​Como comprar uma casa sendo jovem e fodido
Ilustração: Juliana Lucato/VICE

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​Como comprar uma casa sendo jovem e fodido

Quando os 20 anos batem na bunda, tá tudo certo. Mas aí os 30 vão chegando e você pensa: será que eu preciso comprar uma casa?

Sair da casa dos pais é uma mistura de treta com deleite. A liberdade é tentadora, mas o medo de não conseguir pagar as contas em dia e gastar tudo com bebida e comida gordurosa quando você só tem merda e vento na cabeça é um perigo que mora ao lado. Quando os 20 anos batem na bunda, não dá mais pra esperar. Bem ou mal, você provavelmente já tem um empreguinho que dá pro gasto, e é nessa hora que o maior peso da vida adulta aparece: o aluguel.

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Caminhando para os 30, a vida vai se ajeitando (ou não). E, se você não tiver um dos elementos da tríade da vida adulta (carro, casa e filhos), pode parecer que algo está errado. Mas nem está. Andar de busão é uma merda, mas beleza. Crianças podem ser incríveis, embora elas também possam atrapalhar alguns planos. Comprar casa, então, fora de cogitação – principalmente quando os jornais martelam todos os dias que o Brasil está em crise. Porém, ao pesar os acontecimentos na balança da vida e ver o seu extrato bancário degringolar, sempre fica a dúvida: por que não comprar uma casa em vez de pagar aluguel a vida toda? Por que não ter uma vida tão boa quanto aparenta ter o cara que é dono do apê o qual você habita? Por que não parar de desperdiçar a maior parte daquela suada rendinha mensal adquirida através de muitas tretas laborais?

"Isso, antes de mais nada, é uma decisão de cunho pessoal que está relacionada a cultura, modelo de vida e jeito da pessoa. Pra maioria, ter a casa própria é algo importante", acredita Fabio Gallo Garcia, professor de finanças da FGV-SP e da PUC-SP.

A real é que é muito difícil alguém pensar: "Tô muito bem de vida e meu dinheiro está sobrando. Vou comprar um apartamento". A grande questão é: você quer pagar aluguel pra sempre? É melhor tirar a bunda da cadeira agora e ir atrás disso ou deixar pros próximos anos?

Dizem por aí que os millenials (pessoas nascidas entre as décadas de 80 e 90) não se amarram muito. Mas… e se? E se, depois de realizar o sonho do aluguel próprio (com muito custo, sabemos), chegou a hora de dizer sim para a casa própria?

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Por onde começar? O que fazer? Como agir? Fizemos aqui um compiladão alto-astral (mentira – nada que envolva finanças é alto-astral) pra você, portador dos 20 e poucos anos, sair do aluguel e comprar o seu próprio lar independente do seu salário. Conversamos também com especialistas que manjam tudo de organização pessoal, cálculos e mercado imobiliário pra facilitar as burocracias malas que envolvem o trâmite habitacional.

ESCOLHENDO A ÁREA
É muito legal pensar num bairro em que você pode voltar pra casa bebaraço a pé, sem ter de gastar dinheiro com táxi ou esperar o busão passar às 4h30 da manhã. No entanto, eis a primeira cruel lei da vida imobiliária: os lugares mais legais provavelmente são os mais caros. Para a corretora Marília Acerbi, pode parecer papo de tiozão, mas é indispensável pensar na segurança. "Hoje em dia, é muito importante levar em consideração a segurança do bairro. Índices de roubo, de morte", explica. Na hora de escolher sua vizinhança, pese todos os itens possíveis: facilidade no transporte coletivo, comércio nas redondezas, etc. Outro lance que é importante: você realmente curte esse lugar?

QUANTO VOCÊ PODE PAGAR?
Aqui o bicho pega. A não ser que seus pais sejam ricos e queiram pagar o seu imóvel à vista, você irá precisar entrar num financiamento. Ao comprar uma casa e adotar a vida das eternas prestações, é importante liquidar uma parte inicial, ou seja, dar uma entrada. A maioria das compras de imóveis funciona assim e essa é a maior dificuldade pra todo mundo. Há quem venda o carro e rape as economias da poupança. Isso ajuda. A terceira opção é pedir um salve pra quem te jogou no mundo (se eles tiverem grana). Quem não tem nenhuma das três opções, pode e deve recorrer ao resgate de FGTS (Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço), tributo pago pelo seu empregador que corresponde a 8% do seu salário bruto. Isso tudo caso você trabalhe ou tenha trabalhado por um tempo em regime de CLT, ou seja, carteira assinada. Então, significa que a ideia de usá-lo pra dar entrada em uma casa é joia. Pelo site do governo, você consegue checar seu saldo.

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Para quem não possui vínculos empregatícios ou trabalha como Pessoa Jurídica (PJ), é um pouco mais complicado. Fabio, o professor especialista, dá a letra: "Se você não tem fundo de garantia, é PJ, paga aluguel e não tem dinheiro de entrada, só tem um jeito, meu caro: poupar. E, quanto mais cedo você começar, mais fácil será a equação". Ainda que tirar as teias de aranha da sua poupança no banco seja um terror, tente. "Guardar dinheiro é chato, é um ato de sacrifício. É a mesma coisa que fazer regime e ginástica."

