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Entretenimento

Geração Cabisbaixa

Desta vez, Tao Lin flagra as pessoas de Taipei olhando para baixo.

Durante o próximo mês e meio, em celebração ao lançamento (nos EUA) do novo romance de Tao Lin, Taipei, vamos apresentar semanalmente uma seleção de fotos tiradas pelo autor durante sua viagem recente a Taipei, no Taiwan. Lá ele tirou milhares de fotografias com seu iPhone, imagens que ele dividiu em álbuns intitulados como “Graça de Taipei”, “Comida de Taipei”, “Bebês de Taipei”, “Animais de Taipei”, entre outros. As fotos foram feitas entre janeiro e fevereiro de 2013, durante uma de suas visitas semianuais à capital do Taiwan, onde seus pais vivem. Esta seleção é intitulada “Geração Cabisbaixa”.

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As fotos desta semana têm como título o termo* taiwanês, que a mãe de Tao diz ter ouvido pela primeira vez na TV, para as pessoas que aparentemente não conseguem parar de olhar para seus celulares em público.

Todas as fotos e legendas por Tao Lin.

*A tradução literal em mandarim é algo como “['grupo' ou 'trupe'] da cabeça abaixada”.

Taipei será lançado no dia 4 de junho e já está disponível para pré-venda.

Essa mulher está olhando para o seu Samsung Galaxy pensando: “O que eu estou tentando ver aqui? O que meus dedos querem apertar?”. A tela está apagada.

O adolescente de tênis branco está tentando se convencer de que ninguém pode ver o que ele está vendo e que, mesmo se alguém pudesse, ele não deveria ficar com vergonha nem nada, até porque ele só está checando seu Gmail. O homem de camisa listrada vermelha está tentando cancelar sua conta no Boingo pela vigésima vez, ou algo insano do tipo, em menos de um ano.

Esse homem está relendo um artigo intitulado “Os 10 melhores telefones da CNET Ásia”. O LG Optimus G dele está ranqueado em sétimo. Ele não sabe como se sentir em relação a isso. Ser pior que seis celulares, numa lista de dez, parece ruim, mas entrar para a lista – quantos telefones será que existem? Centenas? Milhares? – parece bom.

Esse homem, não querendo deixar parecer que ele está ignorando o filho para olhar o iPad, finge fotografar as pessoas com a Taipei 101 de fundo, enquanto, na verdade, checa rapidamente se seu tuíte de alguns minutos atrás, também tuitado ajoelhado fingindo tirar uma foto, já foi favoritado ou retuitado – ou respondido, ou qualquer coisa.

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Dezoito minutos atrás, essa mulher desacelerou, parou num lado da rua, virou e estacionou seu veículo e começou a olhar na internet. Ela fez isso apenas porque “parar tudo o que você está fazendo para checar a internet” é uma opção na vida dela.

Essa pessoa está tentando por quase meia hora editar a frase “Estou desesperada por uma razão para viver” num tuíte que não deixe as pessoas preocupadas. Ela odeia sua vida.

Essa mulher procurou por imagens de “sylvester stallone asiático” e está prestes a aumentar uma imagem macro do The Rock que diz “SE CONSIGO LEVANTAR MINHA SOBRANCELHA ASSIM, IMAGINE O QUE MAIS EU POSSO LEVANTAR ;)”

Essa mulher está tentando entender se é 2012 ou 2013.

Esse homem está procurando no Google “a mais estranha baleia ou golfinho”. Ele tem zero interesse em baleias, golfinhos ou mesmo em qualquer “estranheza”. Ele odeia sua vida. 

Essa mulher está tentando frustradamente ler um post num mural de respostas não oficial, semi-incoerente, desconexo e off-topic depois de buscar freneticamente como descurtir uma conta no Twitter de uma conta no Facebook depois de acidentalmente ter curtido sua conta particular no Twitter, com observações sombrias não humorísticas da sua vida, na página “A Presença Oficial do Dalai Lama no Facebook – Taiwan”. (O pessoal do Dalai Lama a contratou para a posição de “gerente de mídias sociais” uma semana atrás porque ela mentiu no currículo que já tinha trabalhado para o Twitter e para o Facebook.) Sentado na frente dela, ouvindo o segundo álbum da Norah Jones, está seu pai, que ela vê uma vez por mês. 

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Mãe e filho – vistos aqui descansando num banco perto da estação Jiantan MRT – estão, sem se dar conta da presença do outro, “viajando para caramba”. Nenhum deles sabe o que está olhando ou pensando, e só o filho tem uma vaga consciência de estar em algum lugar. 

Essa criança está vendo fotos de Marte.

Esses irmãos, prodígios do smartphone, estão de bobeira invadindo a base de dados do Netflix, alterando ligeiramente os algorítimos relevantes da categoria “Dramas Não-óbvios” para que Rain Man sempre seja recomendado.

Este menino sente uma forte atração por um still, do Amores Expressos, da Faye Wong num aeroporto, ajoelhada numa esteira rolante olhando abruptamente para algo fora da vista. Ele tem medo que seus amigos fiquem zoando com ele se o virem olhando para essa imagem, então ele fica observando isso em movimento, quando o still vai parecer borrado para todo mundo menos para ele.

As adolescentes no sofá postaram “alguma festa?” em seus respectivos murais no Facebook e agora aguardam respostas.

Anteriormente:

Bebês de Taipei

Carboidratos de Taipei

Moda de Taipei

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