"Pensei em desistir quando era adolescente", afirmou, para nossa surpresa, Arthur Zanetti, 26, o primeiro e único medalhista de ouro olímpico de ginástica artística do Brasil. "Cheguei até a deixar os treinamentos." Mais novo, contou, ele só queria ser um cara comum – daqueles que cola na baladinha, come besteira e quebra a cara vez ou outra. "Queria a vida de todo jovem, fazer coisas como ir à escola, dormir após o almoço, sair, dormir mais tarde", diz. Pareciam atos simples, mas, para Zanetti, um garoto que ficava a maior parte do dia no ginásio, entre argolas e tatames, soavam como luxo. Afastado dos treinamentos, porém, Arthur viveu poucos dias como adolescente convencional. Em casa, em frente à TV, começou a sentir falta da rotina de adrenalina, suor e acrobacias. "Eu estava inquieto, de um lado para o outro, sem saber o que fazer", conta. "Minha mãe, Roseane, me levou ao ginásio para conversar com o técnico Marcos Goto. Fui lá, conversei, voltei e nunca mais pensei em sair." Esse curto episódio pouco conhecido da vida do ginasta é mais icônico do que parece. Revela, em primeiro lugar, que o paulista de São Caetano do Sul ama o esporte acima de qualquer rolê mundano; também mostra, de forma bem clara, que Arthur nunca foi um cara como qualquer outro. Nem poderia ser. Leia também: ⅓ máquina, ⅓ homem, ⅓ peixe: a jornada de Thiago Pereira em busca do ouro olímpico na natação
Foto: Osvaldo Felisbino
Os sinais de que ele era um cara diferente começaram cedo. Aos 7 anos, o menino com altura abaixo da média não era um dos preferidos para o futebol, mas sua agilidade e seu tronco forte chamaram atenção dos técnicos. Por sugestão de um professor de educação física, os pais o matricularam na ginástica. Sempre demonstrou mais vontade que os demais. "No início, era brincadeira", comenta. "Começou ficar sério quando o meu treinador, o Marcos Goto, veio de Guarulhos para São Caetano, no ano seguinte, eu com 8 anos, e me escolheu para ficar no grupo dele. Foi o Marcos que implantou a ginástica competitiva em São Caetano, a partir daquele grupo de meninos." Desde garoto Arthur aprendeu, na marra, que a precisão não vinha fácil. Passou tanto tempo no ginásio – segundo nossos cálculos, anos e anos saltando – que, quando questionado sobre o dia a dia, conta com naturalidade sua rotina impressionante de treinos. "Treino todos os dias sete horas, dependendo da fase de preparação, em dois períodos, seis dias por semana. Começo às 8h30 e acabo às 11h30, saio, almoço; volto às 14 horas e fico até 18 horas, 18h30. No sábado, treinamos um período", enumera, calmo. "O descanso é no domingo." Leia também: Felipe Kitadai quer quebrar mais uma medalha Não é difícil imaginar que se manter estável entre as duas pequenas argolas — penduradas a uma altura de 2,75 metros do chão — não é para amadores. Isso por si só já é uma vitória – ao menos para nós, caras normais. Como se não bastasse passar horas e horas ali, à noite, depois dos treinos, Arthur vai para a Universidade de São Caetano do Sul, onde faz bacharelado em Educação Física. A filosofia do ginasta, diz, é quase grega: mente sã, corpo são. O corpo de Zanetti, que tem apenas 1,56m de altura, é tão raro quanto seu talento: diferentemente da grande maioria dos profissionais da ginástica artística, o paulista tem poucas lesões e cirurgias na carreira. O segredo, afirma, está na cabeça. Raro na técnica e na resistência, o pequeno ginasta equilibra-se, segundo ele mesmo, numa equação que exige 30% das habilidades físicas e outros 70% das psicológicas. Nesses 70%, conta o ginasta, concentra um grande detalhe: não se abalar com pressão de se manter entre os melhores. "Se manter no topo é mais difícil do que chegar. A cobrança é maior das pessoas, mas também a minha. Hoje posso falar que eu treino ainda mais", ele afirma. Com os pés no chão, o atleta corta o clima de "já ganhou". "O que eu posso prometer é dar o meu melhor", diz. "E todos os dias, quando eu vou ao ginásio, eu busco ser melhor que o dia anterior, eu faço o meu máximo em cada treino, faço o meu máximo para conseguir chegar na competição fazer o meu melhor e conseguir dar um bom resultado", diz. "Todo mundo tem esperança de medalha para o Brasil e eu tenho um resultado para defender, que é o bicampeonato olímpico nas argolas." Quem está ao seu redor não esconde que o foco do atleta está 200% na competição e que, mais do que nunca, ele está preparado para o pódio — mais uma vez. Zanetti frisa que este ouro não virá fácil, mas o menino pequeno que aparecia como promessa no esporte anos atrás, se tornou o "homem a ser batido", o cara que, apesar da pouca altura, costuma olhar seus adversário de cima. Seja do alto das argolas ou da posição mais alta do pódio.
Foto: Osvaldo Felisbino