A analista de suporte Thalita Barros acaba de comprar um apartamento ainda em construção na Vila Prudente, zona leste de São Paulo. O financiamento começará a ser cobrado em julho de 2016, e a parcela inicial será em torno de R$ 1.500. Por enquanto, ela pratica essa tremenda dificuldade chamada "guardar grana". "Tenho medo de não dar conta", fala. "Todo dinheiro extra que entra, vai pra poupança. Só como fora no início do mês, quando cai o vale-refeição."

Especialistas dizem que o ideal é que a parcela corresponda a 20% da sua renda mensal. Mas é sempre difícil conectar a realidade com papo de especialista. Fabio acredita que o importante é se comprometer com o quanto você realmente pode pagar, mesmo que isso lime algumas noitadas de curtição e ostentação da sua agendinha de jovem inconsequente e bebum. Supondo que você ganhe R$ 2.500, um pouco mais que dois salários mínimos, o ideal é que a parcela do seu financiamento seja R$ 500. Isso tudo depende muito do valor do imóvel e do tempo que você irá levar pagando (sem contar o valor dado de entrada, que é essencial). Não se assuste, mas as pessoas costumam financiar casas em até 35 anos. Sim, é uma vida.

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Ilustração: Juliana Lucato/VICE

ESCOLHENDO A CASA NOVA
Com os valores em mente, você pode começar a procurar seu novo lar. A internet é ótima e funciona muito bem pra isso, só que nada se compara a entrar em contato com um corretor e pedir que ele te ajude com a busca. Explique sobre o quanto pode pagar e, caso ele insista o tempo todo em valores que fogem do seu orçamento, corra para as colinas e escolha outra pessoa. Para a corretora Marília, o profissional precisa ficar de olho em tudo, principalmente se o imóvel não é novo. "É preciso checar se foi reformado ou não, se mexeram na fiação, se já teve vazamento", alerta.

Visitar apartamentos e casas é bem legal, embora você tenha de conciliar com o horário do trampo. Pense no que você realmente precisa. Um ou dois quartos, vaga na garagem, varanda, quintal. Tudo custa. Tudo. Se você quiser apartamento, fique de olho no lance da área comum. Provavelmente, quanto mais opções ele tiver, como churrasqueira, piscina e academia, mais alto será o condomínio.

Lembre-se também de que o condomínio do prédio irá aumentar de acordo com as necessidades do edifício, como inadimplência de outros condôminos e necessidade de manutenção. Se você atrasar o pagamento, ficará sujeito a uma multa de 1% até 2% sobre o débito. Quem não paga o condomínio em dia fode os amiguinhos. Ou seja, o síndico pode requisitar um rateio entre os moradores. É importante escolher um imóvel cujo valor de tal despesa caiba no seu bolso. Sempre considerando que, com o passar dos anos, ele irá aumentar. Você não quer foder seus vizinhos e nem quer que eles te fodam, né? Então, pague essa bagaça em dia.

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INDO AO BANCO PARA RESOLVER AS TRETAS
Imóvel escolhido. Você não tem dinheiro. Isso significa que você precisa de crédito. Quem tem essas paradas é aquele lugar lá, o banco. Papo sério: um bom primeiro passo é dar uma olhada nos simuladores online de financiamento. Jogue no Google "simulador financiamento imobiliário + nome do banco" e você poderá ter uma noção de quanto eles irão te cobrar de juros. Se você conhece alguém que manje de economia e contabilidade, é sempre legal pedir uma ajuda.

No simulador, insira o valor do imóvel, a cidade e o Estado no qual ele se encontra, sua data de nascimento, sua renda familiar bruta – e voilá! Juros. Agora começa a parte burocrática. Quando você escolher a instituição bancária que te enfie menos a faca, é só começar a separar as mil papeladas para pedir a aprovação de crédito. Isso não é rápido. Na verdade, é um puta saco. Cada hora o banco vai te pedir um negócio novo. Comprovante de renda, extrato bancário, cor da calcinha. Um inferno. Necessário.

O grande lance agora é analisar os juros e entender o que é melhor pra você: pagar uma parcela maior em menos tempo ou pagar uma parcela menor em mais tempo. O lance é: as parcelas são decrescentes. Ou seja: você começa pagando R$ 1.000 (é só um exemplo) e termina pagando R$ 200 ao mês. Parece mágica.

Outro ponto importante é: você tem a possibilidade de quitar valores quando quiser. Por exemplo: entrou o dinheiro de um frila ou do 13º salário? Quite parte das dívidas com o banco. Isso dá um alívio enorme no saldo devedor e diminui o tempo de pagamento. Muita gente quita o financiamento imobiliário bem antes do tempo por causa desses paranauês.

É essencial que o valor do apartamento corresponda à sua renda mensal. Então, não viaje no valor. O gerente do banco poderá te orientar quanto a isso. Caso você resolva comprar o imóvel com outra pessoa, tipo namorada/o, a renda fica maior e as chances de aprovação aumentam.

CRÉDITO APROVADO
Pronto. Você é um adulto. Parabéns. Você terá uma casa e uma dívida por muitos anos. Só que agora a porra é toda sua.

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