Abril continua vivo

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Abril continua vivo

O país é que nem por isso.

Abril continua vivo e recomenda-se. O último mês tem disso sido exemplo. Conferências, documentários, filmes, séries, debates, manifestações, marchas, lançamento de livros, polémica aqui e ali, de todas as formas possíveis e imaginárias, a data tem sido lembrada e relembrada e ainda bem.

No dia 24, vários movimentos sociais (uns mais espontâneos que outros) decidiram aderir à convocação do evento “Todos os rios vão dar ao Carmo”. Ao todo foram cerca de 30 rios que convocaram nas redes sociais para o Largo do Carmo às 21 horas. Mas, infelizmente, os rios eram riachos e o Largo do Carmo encheu mas não ao ponto de se lhe poder chamar um mar (dificilmente alguém esperaria tanto). Desta vez a culpa nem foi dos movimentos sociais ou dos seus intervenientes que se desdobraram em convocatórias. Houve algumas palavras de ordem, alguns panfletos e tarjas (o PAN a apelar à ética na política e outros que querem convencer que a malta que votar é um desperdício e que a democracia directa é que é). Como se imagina, nada de surpreendente aconteceu.

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Alguém achou que lançar petardos era comemorar à séria e a meia-noite deu lugar a pirotecnia e efeitos vários. As muitas pessoas mais velhas começaram a retirar-se e quem se aguentou por lá ficou em conversa a beber um copo (sim, mais ou menos como qualquer véspera de feriado) ou curtir uns batuques com a máscara do Salgueiro Maia — há quem diga que é divertido mas é só chato.

De manhã a situação foi bastante diferente. Os capitães de Abril foram impedidos de discursar na Assembleia da República e, assim, o Largo do Carmo transformou-se num enorme comício dos militares de '74. Para aqueles que não chegaram a horas, a praça tornou-se inacessível. Ainda assim, o discurso de Vasco Lourenço foi perfeitamente audível e galvanizador da multidão. Aqueles que se encavalitavam lá atrás, na Travessa do Carmo, puderam ouvir que “é preciso apear este Governo” e que “não somos sub-europeus”. Foi bom ouvir isto publicamente de alguém que não se chama Raquel Varela.

À saída, com um chaimite à frente e o Vasco Lourenço atrás, os populares foram gritando palavras de ordem, pedindo ao militar autógrafos, selfies e agradecendo-lhe a revolução. A viagem foi longa mas acabou em frente à antiga sede da PIDE.