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Viagens

O desporto rei da terceira idade japonesa

Importa dizer que no Japão se vendem mais fraldas para idosos do que para crianças.

Podia voltar a escrever sobre as maravilhas do LSD no Japão.

Também podia escrever sobre as sex shops com 5 andares que visitei. Ou sobre os cafés "maid" onde meninas se vestem como "maids" francesas, de mini-saias curtas e curtidas, meias até ao joelho e orelhas de coelho na cabeça, tratando por "master" os tarados que aí pagam 20 dólares por um batido de morango.

Podia escrever sobre as cuecas usadas que vi à venda, restos de unhas (restos de unhas!), ou ainda sobre as damas de aluguer que servem mais para encher o ego do que para esvaziar os tomates.

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Também podia escrever sobre o show das framboesas, um restaurante onde frutos vermelhos são dados a meninas para elas depois evacuarem bem encarnado à frente dos clientes. Ou melhor: cagarem por cima (e não em cima) deles, no andar superior, cujo chão é transparente.

Há muita coisa estranha em Tóquio, e ser pobre nunca foi melhor notícia: quem não tem dinheiro não tem vícios, de maneira que tais excentricidades ficam para os empresários japoneses com as suas pilas raquíticas, e não para mim, com o meu passaporte de puro lusitano.

O que vos trago agora é mais inocente mas também hilariante. Afinal, as coisas não têm que ser todas maradas para cativar o interesse, provocar o riso e merecer vénias de admiração.

Estava em Kannami, a uns 100 quilómetros da capital, a dar voltas de bicicleta, quando me deparei com isto.

Fotografia cedidas pelo autor.

O jogo chama-se Gate Ball, e é praticado por muitas velhinhas em zonas rurais do Japão. Importa dizer que hoje em dia os japoneses praticamente não fazem filhos e a working class está toda pelas cidades, a trabalhar tanto que nem tem tempo para se reproduzir. Importa dizer que no Japão se vendem mais fraldas para idosos do que para crianças, e importa dizer que as áreas campestres parecem lares de terceira idade gone wild, onde os velhotes se divertem como nós não conseguimos divertir-nos sem álcool ou outras drogas.

E se continuarmos assim, dificilmente chegaremos a estas idades. E sim, elas desmanchavam-se a rir quando falhavam. Sim, também gozavam com as menos habilidosas, que talvez sejam detentoras da proeza de não acertar uma há mais de vinte anos.

Fotografia cedida pelo autor.

Sim sim, aquilo são tacos e não bengalas nas suas mãos. E sim, mesmo tremelicando com Parkinson muitas delas jogavam com precisão cirúrgica, e sim, elas iam apontando os resultados numa folhinha de papel, não vá alguma fazer batota e desculpar-se com o Alzheimer, para depois se instalar a rebaldaria total e as dentaduras de umas ficarem cravadas nas rugas de outras.

Por isso, não se esqueçam: bebam chá, comam muitos vegetais, gengibre e tofu. Façam exercício e alongamentos, droguem-se só quando tiver de ser, bebam água e álcool em partes iguais, e talvez um dia cheguem aos calcanhares destes mulherões.