Como é que o Brexit pode dar cabo dos festivais e da cultura em geral
Imagem principal: Festival Dimensions (Foto por Dan Medhurst)

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Como é que o Brexit pode dar cabo dos festivais e da cultura em geral

Com o debate a chegar ao fim, a VICE falou com artistas e promotores britânicos para nos falarem sobre os seus medos, caso o Reino Unido abandone a União Europeia.
MW
London, GB

Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.

À medida que o Referendo britânico sobre a permanência na União Europeia se aproxima, têm crescido as preocupações relativas ao impacto do Brexit na cena cultural do Reino Unido. Em Maio, mais de 250 actores, artistas, músicos e escritores escreveram uma carta aberta a avisar que "o nosso sucesso criativo a nível global seria severamente enfraquecido com a saída da Europa".

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No início deste mês, uma sondagem levada a cabo pela Indústria Fonográfica Britânica revelou que 78 por cento das editoras discográficas queriam permanecer na União Europeia.

Nos últimos dias, organizações como o Boiler Room, a NTS Radio e o Dimensions Festival têm apelado aos fãs para marcarem a sua posição nas urnas no dia 23 de Junho. Com o debate a chegar ao fim, a VICE falou com artistas e promotores para discutir os seus medos caso o Brexit ganhe.

Gabriel Szatan, editor-chefe, Boiler Room

A vida nocturna no Reino Unido já está a sofrer quanto baste de momento, por isso uma saída dificilmente poderia fazer algum bem. Em Londres talvez não se notasse tanto, simplesmente por ser um centro de actividade gigantesco. Mas se as coisas apertarem em termos de entrada de gente e burocracias para pedidos de vistos, por exemplo, é algo que definitivamente pode comprometer espectáculos em cidades mais periféricas.

Neste momento estamos numa boa fase, em que podes ter Jeremy Underground, Gerd Janson e Mister Saturday Night todos na mesma noite em Nottingham, ou em Hunee, ou podes ter Tama Sumo a tocar em Cambridge. Nem sempre foi assim, mas isto pode facilmente desaparecer se tocar no Reino Unido exigir nem que seja um mínimo esforço a mais nas questões de planeamento de digressões.

No que diz respeiro à ida de DJs britânicos ao estrangeiro, quem sabe. Duvido que tenhamos um bloqueio cultural, mas é provável que venha a existir uma diminuição do interesse dos promotores europeus que não vão querer estar sempre a chatear-se com burocracias.

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Laurent Quénelle, primeiro violino e vice-presidente da London Symphony Orchestra

Estou no Reino Unido há 26 anos. Sinto-me completamente integrado. A minha mulher é canadiana e temos um bebé. Acabámos de nos aperceber que toda a nossa situação está em perigo e, na verdade, estou assustado. Estamos a rezar para que não aconteça.

É a minha carreira. Sou violinista há 40 anos. Estou na London Sympohny Orchestra há 20 anos. Mudar de carreira com a minha idade? A minha mulher está na English National Opera e isto significaria uma mudança de vida gigantesca. Acho que as pessoas ainda não se aperceberam que há uma quantidade enorme de estrangeiros no mundo artístico local. É o que faz com que a Europa seja tão rica.

No que respeita à London Symphony Orchestra, há relações que poderiam ser afectadas a longo prazo. Não sabemos como vamos poder trabalhar, onde vamos conseguir os nossos vistos, quanto vai custar. Não temos ideia de como os outros países vão reagir. Demorámos anos a construir estas relações e colocar isto em causa é ridículo.

Moxie, DJ e locutora, NTS Radio

Só o facto de se poder viajar e conhecer gente de diferentes países europeus… se deixarmos de fazer parte disso, vai ser muito complicado para os DJs e músicos mais jovens. Ter de estar sempre a pedir vistos? Há gente que viaja quatro vezes por semana. Tornaria a vida muito mais complicada.

Veja-se a quantidade de DJs magnificos que viajam para cá. Podem vir sem qualquer visto e tocar num evento que causa impacto em outros jovens que aspiram a uma carreira. A nível cultural, estar ligado ao resto da Europa é muito importante.

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Se é uma coisa que vai ter impacto em ti, tens de assumir a responsabilidade e ir votar. Se não fores votar é difícil que defendas depois uma opinião, porque vai ter efeito em toda a gente.

Joe Barnett, fundador dos festivais Outlook e Dimensions

Acredito piamente que, numa perspectiva social, devemos permanecer na União Europeia. O que tentamos representar na nossa marca é a unidade. É essa a força motriz por trás do nosso apoio à campanha pela permanência. Não estamos a discutir apenas os aspectos positivos e negativos da UE, mas sim o impacto de sairmos.

Assumirmos uma acção activa no sentido de nos afastarmos da coesão é uma coisa perigosa tendo em conta até o clima político em que vivemos.

As implicações sociais da campanha pela saída entristecem-me. As celebrações da mistura cultural, que temos a sorte de conseguir organizar, são eventos fantásticos e a UE é, em parte, responsável por isso.

Lindsey Dear, directora da Companhia Akram Khan

(Foto por Jean Louis Fernandez)

Estamos preocupados com o que possa acontecer - nomeadamente em relação a vistos, às alterações nas leis da imigração e como isso pode afectar os artistas. Trabalhamos muito internacionalmente e fazemos imensas digressões pela Europa. Temos pessoas na equipa, de outros países da UE, que decidiram mudar-se para Londres para trabalharem no mundo artístico. Pessoalmente, eles estão preocupados com o que significaria o Brexit e se vão poder ficar cá.

Não recebemos apoios directos da UE, no entanto, trabalhamos com inúmeras organizações que recebem. Trabalhamos com festivais de dança que recebem dinheiro comunitário. Trabalhamos com salas que são financiadas pela UE, ou foram construídas com o apoio da UE.

Há também a possibilidade de passar a existir um acesso limitado ao intercâmbio cultural. Se se tornar mais complicado ter trabalhos internacionais neste país, isso pode afectar a vida cultural rica e vibrante de que todos desfrutamos. Não apenas para a dança, mas para todo o espectro cultural. Não vejo nada de positivo na saída do Reino Unido da União Europeia.

@mark_wilding