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Tecnologia

A Matemática Diz que Só Existem Quatro Tipos de Cidades no Mundo

Das 131 cidades analisadas, a excessão que comprova a regra é Buenos Aires.
A vista de Manhattan. Crédito: Jaroslav Thraumb

Ninguém imaginaria que Staten Island e a cidade síria de As-Suwayda tivessem muito em comum — mas segundo um novo estudo, os dois locais possuem uma mesma "identidade" urbana. A semelhança entre as duas cidades é apenas um dos estranhos pares municipais catalogados em um estudo recém-publicado no Journal of the Royal Society Interface.

Os autores do estudo concluíram que as 131 cidades analisadas matematicamente se encaixavam em quatro categorias de urbanismo: cidades formadas por blocos retangulares de tamanho médio, como Buenos Aires (a única cidade com essa característica); por pequenos blocos de diversos formatos, como Atenas; por blocos grandes e de formatos variados, como Nova Orleans; e finalmente, cidades compostas por um mosaico de pequenos quadrados, como a cidade de Mogadishu.

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"De certa forma, podemos dizer que essa classificação é para as cidades o que a zoologia é para os animais, ou a botânica para as plantas: uma forma de classificar objetos de estudo de acordo com suas semelhanças", afirma Marc Barthelemy, físico do Institut de Physique Théorique e co-autor do estudo.

"Da mesma forma que essas taxonomias possibilitaram a descoberta dos fatores por trás dessas semelhanças — em outras palavras, o DNA — acreditamos que as semelhanças entre duas regiões podem significar padrões de crescimento semelhantes", ele continuou.

Barthelemy e seu colega Rémi Louf coletaram dados de programas como o Open Street Map e o MapZen, inserindo essas informações em um programa que dividiu-as em quatro famílias principais. É claro que há uma diversidade significativa dentro de cada categoria, especialmente em cidades que preservaram bairros históricos e outros distritos culturalmente significantes.

Para exemplificar a variação urbana existente dentro de uma só cidade, Barthelemy e Louf modelaram cada uma das cinco regiões da cidade de Nova Iorque independentemente, o que resultou em combinações inesperadas com diversas cidades ao redor do mundo.

"Manhattan é muito diferente das outras regiões", explicou Barthelemy. "Essas outras regiões têm muitas semelhanças entre si — e com Detroit — mas com toques e detalhes diferentes: Brooklyn parece com Bruxelas, Queens parece com Miami, o Bronx é similar à cidade do Porto e Staten Island é comparável à As-Suwayda."

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"A semelhança entre As-Suwayda e Staten Island resume-se aos seus blocos; a quantidade de blocos de tamanho médio é o dobro da quantidade de blocos pequenos, e todos os blocos, médios e pequenos, são basicamente retangulares", continuou.

"Em outras regiões, como no Bronx, por exemplo, existe uma variedade maior de formatos", disse. "Nosso método 'desconstrui' as cidades, levando em consideração apenas a geometria desses blocos, e não a sua configuração. Dessa forma, podemos dizer que os blocos que constituem a geometria de Staten Island e de As-Suwayda são muito parecidos, por mais surpreendente que seja!"

DA MESMA FORMA QUE OS PADRÕES DE MIGRAÇÃO DE UMA CERTA ESPÉCIE REVELAM-SE EM SEUS FÓSSEIS, O COLONIALISMO TAMBÉM DEIXA SUAS MARCAS NAS CIDADES

Assim como dividir espécies em clados pode nos ajudar a mapear as evolução, a classificação de Barthelemy e Louf expõe o desenvolvimento cultural e a história de várias cidades do mundo.

O formato, tamanho e distribuição desses blocos são um vislumbre do passado de uma cidade, revelando se ela cresceu caoticamente ou se foi erguida segundo alguma forma de planejamento. Da mesma forma que os padrões de migração de uma certa espécie revelam-se em seus fósseis, o colonialismo também deixa suas marcas nas cidades.

"A auto-organização dá origem à formas regulares, retângulos e quadrados de porte pequeno e médio", disse Barthelemy. "Essas formas estão ligadas aos padrões europeus, criados em um época na qual os carros não eram a principal forma de transporte. Algumas cidades da costa americana, como Washington e Boston, também seguem esse mesmo padrão — o que pode explicar o porque as pessoas as descrevem como 'cidades com um ar europeu'."

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"Diferentes planejamentos têm diferentes resultados", ele acrescentou. "Cidades norte-americanas construídas para facilitar a movimentação de carros possuem uma estrutura semelhante à de uma grade. Por outro lado, quando o planejamento de uma cidade sobrepõe-se à uma estrutura pré-existente, sua geometria natural não é respeitada, o que dá origem à formatos 'estranhos' como triângulos alongados. É o caso das obras lideradas por Haussmann em Paris, no século 19, quando largas avenidas foram construídas para conectar pontos importantes da cidade, resultando em blocos de vários formatos."

Características geológicas como rios, costas e montanhas também influenciam a distribuição das ruas, e as movimentações populacionais também afetam a topologia dessas cidades. Barthelemy e Louf estão trabalhando na categorização de mais cidades, o que revelará mais semelhanças estranhas entre locais geograficamente distantes.

"Nossa base de dados contêm 131 cidades de todo o mundo, e esperamos encontrar combinações ainda mais exatas quando tivermos um banco de dados maior", disse Barthelemy.

Por enquanto, é bom saber que um turista de Staten Island pode se sentir reconfortado ao se deparar com a topografia de As-Suwayda — mesmo com um anfiteatro romano no lugar do Estádio RCB.

Tradução: Ananda Pieratti