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Sexo

A vida dos garotos de programa como ela é

O pornógrafo J. J. Rodrigues é o demetrio.nu e convidou seus amigos garotos de programa para fazer o 'Pornodocumentário', um longa com depoimentos reais e trepadas.
Um dos garotos de programa que está no 'Pornodocumentário'.

Um judeu ortodoxo de Higienópolis liga para um garoto de programa e ambos combinam de se encontrar em um motel da rua Bento Freitas, no centro de São Paulo. Lá, o judeu pede que o garoto de programa apenas dê chutes em seu cu. Então, ele chuta, chuta, chuta, até o judeu começar a sangrar. Já meio zonzo de ver tanto sangue anal jorrando, o garoto de programa começa a passar mal e quer parar, mas o judeu fica bravo. Ele quer mais.

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O Pornodocumentário de J.J. Rodrigues traz esse e outros relatos envolvendo anônimos e não tão anônimos — um dos depoimentos envolve um suposto juiz conhecido que foge para não pagar. O documentário é simples, rústico, e mostra garotos de programa contando sobre suas vidas, punhetas, famílias, clientes — câmera parada, backgrounds sem muito capricho. Um deles manda a real e diz que, no mundo do sexo, nem tudo é prazer. "Não são pessoas bonitas que procuram por garotos de programa. São pessoas zoadas, gordas."

"Os garotos de programa são bem resolvidos com o que escolheram"

A ideia do longa surgiu da convivência do diretor com os meninos, que ele já havia filmado em outras ocasiões. J.J. Rodrigues é uruguaio, mas mora no Brasil há 45 anos. Ele conta que todos os caras que aparecem no filme são seus amigos pessoais. O documentário não está disponível na internet, mas já foi exibido em alguns festivais. A ideia é que ele se mantenha inédito para rodar em outras mostras. Para assistir, tive de buscar uma cópia na casa do J.J., com quem bati o papo que você lê a seguir.

PS: Ele disse que tinha duas versões. Uma mais sussa e outra mais heavy, com cenas em que os próprios garotos que dão depoimento se masturbam e se comem. Pedi a segunda, claro.

VICE: O que o levou a fazer um documentário sobre garotos de programa?
J. J. Rodrigues: Sou pornógrafo e já havia trabalhado com eles. Acabamos virando amigos. Trabalho com pornografia gay há algum tempo. Sou amigo deles, desse universo de garotos de programa e atores pornô. É um grupo. Conheço esse submundo. Chamei vários amigos, muitos queriam. São perguntas que eu mesmo queria fazer. É uma coisa de amigo para amigo, uma coisa que filmei. São seres humanos lindos em todos os sentidos com ótimas histórias para contar.

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Existem duas versões do filme: uma só com os depoimentos, outra com cenas de sexo entre eles. Elas já existiam ou você filmou para o documentário?
Já existiam. Resolvi intercalar as cenas de sexo porque eu tinha esse material filmado em estoque. Fui captando algumas coisas que tinham a ver com as falas e inserindo.

"Quando um dos garotos está na sauna, eu interajo. É minha a mão na cueca dele"

Diferente dos filmes pornôs, a edição não traz nenhum deles gozando. Isso é proposital?
Achei que não caberia colocar isso. Na verdade, pensei em fazer um filme mais pornográfico e colocar cenas mais quentes. Mas em todas as cenas que filmei eles gozam no final.

Em uma das cenas, parece que a pessoa que está por trás da câmera tenta tirar a cueca de um dos garotos com a mão. Não vou resistir e preciso perguntar: essa mão é sua?
Sim. Quando um dos garotos está na sauna, eu interajo. É minha a mão na cueca dele. Tinha a ver com a edição. Você conhece o site demetrio.nu? O personagem Demétrio é um pornógrafo que arruma umas trepadas. Eu sou ele. Então, interajo com os atores.

O documentário parece simples. Uma câmera parada, luz, áudio e edição. Você fez tudo? Como foi o processo?
Fiz tudo sozinho. Coloquei a câmera e fiz nove perguntas (as mesmas para todos). Tanto que eles falam sobre opção sexual, causos e como é atuar nessa profissão. Achei que isso dava todos os ingredientes. Eles concordaram, somos amigos. Uma coisa tão simples se tornou real. Acabou virando um longa e sou um cara que normalmente faz curtas.

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Os caras parecem bem felizes com a profissão que têm. Você acha que isso reflete o sentimento da maioria dos michês de São Paulo?
Olha, eu conheço muitos. Não saberia dizer a porcentagem. Muitos fazem para pagar a faculdade, mandar para mãe ou por fetiche. Muitos curtem sexo e acham que podem ganhar um dinheiro até na frente das câmeras. As pessoas com quem eu trabalho são seres humanos que escolheram essa profissão, da mesma forma como eu escolhi essa profissão. Ou a profissão me escolheu. Gosto de fazer pornografia. Os garotos de programa são bem resolvidos com o que escolheram. Uns abandonam com o tempo, outros voltam. No entanto, eles têm problemas existenciais como qualquer um — não especificamente pela profissão.

Eles têm atributos físicos que são explorados por eles e se aproveitam de sua natureza física.

Siga a Débora Lopes no Twitter: @deboralopes

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