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Música

Marcio S e Cezar Dantas Dão o Tom da Cena Manauara no Próximo Boiler Room Brasil

Conversamos com os DJs que encabeçam a ótima cena de música eletrônica de Manaus. A cidade recebe nesta quarta o histórico Underground Resistance.

A Copa passou, levou os gringos embora e provavelmente você, assim como eles, não manja muito do que acontece na cena de música eletrônica de Manaus. Pois devia. Só pra ficar nas burocracias: além de ter um sindicato de DJs atuante na regulamentação federal da profissão, a cidade é a única do país a ter o Dia Municipal do DJ – 9 de março, marca na agenda.

Mas o papo aqui não é só papelada não, por que no final das contas o que todo mundo curte é cair na pista. E quando chegamos aí basta dizer que Manaus é sede do Seven Music Festival, maior festival de música eletrônica da região norte, e tem clubes no circuito de DJs tarimbados na gringa, como Serge Devant e Alex From Tokyo. O Underground Resistance (que entrevistamos na semana passada) entra nessa lista nesta quarta (24), quando cola no abafo manauara para mais uma transmissão do Boiler Room Brasil em parceria com a Skol Beats.

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Quem divide as pick-ups com o UR são os DJs Marcio S e Cezar Dantas. Um é fruto de São Paulo e adotou Manaus como segunda casa. O outro é fruto manaura e adotou o groove como segunda casa. Os dois são fritos do house e do techno e não escondem as raízes distantes com faixas retas, embora repletas de nuances e viradas com vocais fragmentados.

Conversamos com os caras e perguntamos sobre a relação deles com a cidade, qual a opinião sobre a cena musical na capital amazônica, quais as diferenças em comparação a Belém do Pará, deep house e, obviamente, o que eles estão pensando em tocar no próximo Boiler Room. Spoiler: não é jungle.

Marcio, você não é de Manaus, certo? Como a cidade entrou na sua história?
Marcio: Sou paulistano e tenho 36 anos. Nos últimos três anos me divido entre Manaus e São Paulo, 15 dias em cada cidade. Estive minha primeira vez em Manaus para tocar em uma tenda de novos talentos no festival Ecosystem, em 2002, mas essa tenda não funcionou e o produtor do evento perguntou o que eu tocava. Eu disse: "Do house ao techno." Ele me apontou a tenda desses estilos e falou para eu procurar um cara chamado Cezar Dantas. "Tenta a sorte!" Fui com dois cases de discos pesados pra caralho e falei com o tal do Cezar. Ele me olhou, riu e falou meio bravo: "Guenta aí! Se faltar alguém você toca." Três horas depois ele me chamou dizendo que eu tinha meia hora pra tocar às 6h da manhã. Toquei com a caixa do retorno estourada, mas a pista correspondeu e no final ele me convidou para abrir a pista no outro dia. Sou eternamente grato pela oportunidade. Depois disso nasceu uma amizade que já dura 12 anos. Voltei à cidade pra tocar várias vezes em locais diferentes e a partir de 2009 fui convidado a ser DJ residente da SevenClub. Pouco tempo depois me tornei diretor artístico da Seven Entertainment.

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Cezar: Eu tenho 45 anos e nasci aqui!

E Manaus influencia a música que você toca? Existe um encontro entre suas produções e o que rola nas ruas, nas periferias ou alguma manifestação da floresta?
Marcio: Manaus, como qualquer grande cidade, tem sossego e caos. Isso de certa forma influencia a música que eu toco. Você está muito perto da natureza que traz tranquilidade e em dez minutos de carro já está na cidade com todo o barulho possível. Tento balancear essa mistura e colocá-las nos meus sets ou produções.

O norte do Brasil é muito grande, mas a tendência em outros estados é encarar essa região como uma coisa só. Em quais aspectos a cena eletrônica manauara se diferencia da cena eletrônica de Belém, uma das mais relevantes nessa década?
Marcio: Não conheço muito bem a cena de Belém, mas sei que tem boas festas e clubes também. Talvez a maior diferença tenha sido o crescimento da Seven Entertainment nos últimos cinco anos. A gente investiu e acreditou na consolidação do mercado no norte do país através dos nossos eventos. Nos últimos três anos realizamos o Seven Music Festival e reunimos grandes artistas de diferentes vertentes. Isso, de certa forma, colocou Manaus no circuito.

