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Um Supermercado na Inglaterra Expulsou um Casal de Lésbicas que Estava se Beijando

A expulsão do casal do supermercado foi resultado da reclamação de uma cliente, que achou que um beijo na bochecha representava um sério risco para seu filho – em suma, que aquilo era “nojento”.

Fotos por Oliver James. 

Quando cheguei em Brighton, no sul da Inglaterra, aos 18 anos, eu esperava encontrar um paraíso queer: o tipo de lugar onde você vê bandeiras de arco-íris em todas as ruas mais poodles e escravos sexuais em coleiras puxadas por lindas drag queens. Ou, pelo menos, um pouco mais desse tipo de coisa do que os mictórios de um shopping tosco de Doncaster tinham a oferecer.

No entanto, depois de algumas semanas estudando na cidade, a lua de mel acabou. O paraíso parece bem menos fabuloso quando seu amigo apanha no caminho pra casa, porque estava andando com outro homem. Brighton, como todos os outros lugares, também é o lar de gente intolerante.

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Quatro anos depois, as coisas não mudaram muito. Quando cheguei ao trabalho na manhã de segunda-feira e vi a principal história de um jornal local - um segurança tinha ameaçado expulsar duas mulheres de um supermercado da rede Sainbury se elas continuassem com "demonstrações públicas de afeto" -, isso me deu uma sensação desagradável e familiar no estômago.

A expulsão do casal do supermercado foi resultado da reclamação de uma cliente, que achou que um beijo na bochecha representava um sério risco para seu filho - em suma, que aquilo era "nojento". Falando relativamente, te pedirem para sair de um estabelecimento não chega nem perto de um ataque físico brutal que deixa sua vida em farrapos, mas é um pequeno exemplo das experiências cotidianas de muitas pessoas LGBTQ: pequenos lembretes de que ainda estamos longe de estar em pé de igualdade com os héteros.

Manifestantes entrando no supermercado Sainsbury, em Brighton. 

Inspirado naquele programa Supermarket Sweep, sugeri que um bando de nós entrasse no Sainsbury em questão e realizasse um beijaço. E o pessoal curtiu a ideia. Estava chovendo, mas cerca de mil pessoas apareceram mesmo assim.

Depois que cantamos todas as músicas que tinham "beijo" na letra (One Direction e Seal estavam no topo da lista), a drag queen Lydia L'Scabies fez um pequeno discurso. "Não quero ver ninguém sendo odiado pelo jeito como vive sua vida", ela disse.

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Lydia L'Scabies. 

Enquanto os ativistas locais conversavam com a multidão, aproveitei a oportunidade para perguntar aos clientes confusos - aqueles que não tinham vindo para o beijaço, mas que estavam apenas enchendo suas cestinhas - o que eles achavam daquilo tudo.

Um cliente, que informou que seu nome era "Foda-se", me perguntou o que estava acontecendo antes mesmo que eu pudesse dizer "Oi". Sem esperar que eu conseguisse explicar qualquer coisa, ele viu dois caras se pegando na seção de hortifrúti, repetiu seu nome e desapareceu. Pedi um beijo, mas ele não estava a fim.

Logo depois disso, uma participante superempolgada tentou (mas não conseguiu) começar uma sessão de karaokê de "Kiss Kiss", de Holly Valance. Do lado dela, vi dois adolescentes se olhando meio envergonhados, perto das revistas. E aí aconteceu. Um agarrou o braço do outro, sussurrou "Eu te amo" - e eles se beijaram. Eu me emocionei perto dos absorventes.

A loja estava lotada, e, depois de um tempo, o gerente me pediu para retirar as pessoas do local, mas a festa estava só começando na frente do supermercado. Alguns pedestres que passavam, voltando para casa do trabalho, se juntaram ao protesto.

Um beijaço num supermercado local pode não parecer muito empoderador (ou uma grande coisa em particular) para quem está fora da comunidade, mas já é alguma coisa. Naquela noite, nós nos juntamos e dissemos um grande "foda-se" para a homofobia num lugar onde ela ocorreu.

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Sim, isso pode ter sido a ação de um segurança de um supermercado de uma grande rede. E, sim, não é razoável esperar que eles tenham um controle moral de cada um dos seus empregados. Mas o incidente representa o zumbido de desconforto que muitos gays sentem no dia a dia simplesmente por demonstrar (nesse caso, de um jeito muito inocente) afeição pela pessoa que amam.

A mobilização de tantas pessoas num período tão curto de tempo é testemunho de que uma grande parte da comunidade conhece muito bem a experiência dessas duas mulheres. Temos um longo caminho pela frente até que os LGBTQ não tenham mais de enfrentar discriminação na nossa sociedade. E, com pesquisas mostrando que mais de 40% dos estudantes gays do Reino Unido já pensaram ou tentaram o suicídio, há uma nova geração para qual a luta só está começando.

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Tradução: Marina Schnoor