Graças à aprovação das leis de regulamentação da maconha no Uruguai, o acesso à cannabis logo será tão fácil como ir à farmácia da esquina, mas agora os uruguaios podem ter problemas para comprar tabaco.Apesar de o país ter aprovado leis para regulamentar a produção, venda e consumo de maconha, as autoridades uruguaias estão pressionando por uma regulamentação mais rígida no marketing de produtos de tabaco.No dia 6 de maio, o Senado uruguaio aprovou uma lei que proíbe a disposição de produtos de tabaco, visando diminuir a exposição ao consumidor. No mesmo dia, o presidente José Mujica estabeleceu uma lei para regular o consumo de maconha.As novas regulamentações cobrem o possível cultivo, venda e compra, além da existência de clubes de cannabis. Isso especifica que cada residente pode cultivar até seis plantas, com as quais pode produzir até 490 gramas por ano. Mas quem não é cidadão ou residente permanente do país não poderá desfrutar dos benefícios da nova lei.Até o fim de novembro e começo de dezembro, os residentes poderão comprar maconha em farmácias, de acordo com Diego Canepa, o porta-voz presidencial.Mas enquanto os uruguaios celebram, as empresas de tabaco enfrentam as novas restrições propostas sobre a publicidade e exposição de seus produtos.A iniciativa foi planejada anos atrás pelo Ministério da Saúde e pode ser o último prego no caixão da indústria do tabaco no país, que foi impactada por uma série de políticas que, em 2010, levaram a gigante do tabaco Philip Morris a processar o governo uruguaio por supostas violações do livre-comércio.O Tribunal do Banco Mundial concordou em ouvir a queixa da companhia em julho de 2013.Entre as decisões contestadas pela Philip Morris está a regulamentação que exige que avisos de saúde ocupem 80% da embalagem do produto, algo que o governo uruguaio vê como uma vitória, uma decisão que reduziu o consumo de tabaco desde que as leis entraram em vigor em 2009.A Philip Morris argumentou que essas regulamentações impulsionam o mercado negro de cigarros, que em 2009 representou um em cada quatro produtos de tabaco vendidos no Uruguai, de acordo com estatísticas fornecidas pelo site da companhia, citando a Sociedade Americana do Câncer.A abolição do mercado negro é o mesmo argumento que o presidente Mujica promove internacionalmente para apoiar a regulamentação da indústria da maconha no Uruguai.As novas políticas sobre tabaco e maconha no Uruguai tiveram uma recepção bastante positiva, exceto pelas preocupações sobre a promoção do uso da droga, manifestadas pelo secretário-executivo da Comissão Interamericana de Controle do Abuso de Drogas Paul Simons, que visitou o país recentemente.“O debate sobre o tabaco no Uruguai vem mostrando certos resultados. Acho que esse é o único país do mundo a ter sucesso nessas áreas, mas também há o interesse dos EUA na comercialização sistemática. Há muita propaganda, com um grande esforço para promover o consumo, e isso é preocupante demais de uma perspectiva de saúde”, disse Simon, durante uma reunião organizada pela Conferência Nacional sobre Políticas de Drogas no Uruguai.Enquanto a Phillip Morris aguarda uma decisão do Tribunal do Banco Mundial até 2015, muitos residentes vão começar a praticar suas técnicas de cultivo enquanto esperam por novembro.“Isso é algo pelo qual lutamos há tempos, e fez a juventude de esquerda muito feliz. É uma invenção do Mujica – como um teste. Isso nunca foi feito em nenhum lugar do mundo, e uma coisa que é verdade é que tudo é estatal: água, eletricidade e serviços de telefonia. E o fato de a maconha também ser regulada pelo estado faz muito sentido em termos de costumes políticos do Uruguai. Os uruguaios estão muito felizes”, disse uma jovem de 20 e poucos anos, que pediu para ser chamada de “Diana”, para a VICE.No entanto, permanece a questão de como, exatamente, o país planeja controlar a substância recém-permitida.“Há muita incerteza cercando como isso vai funcionar”, disse Diana. “A única certeza por enquanto é que as pessoas estão fumando um às dez da manhã com total tranquilidade! Toda Montevidéu cheira a maconha. Meu vizinho já tem oito plantas.”
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