Há mais ou menos um ano o presidente do Sindicato dos DJs e Operadores de Cabine de Som do Amazonas (Sindecs-AM) afirmou que Manaus sofria com falta de clubes e casas estruturadas para a música eletrônica, principalmente se comparado há algumas décadas atrás. Vocês também pensam assim?  
Marcio: Isto é uma realidade do Brasil inteiro. Temos menos clubes hoje em comparação a décadas passadas. Abrir e sustentar um clube demanda paciência e competência. Tem que ter planejamento. A longo prazo certamente vem a recompensa pelo esforço.

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Cezar: Não penso assim. Manaus sempre teve um movimento voltado pra música eletrônica e isso nunca parou. Tivemos altos e baixos e agora estamos retomando a cultura de clubes pela cidade. Sempre tivemos festas a céu aberto e isso nunca parou. Essa é a real. Temos produtoras acreditando no potencial da cidade.

Qual a importância do Sub e do Seven nessa história (que pode ser até uma retomada desse momento passado)?
Marcio: Como disse, a Seven colocou o norte do país na rota dos grandes artistas através do nosso festival. Isso aquece o mercado, atrai aventureiros. Nosso trabalho é a longo prazo. Nosso público sabe disso. O SUB completará um ano em setembro. Ela veio para atender o público do undrerground. É um clube pequeno, para 180 pessoas, que tem um soundsystem forte, luz na medida certa e sempre um line-up muito bem escolhido. A cidade sabe que tem seu clubinho às sextas. A melhor resposta dada pra gente vem dos artistas que já tocaram aqui. Todos querem voltar. A energia que a pista passa é incrível. O DJ entra e já sente a pegada do lugar.

Cezar: A importância do Seven passa pela Seven Enterteinment. Desde seu primeiro momento, a produtora veio para fazer história na cidade e no norte do país. Sempre estamos apresentando o novo. Essa foi e será sempre nossa maior preocupação com o público da cidade. O SUB é sem dúvidas um difusor. O clube apresenta o que está acontecendo na música eletrônica pelo mundo, ele é voltado para um público que busca essa música.

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As faixas de vocês são bem four on the floor ao mesmo tempo que não são retas: tem nuances, profundidades e glitches. Hoje em dia todo mundo fala que isso é deep house. E aí, é isso mesmo?
Marcio: Não. Esse lance de estilo é complicado porque música eletrônica sempre foi a mistura de tudo. Seja qual for a vertente, o som hoje é híbrido. O que vale pra mim é o filtro DJ bom, pista boa; DJ ruim, pista ruim.

Cezar: Tem uma confusão com relação subgêneros musicais. Conheço poucos produtores e DJs que fazem deep house mesmo. Acredito que tem muitos DJs tocando house e renomeando como deep house, mas não é nosso caso.

Qual a ideia do set que vocês estão preparando pra Boiler Room? Vai ser um back to back? Vão de faixas próprias, apostar em uma sequência certeira, tentar algo mais undergroud – pra rapazeada não encontrar quando ligar o Shazam -- ou tudo isso junto?
Marcio: Vou tocar do house ao techno. Vão ter várias e ótimas produções de amigos brasileiros e algumas gringas. Tocaremos separadamente e o Shazam só vai funcionar em alguns momentos!

Cezar: É, não será um b2b dessa vez. Vou na pegada de costume: do house ao techno! Vão ter algumas faixas exclusivas de produtores amigos que ainda nem foram lançadas. Bem, o Shazam tem suas vantagens porque ele informa o público o artista e o nome da músicas. Nosso objetivo também é esse.

Vocês pretendem fazer algo com os caras do Underground Resistance? Pelo menos pensaram nessa hipótese?
Marcio: Eu pensei. Temos um estúdio aqui e, se os caras se animarem, de repente saem uns beats.

Cezar: Sim, seria incrível abrir para eles com um loop ou finalizar uma faixa inteira.

Felipe Maia fica cabreiro quando não encontra uma música no SoulSeek e de vez em quando ele reclama no Twitter: @felipemaia.

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