Pense rápido: quantos casos de machismo em bares/baladas que aconteceram nos últimos meses você consegue se lembrar? O que me vêm à mente mais rápido é o caso Quitandinha, um bar na Vila Madalena, em São Paulo, que foi palco de assédio sofrido por duas garotas. Num post de Facebook, Julia Velo relatou o ocorrido e sua postagem teve mais de 140 mil curtidas e 40 mil compartilhamentos, além de provocar um multirão de avaliações negativas na página do bar.
Pensando na violência sofrida por essas e tantas outras mulheres, o blog colaborativo Eu, Tu, Elas criou um guia de denúncias de casos de machismo em bares e baladas do Brasil todo. A Helô D'Angelo, 21, estudante de jornalismo que idealizou o rolê, foi impulsionada justamente pelo ocorrido no Quitandinha: "Fiquei seguindo o caso pra ver se ia rolar algum tipo de boicote ou se eles iam se ferrar de algum jeito e, surpresa nenhuma, nada aconteceu."
Esse e tantos outros casos acabam sem maiores consequências. Outro exemplo do descaso, por exemplo, se deu com o suposto estupro ocorrido no Beco 203, em maio de 2015. Ambas as casas negaram os casos de assédio e abuso em posts no Facebook. O Quitandinha, por sua vez, se resumiu a dizer que "nunca houve essa situação no bar, estranhamos o que foi relatado pois o bar não compactua com isso" — enfurecendo ainda mais alguns internautas, o que pode ser visto nos mais de cinco mil comentários do post de "retratação". Apesar de todo o bafafá, nenhuma outra providência foi tomada pelo Quitandinha, e, enquanto isso, uma noite de balada e bebedeira se torna cada vez mais perigosa pras mulheres.

"Acabamos de mãos atadas. O máximo que a gente consegue fazer é influenciar alguns amigos para que eles não colem mais naquele lugar. Foi aí que surgiu a ideia: e se eu expandisse a lista de amigos de cada mulher que falasse mal de determinado bar?", explica Helô.
O guia é bem básico: você preenche um formulário disponível no blog das minas relatando o caso de assédio, a data em que aconteceu, o nome e endereço da casa e a reação do estabelecimento caso você tenha feito alguma queixa. Elas pedem também pra que você forneça um e-mail, para "diminuir o número de caras babacas que dão respostas falsas ao formulário". As denúncias são anônimas e todas as respostas são registradas diretamente na planilha, que, por motivos de segurança, também não é aberta para que todos possam editá-la.
O arquivo ainda tem poucas colaborações, a maioria de São Paulo, mas já conta com algumas casas que se destacam no número de queixas. O próprio Beco 203 e a boate Astronete, também na Rua Augusta, contam com duas denúncias cada; já a franquia de baladas sertanejas Wood's (que tem casas em Porto Alegre, São Paulo e Goiânia) possui quatro denúncias ocorridas em diferentes unidades.
Estamos restringindo a nossa liberdade por causa de abuso. Mas é para que os bares e baladas percebam, também, a violência pela qual eles nos fazem passar sempre.
Para Helô, a ideia do guia é não apenas proteger as minas, mas também incentivar o boicote aos lugares que não prestam assistência aos casos de machismo. "O que é uma merda, se você for pensar que estamos restringindo a nossa liberdade por causa de abuso. Mas é para que os bares e baladas percebam, também, a violência pela qual eles nos fazem passar sempre", conclui.
Mais do que isso, a iniciativa dessas minas é importante pra que esses espaços entendam o quão relevante é o posicionamento deles frente às situações de assédio e abuso que as mulheres experienciam ali — sacando que, não apenas a reputação deles, mas a segurança das minas que frequentam aquele bar ou balada está em risco.
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