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MelhorFuturo

O MelhorFuturo está em Guimarães

O mundo é mais feliz na Capital Europeia da Cultura.

Mesmo com o IVA a 23 por cento, mesmo sem subsídios de férias, mesmo quando um ministro nos manda plantar batatas em terra alheia, ou mesmo sem descanso e com o Natal praticamente hipotecado, há gajos que, ainda assim, tentam pensar num melhor futuro melhor. E a coisa vai por números. O MelhorFuturo 1.0 — promovido pela Avalanche Documents — teve lugar no último mês em Guimarães, no espaço do Laboratório das Artes (entalado entre o Café Milenário e a torre do Aqui nasceu Portugal). Nuno Vieira e Miguel Oliveira, responsáveis pela AD, coordenaram a mostra dos oito artistas — e de mais um gajo que sabe-a toda —, que tinham algo em comum: ofereciam uma perspectiva positiva de futuro. Ana Gandum, Carla Cabanas, Catarina Mourão, João Pombeiro, Miguel Oliveira, Nuno Vicente, Paulo Cunha, Pedro Almeida foram os oito O Carlos Mesquita  é o que a sabe toda. VICE: É preciso estar-se muito desesperado para criar um projecto chamado “MelhorFuturo”…
Nuno Vieira: É mais uma questão de urgência do que desespero — mas urgência com paciência. O título do projecto aparenta uma certa pretensão para arranjar soluções, mas focamo-nos, essencialmente, na motivação para a sua procura. O que é a Avalanche Documents? Os Avalanches (a banda) têm uma música que se chama “A Different Feeling”. É por aí?
Ainda estamos a arrumar-nos, mas situa-se na proximidade da acção de uma editora: uma editora de ocupações e de preocupações, na qual o acto criativo seja um meio privilegiado de resposta. Uma espécie de acelerador de partículas com sentido de humor. Relativamente à canção, isso é uma feliz coincidência. Nesta mostra, vocês basicamente escolheram gente positiva.  Era um dos critérios, pelo que percebi: nada de artistas deprimidos.
Mais que gente positiva, optámos por “gente pela positiva”. Inclusive pessoal eventualmente negativo, que possa experimentar a via positiva. Não é uma questão de seleccionar artistas, mas sim de provocar contributos. Já há muitos projectos para os deprimidos, ou que nos deprimem. Entrevistaram o Carlos Mesquita, que é uma figura muito conhecida cá em Guimarães. Vi que fizeram uma publicação com o que ele conta e a verdade é que ele já anda nisto há mais tempo que nós. Assim em meia dúzia de linhas, o que disse ele sobre o futuro?
[O Carlos] incentiva e homenageia o associativismo cultural, recomenda as pessoas a sorrir genuinamente, a cultivar a amizade e [diz] que não tem nada contra os filmes pornográficos. Depois de acabarmos a entrevista, ele ainda se lamentou, com uma previsão sobre um futuro ligeiramente pior, após o encerramento de uma famosa pastelaria, em Vila do Conde. 2012 é um ano positivo para Guimarães, mas e 2013? Anda aí muita gente com medo… Será por causa da profecia Maia?
Sim e esperamos um ano de 2013 igual. Quanto ao medo, depende — se os Maias tiverem razão, as dívidas ficam todas saldadas em Dezembro; se estavam equivocados, devemos antes temer a outra Maya, o oráculo recauchutado da nossa sociedade VIP. É que não é essa fatia da economia-vidente em franca expansão que nos libertará das crises. O futuro é mesmo negro, ou o pessoal anda a exagerar?
Negro é o presente. Para o futuro, ainda existe muito tempo. Temos de nos lembrar que andamos a pintar isto de cinzento carregado há séculos e a dizer que “a crise acabava p’ró ano”! Um dia será assim e aí poderemos dizer que “já adivinhávamos um MelhorFuturo desde 2012”. Dito com aquele jeitinho muito característico da nossa classe política… E o feedback do público foi positivo?
Pensamos que sim, tendo em conta o que nos transmitiram. Mas pretendemos tornar o público mais predisposto para o tema através de outros projectos complementares. Temos consciência de que ainda estamos no início. Mesmo assim, fomos banda sensação no Palco Milenário e fizemos sete encores! Quando é o próximo MelhorFuturo?
No próximo ano, em data e modelo a confirmar. Essa actualidade do tema agrada-nos e foi razão para o baptismo. Posso confessar que até já fomos contactados pela organização do Paredes de Coura e do Sudoeste, para actuarmos lá. E pelo FMI, também. Aceitam propostas para a próxima colectiva? Se sim, como é possível apresentá-las?
Estamos sempre disponíveis e interessados em receber propostas e sugestões. Acima de tudo, queremos salvaguardar sempre a identidade do projeto. Podem contactar-nos através do nosso endereço de email, Facebook ou pessoalmente. Se acharem que devem arriscar suborno, juntem notinha no envelope e a gente considerará como ‘APOIO’. O que é um melhor futuro?
Como diz o Carlos Mesquita: “Mais sorrisos, mais participação cívica, mais amigos e melhor doçaria. Se possível, com melhor política, melhor justiça, melhor saúde e melhor educação.” Ou, para quem quiser simplificar: um Porsche, uma malinha LV e uma licenciatura relâmpago.