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ceca

Os mouros vieram a Couros

E a coisa até nem correu muito mal.

Qual David Attenborough num dos seus especiais da National Geographic, Catarina Laranjeiro aventurou-se na selva da capital (a política) e fez um documentário sobre mouros. Aqueles que vivem na zona do arroz basmati com jaquinzinhos: a Mouraria. Aí, ela conheceu a Amália (não é a que canta), que a apresentou aos moradores e, sem eles saberem, foi às suas casas coscuvilhar os álbuns de fotos e filmá-los enquanto dormiam. Dito assim parece mau, mas não é. Para quem (ainda) não conhece a realizadora, nascida em Lordelo (Guimarães), ela é uma daquelas pessoas que gosta muito de estudar, não para ser médica ou arquitecta, mas para ter referências recônditas e rebuscadas de autores obscuros do panorama cinematográfico português. E isto é uma mais-valia no seu trabalho  e socialmente, porque pode ser a estrela das conversas com os amigos de Lordelo. Como artista do mundo, que passa temporadas aqui e ali, há muito tempo se apercebeu de que isto de ir estudar para estrangeiro e voltar no Verão tem o seu quê de status; e como “avec” que se preze, Catarina trouxe coisas para mostrar aos conterrâneos e fazer-lhes inveja. Por isso, esta semana, exibiu o seu filme Eu sou da Mouraria  que um dia será nomeado para os Óscares ,  no  “Isto é uma praça”, em Guimarães, onde antes se lavavam os couros e que agora é um espaço aberto a quem o quiser usar (basta marcar vez) do qual o Fernando falou há dias. A plateia estava compostinha e no final houve tempo para perguntas à realizadora, entre as quais a de uma senhora que começou a sua intervenção com: “Eu sou da Mouraria e esses são os meus vizinhos…” Quais são as possibilidades de projectares um filme, num espaço alternativo vimaranense, sobre os moradores da Mouraria e ter na plateia um deles? Em Espanha, diz-se: “El mundo es un pañuelo e nosotros somos los mocos” — que traduzido dá qualquer coisa como “O mundo é um lenço e nós somos as catotas”. Foi uma noite muito agradável de brisas quentes, cerveja e, em vez de falar da vida dos outros, vimos um documentário sobre a vida dos outros: aqueles que moram na Mouraria. Tentámos arranjar algumas declarações de amigos chegados da Catarina sobre o seu trabalho e  já em contexto social  perguntámos o que acharam da projecção, ao que eles responderam: “Já o tínhamos visto quando ela o mostrou em casa de um amigo, por isso não fomos…” Podem ver aqui um excerto do filme com a Amália, que “estava grávida e ainda não sabia”.