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Ei, Manifestantes de Hong Kong, Por Que Vocês Estão nas Ruas?

Estive nos protestos – como quase todo mundo da cidade – e aproveitei para perguntar aos participantes por que eles estavam ali e o que eles esperam que aconteça.

Ontem foi o Dia Nacional na China e o aniversário de 65 anos do Partido Comunista chinês. Mas o clima era tudo menos festivo em Hong Kong: liderados por estudantes contra o controle do governo sobre as eleições locais, protestos levaram centenas de milhares de pessoas às ruas.

O centro dos protestos fica do lado de fora dos escritórios do governo no bairro Admiralty, mas as manifestações já se espalharam por áreas próximas como Wan Chai, Causeway Bay e até o porto de Mongkok.

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Oficialmente, os manifestantes têm dois objetivos: conseguir que o governo permita aos moradores da cidade escolher os candidatos em que querem votar e forçar a renúncia do atual chefe-executivo CY Leung, visto como um fantoche do governo central. Os organizadores anunciaram hoje que podem expandir os protestos e bloquear outros escritórios do governo na sexta-feira caso CY Leung não responda às exigências.

Estive nos protestos – como quase todo mundo da cidade – e aproveitei para perguntar aos participantes por que eles estavam ali e o que eles esperam que aconteça.

VICE: Há quantos dias vocês estão aqui?
Beryl (canto direito): Desde sexta passada, e venho aqui toda noite. Dormimos na rua no domingo. Estava muito quente. De manhã, precisei ir para casa para tomar um banho.

Estou vendo que você está fazendo a lição de casa. Você é estudante?
Estudo na Universidade de Hong Kong. Matei aula na semana passada e agora na segunda e na terça. Estou informando meus tutores sobre os deveres, e a escola está gravando as aulas para que a gente possa alcançar a matéria. A situação está menos tensa agora. A sexta e o domingo foram como uma guerra, mas agora podemos fazer nossas leituras na rua.

O que seus pais acham disso?
Meus pais me encorajam, porque estamos lutando por democracia há tantos anos, mas ainda não conseguimos isso.

O que vocês queriam que acontecesse como resultado desses protestos?
Gostaríamos que o NPCSC [o Comitê Permanente do Congresso Popular Nacional] reabra as portas para a reforma democrática em 2017. O objetivo principal não é que CY Leung se afaste do palco político, mas gostaríamos de ter uma eleição realmente democrática em 2017.

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Vocês acham que Pequim vai ouvir?
Se a greve durar muito tempo, Pequim vai ter que responder.

O que seria muito tempo?
Pelos menos duas semanas ou um mês.

O que trouxe vocês aqui?
Rusty: Queríamos ver as pessoas e se o protesto era realmente pacífico – e vimos. Somos das Filipinas, mas moramos aqui há 20 anos, então entendemos o que as pessoas de Hong Kong estão sentindo. Viemos aqui noite passada também.

Alma: Nossos filhos nasceram aqui. É por isso que simpatizo com os estudantes. Vejo meus filhos neles.

Quais foram suas impressões do protesto?
Alma: É impressionante, as pessoas são muito disciplinadas e ordeiras. É muito diferente do que a polícia está tentando projetar.

Rusty: Você realmente consegue ver a determinação desses jovens. Mesmo que isso signifique que eles vão ter que fazer a lição de casa na rua, eles vão ficar. Os jovens aqui são extremamente bem informados do que está acontecendo politicamente e têm educação suficiente para decidir por si mesmos.

Por que você está aqui hoje?
Ray (esquerda): Quero lutar por democracia e pelo direito de escolher nossos candidatos.

Francis (direita):Mesma coisa. Esse é nosso terceiro dia. No primeiro dia, ficamos na Admitalty; ontem, ficamos na Wan Chai; e hoje, estamos aqui.

Qual é a coisa mais surpreendente dos protestos para vocês?
Francis: Todo mundo é muito simpático. As pessoas estão sempre perguntando se precisamos de água ou comida.

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[E, nessa hora, alguém se aproximou e perguntou se queríamos água.]

Ray: As pessoas costumam dizer que o povo de Hong Kong é egoísta, mas, depois de hoje, não acho que eles sejam tão egoístas assim.

Vocês querem que CY Leung renuncie?

Francis: Não necessariamente. A renúncia dele não ajuda em nada. Quero lutar por um processo eleitoral de verdade.

Ray:Concordo. Quem quer que esteja nesse cargo, será um fantoche. O que exigimos é uma escolha genuína [dos candidatos].

Você acha que isso vai mudar a ideia de Pequim?

Ray: Não acho que eles se importam, mas ainda assim precisamos dizer a eles que queremos ter uma escolha.

Francis: Eles não dão a mínima.

Há quanto tempo você está nos protestos?
Alim: Vim hoje pela primeira vez. Eu estava doente, senão teria vindo antes. Acho que vou voltar todos os dias.

Por que você fez esse cartaz e veio aqui?
Eu queria mostrar meu apoio ao povo de Hong Kong. Sou um refugiado de Bangladesh e vim para cá em 1999. Adoro Hong Kong. Não quero ir a nenhum outro país. Bangladesh [risos] é muito pior. Lá, você não tem liberdade de expressão. Hong Kong tem liberdade, paz e direito de se expressar. Em Bangladesh, isso seria impossível.

O que você acha que vai acontecer?
Acho que o governo chinês não vai mudar de ideia. Eles não se importam com nada. Eles querem que um só partido tenha poder.

Se você acha que nada vai mudar, por que veio até aqui?
Mesmo que não haja chance, temos que mostrar a eles. Se hoje não há mudança, talvez ela venha amanhã. Se amanhã não houver mudança, então no futuro teremos mudança.

Você consegue entender tudo o que é dito nos discursos dos organizadores em cantonês?
Mesmo que eu não entenda tudo, entender 50% é suficiente para mim.

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Tradução: Marina Schnoor