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Crédito: Wikimedia Commons

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Tecnologia

​Por dentro da luta da Uber contra os governos do mundo todo

Onde quer que passe, o aplicativo de transporte deixa um rastro de confrontos com as autoridades locais. Em 2017, as tretas serão definidoras.

O Uber está a caminho de dominar o mundo. A ex-startup americana está em 563 cidades em 81 países. Talvez seja a companhia de tecnologia mais bem sucedida dos últimos anos. É também a que mais tem arranjado confusão por onde passa. Se há Uber, há algum tipo de polêmica. E, frequentemente, a disputa acaba indo parar nas mãos das autoridades locais, que não têm dado moleza para o aplicativo de transporte (sem falar nos taxistas, mas isso fica para outra ocasião). Abaixo, citamos os maiores empecilhos para a empresa conseguir completar sua atuação dominadora no planeta.

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No Rio, a querela é forte

Em novembro do ano passado, o Rio de Janeiro proibiu o uso do aplicativo na cidade. O então prefeito Eduardo Paes (PMDB) sancionou o projeto criado pela Câmara tornando ilegal o serviço de "caronas". Mas a empresa conseguiu uma liminar (artifício usado em diversas cidades do país, incluindo São Paulo) para que o serviço não fosse interrompido. E assim continua a situação na sede das Olimpíadas de 2016. Marcelo Crivella, o novo prefeito, prometeu que vai regulamentar o Uber em sua campanha, mas não deixou claro o que isso significará. Até agora, o novo comandante carioca não falou sobre o assunto.

Tretas trabalhistas nos EUA e no Reino Unido

O termo "gig economy" tem se tornado popular e o Uber certamente se aproveita disso para vender a ideia de que os motoristas cadastrados em seu aplicativo podem "trabalhar quando quiserem". Isso também significa que a companhia americana lava suas mãos no que diz respeito a direitos trabalhistas. Pelo menos dois países não concordam com essa avaliação. No Reino Unido, 19 motoristas estão processando o Uber em busca de serem reconhecidos como empregados, não como usuários. Em sua defesa, a empresa alega que apenas conecta passageiros e prestadores de serviço e que não tem responsabilidades trabalhistas. Na Califórnia e em Massachussetts, nos EUA, o Uber fez um acordo com a justiça e indenizou 385 mil motoristas em US$ 100 milhões. No entanto, o app não será obrigado a reconhecer os trabalhadores como empregados; em troca, comprometeu-se a ser mais transparente a respeito do funcionamento das avaliações dos usuários, das tarifas e dos critérios usados para barrar os prestadores de serviços. Há disputas similares nas cidades de Nova York e Austin, também nos EUA.

Passageiros cada vez mais putos com a espionagem dinâmica

Em 2015, o passageiro Spencer Meyer entrou com um processo em Nova York acusando o Uber de manipular o "preço dinâmico" em prejuízo dos consumidores. Mas a acusação foi o menor dos problemas enfrentadas pelos réus. O juiz Jed Rakoff repreendeu a empresa por tentar desqualificar Meyer usando informações levantadas por meio de uma firma de investigação chamada Ergo. Ela foi criada por ex-diretor de contraterrorismo do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca. Rakoff qualificou a intenção de desqualificar o autor do processo de "conduta perturbadora" e recusou-se a anexar o material obtido ao processo.

O Uber baratinho não tem espaço na Europa

A Itália foi mais radical e resolveu banir o aplicativo. Ou quase. O país se livrou da dor de cabeça e decidiu que não há lugar em suas ruas estreitas para o UberPop, a versão mais barata da corrida (o equivalente ao UberX no Brasil). Uma corte de Milão considerou que havia competição ilegal e injusta com os táxis. O UberBlack, porém, continua operando no país. O UberPop também foi considerado ilegal na Holanda e na Alemanha pelos mesmos motivos. Nos Países Baixos há uma investigação criminal contra a empresa, por causa da recusa de cumprir a ordem judicial.

Brigas com passageiros excluídos

Nos EUA, a Federação Nacional dos Cegos processou a empresa porque passageiros com cães-guia não puderam embarcar em corridas. O Uber se comprometeu a rever suas políticas voltadas aos deficientes visuais e a oferecer orientação aos motoristas para garantir que esses passageiros tenham direito a usar a plataforma sem sofrer discriminação. Além disso, prestadores de serviços que se recusarem a levar passageiros cegos com animais serão desligados automaticamente do aplicativo.

Política da paz? Dados para as cidades

Cansado de brigar com a justiça e os governos, a plataforma tentará uma abordagem usando "soft power" para ficar em termos melhores com as autoridades locais. A bandeira branca se chama Uber Movement. Trata-se de uma plataforma que fornece dados de tráfego capturado pelo aplicativo em tempo real. Por enquanto, apenas Manila (Filipinas), Sydney (Austrália) e Washington, DC foram contempladas, mas outras cidades estão nos planos. Com essa iniciativa, a empresa tenta mostrar que pode ser útil às cidades e, quem sabe, diminuir o número de conflitos ao oferecer algo que os administradores públicos podem usar para melhorar as políticas públicas.

Diogo Antonio Rodriguez é jornalista e editor do meexplica.com. Na coluna Motherboard Destrincha, ele resume os assuntos mais intrincados da ciência e da tecnologia. Siga-o no Twitter.