O ano de 2014 abre com a novidade da rasterinha. Os fluxos começam a se popularizar em São Paulo, junto do passinho romano. A putaria começa a tomar espaço, deixando a ostentação de lado.
Artistas como Bin Laden procuram entreter nos vídeos caseiros, do que em mega produções. O Lança de Côco teve mais sucesso, que seu outro clipe em formato de ostentação. E neste trabalho, mascaras tomam o lugar de modelos. Mansões perdem espaço para a comunidade. A KL mostrava a sua cara.
#12
Mc Crash, Sarrada no Ar (Passinho do Romano)
Kondzilla, 2014, 6,5 milhões de views
O passinho do romano explodiu em São Paulo. Mais e mais vídeos caseiros começam a surgir no YouTube – Fezinho Patatty cravou 13 milhões de view no seu vídeo dançando essa música. Kondzilla não perdeu o posto de “Diretor de Clipes de Funk” e começa a mostrar novas narrativas.
#13
MC Livinho, Mulher Kama Sutra
Tom Produções,2014, 28 milhões de views
Bin Laden era um cara novo em 2014, junto dele Mc Pedrinho, DJ Perera, DJ R7 e o bom moço Mc Livinho começam a mostrar a nova direção do funk paulistano. Junto de Tom Produções, o MC mostra que não tem mais uma regra pros videoclipes. Com um roteiro incomum para os padrões da ostentação, é fácil perceber o novo momento da estética do funk. O modelo PIMP ficou no passado.
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