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O oleoduto Dakota Access já está vazando

E os manifestantes de Standing Rock estão preocupados.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US.

O petróleo ainda nem está correndo pelo oleoduto Dakota Access, nos EUA, mas já aconteceu um vazamento. A construção do oleoduto de 1.777 quilômetros de extensão — motivo de grandes protestos e polêmicas — estará operando na sua capacidade total no dia 1º de junho, segundo a Energy Transfer Partners (ETP), a empresa por trás da construção. Ainda assim, em abril, um problema mecânico causou um vazamento de 84 galões de petróleo no nordeste de Tulare, uma cidadezinha da Dakota do Sul.

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O vazamento foi controlado e considerado pequeno. Mas para grupos ambientais e membros da Tribo Sioux Standing Rock, que estão lutando contra o oleoduto desde o começo da construção — e ainda estão tentando uma paralisação da obra nos tribunais — o vazamento é um prenúncio de que mais problemas virão e irão ameaçar o suprimento de água potável.

"Era isso que estávamos dizendo esse tempo todo: oleodutos vazam e derramam petróleo", disse o presidente da tribo sioux Standing Rock Dave Archambault II. "O oleoduto Dakota Access ainda não está bombeando o meio milhão de barris de petróleo por dia como o prometido, e já estamos vendo relatos confirmados de vazamento."

Leita também: "Os caóticos e desafiadores dias finais dos acampamentos de Standing Rock"

O vazamento aconteceu no dia 4 de abril durante o teste de uma bomba hidráulica, segundo Brian Walsh, um cientista ambiental do Departamento de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Dakota do Sul. Nessa estação de bombeamento em particular, o petróleo é bombeado para um tanque, onde a taxa de pressão, entre outras coisas, é medida, e depois é bombeado de volta para o duto principal.

A bomba sofreu uma falha mecânica, mas o vazamento aconteceu dentro de uma área de contenção. O cascalho no topo da área que foi coberto com petróleo foi coletado e removido, e o petróleo não chegou ao chão. "Não houve impactos fora da área, nem ao solo nem ao lençol freático, e o petróleo não chegou a qualquer fonte de água na superfície", disse Walsh, acrescentando que o vazamento não é um indicativo do estado geral do oleoduto e "não foi necessariamente uma surpresa", dado que vazamentos similares já ocorreram em outros oleodutos da Dakota do Sul.

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A porta-voz da ETP Lisa Dillinger informou que o vazamento "ocorreu numa área de controle, que tem cerca de 15 centímetros de cascalho por cima de uma forragem especial impermeável no solo, então não houve impacto na área", e que o oleoduto é seguro.

Walsh me disse que a Dakota do Sul geralmente tem de 200 a 300 vazamentos de combustível por ano de oleodutos, poços de petróleo e outras fontes. "Geralmente não tornamos um vazamento público a menos que seja uma ameaça iminente para a saúde pública, um sistema de água potável ou água da superfície", disse Walsh. "Tratamos esse vazamento de 84 galões como tratamos qualquer vazamento do tipo no nosso estado."

Para Jan Hasselman, no entanto, um advogado do Earthjustice representando a tribo sioux de Standing Rock no tribunal, diz que essa não é a questão.

"Oleodutos vazam", ele disse, ecoando Archambault. "Às vezes um pouco, às vezes muito. Mas é inevitável. Talvez da próxima vez seja perto de uma escola ou de um reservatório de água potável. A garantia de que esse é um oleoduto de última geração, com o qual ninguém precisa se preocupar, é difícil de acreditar quando os dutos já estão vazando antes de o sistema ser ligado."

Regulamentações estaduais exigem que as empresas reportem vazamentos logo que eles aconteçam, e Walsh disse que foi isso que a ETP fez (a empresa divulgou o vazamento dois dias depois do fato, em 6 de abril). A limpeza já estava acontecendo, e a empresa não vai ser multada ou penalizada. "Se temos partes responsáveis, geralmente não fazemos isso."

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Mas a tribo e muitos ambientalistas estão preocupados com a forma que a notícia do vazamento só emergiu agora — mais de um mês depois.

"Que uma coisa dessas aconteça e o público não seja notificado não mostra muita responsabilidade da empresa e transparência do processo regulador", me disse Hasselman.

O governo da Dakota do Sul rastreia vazamentos de todo tipo num mapa em seu site, no qual é possível pesquisar por data, tipo de vazamento e a parte responsável. Mas não há anúncios públicos de nenhum vazamento em particular; foi um repórter do Aberdeen American News, um meio de comunicação local, que deu a história sobre o DAPL depois de encontrar o caso no site. O relatório do estado sobre o vazamento ainda não foi completado. Walsh disse que o relatório deve ser concluído em algumas semanas, depois que a ETP submeter documentos mostrando como se desfez do material contaminado.

Enquanto isso, a batalha legal da tribo contra a ETP continua. Eles pedem ao juiz que declare que a reversão da administração Trump do estudo de impacto ambiental e a concessão da permissão foram ilegais. "Pedimos a ele que derrube as permissões, o que significa que a construção do oleoduto teria que parar", disse Hasselman. "Neste ponto, estamos esperando a decisão do tribunal." Essa decisão pode levar semanas ou meses.

Enquanto isso, novos relatórios emergiram revelando que a empresa ainda não tem equipamento de emergência instalado para lidar com grandes derramamentos no futuro. O governo não exige que as empresas tenham todo o equipamento de segurança funcionando no dia em que o oleoduto for ligado, segundo documentos do tribunal tornados públicos recentemente, mas exige equipamento de "respostas a vazamento em águas abertas" sempre prontos para emergência.

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"Mas e se algo acontecer antes disso?", pergunta Hasselman. "Não há plano. Esse é só outro exemplo da maneira como os interesses da tribo estão sendo atropelados na pressa para instalar essa coisa."

"É mais importante do que nunca que o tribunal impeça novos acidentes antes que eles aconteçam", disse Archambault. "Não apenas para a tribo sioux Standing Rock e nossos recursos, mas para as 17 milhões de pessoas cuja água potável está em risco."

Quanto ao vazamento de abril, Hasselman aponta que o caso teria recebido mais atenção se tivesse sido um grande vazamento que afetasse água potável. "Mas o que estamos tentando dizer desde o começo é que esses riscos são reais", falou. "Eles precisam ser analisados antes que decisões sejam tomadas, e somos ignorados toda vez. Não é um prazer dizer 'Eu te disse', mas — aqui estamos."

Cole Kadzin é um escritor que vive em Los Angeles.

Tradução: Marina Schnoor