Por que uma startup quer pagar adolescentes por suas selfies?

Você adora dinheiro, pasta de dentes e a sua própria imagem no espelho? Parece que uma nova startup chamada Pay Your Selfie é a melhor pedida para seus interesses narcísicos, meu chapa.

A empresa com sede em Chicago, nos Estados Unidos, é construída com base numa rede de premissas que reforçam umas às outras:

1. Jovens adoram dinheiro.

2. Eles também adoram selfies.

3. Marcas também adoram jovens – mas só porque eles representam o setor mais valioso do mercado consumidor.

4. Jovens não gostam necessariamente de marcas, mas se uma marca decide dar dinheiro em troca de suas selfies, então talvez um belo relacionamento possa surgir daí.

Parece perfeito, mas, ainda assim, alguns aspectos do modelo de negócios da startup dão indícios de que ela favorece seus parceiros corporativos de maneira desproporcional. O que é apresentado como relação de igualdade entre jovens e marcas é, na verdade, um sacrifício da privacidade e dos dados pessoais dos usuários para empresas que deveriam pagar muito mais em troca de informações que usarão para obter lucro.

Embora a startup afirme que as pessoas receberão pagamento apropriado por suas selfies, usuários ganham muito pouco dinheiro com suas contribuições. Novas tarefas podem ter um valor de até US$ 1, e usuários só podem retirar seu dinheiro quando enviaram fotos suficientes para chegar a US$ 20. Se alguém tirasse cinco selfies por semana, precisaria de mais de um mês de selfies para conseguir receber o pagamento. E essa quantia não leva em conta o valor dos produtos que as pessoas podem ter precisado comprar para participar do desafio fotográfico.

A cobertura à nova startup na imprensa tem sido, em geral, aduladora. A revista digital Adweek afirmou que a empresa é útil porque te paga para "simplesmente fazer o que você já fazia o tempo todo". Uma reportagem do New York Times sugeriu que as configurações de privacidade ostensivamente cuidadosas do aplicativo permitem que os usuários sejam mais autênticos. E oYahoo Finance escreveu que o Pay Your Selfie "oferece aos usuários a oportunidade de ganhar dinheiro com seus hábitos de consumo."

O Pay Your Selfie não é uma plataforma privada. Na verdade, numa entrevista ao New York Times, o diretor de uma agência de publicidade sem afiliação com o aplicativo se referiu a ele como "voyeurismo automatizado".

De acordo com a seção de perguntas frequentesdo site da empresa, muitos desafios fotográficos exigem que o serviço de geolocalização esteja ativado para validar o local onde as pessoas estão tirando suas fotos, o que permite que as empresas vejam onde há maiores concentrações de consumidores ou quais são as lojas que as pessoas estão visitando para comprar seus produtos. Para os usuários, vale dizer, dados precisos de geolocalização podem deixá-los expostos a hackers mal-intencionados que são conhecidos por usar esse tipo de informação para coordenar ataques.

Um porta-voz da empresa me disse que os fundadores da Pay Your Selfie estão "muito conscientes dos riscos de segurança e tomam várias ações para aumentar a segurança".

O fato de que anunciantes buscam e analisam fotos para descobrir informações sobre consumidores não é tendência nova. De acordo com reportagem do Wall Street Journal, plataformas como o Pinterest, Flickr e Instagram são acessadas com frequência por pesquisadores de mercado que usam APIs para coletar informações sobre o comportamento de consumidores para marcas – uma prática que alguns especialistas em segurança consideram predatória.

A pesquisa de mercado de tradicional – na qual os participantes normalmente recebem algum pagamento – pode custar centenas de milhares de dólares para marcas. E com razão. Se uma empresa quer aprender mais sobre nós para poder vender ainda mais produtos, não deveria pagar por isso?

Quando perguntei sobre o valor que as marcas pagam por essas informações, me disseram que o Pay Your Selfie calcula os custos de campanha com base nos objetivos de marketing e informação de seus clientes.

A startup não ofereceu uma lista completa de marcas com as quais está trabalhando atualmente, mas revelou que os produtos Crest da Procter and Gamble, a Red Frog e a cervejaria Goose Island de Chicago são clientes.

Tradução: Danilo Venticinque