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Assange está livre?

Na manhã desta sexta (19), foi anunciado que as investigações das alegações de estupro sobre o fundador do Wikileaks tinham sido “descontinuadas”.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Logo depois que Julian Assange entrou na embaixada equatoriana em junho de 2012, muitos manifestantes se reuniram fora do prédio, usando máscaras do Anonymous, gritando com a polícia e segurando faixas dizendo "EU SOU JULIAN". Mas cinco anos depois, assim que a promotoria sueca anunciou que tinha "descontinuado" as investigações preliminares sobre alegações de estupro contra ele, Assange não recebeu uma mobilização similar de apoio. Não havia muitos simpatizantes ali desta vez — só jornalistas apontando as câmeras para as cortinas brancas da embaixada.

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Quando Assange finalmente apareceu na sacada do prédio hoje, logo depois das 16h30 do horário local, ele meramente levantou o punho para alguns gritos disparatados e uma cacofonia de cliques de câmeras. "Não fui detido… enquanto meus filhos cresciam sem mim… isso não é algo que posso perdoar ou esquecer", disse ele, soando como um vilão tosco do James Bond e citando um tuíte que já tinha publicado.

Ele continuou comentando a libertação de Chelsea Manning, agradeceu o governo equatoriano por ficar do seu lado mesmo quando a União Europeia teria ameaçado restrições de comércio contra o país, e voltou para dentro da embaixada depois de uns dez minutos. Ele não fez nenhum comentário específico sobre seu futuro, além de dizer que não pode sair porque a polícia metropolitana o prenderia "mesmo assim".

Apesar de Assange ter chamado a decisão de uma "vitória total", a promotoria sueca deixou claro que não arquivou o caso porque achava que ele era inocente. Numa declaração feita às 12h no horário sueco, a promotora-chefe Marianne Ny informou que estavam retirando o mandado de prisão europeu de Assange porque "todas as perspectivas de continuar a investigação sob as circunstâncias atuais são exaustivas".

Apesar de Ny não ter jogado a culpa em nenhuma parte, ela disse, ambiguamente, que Assange — que sempre alegou inocência — tinha "se recusado a possibilitar" a "notificação formal dos crimes de que é suspeito". É linguagem judicial, mas basicamente significa que o caso foi encerrado por razões técnicas e administrativas.

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Assange foi para a Embaixada do Equador procurando asilo político em 2012, depois que a Suprema Corte britânica rejeitou seu apelo contra uma extradição para encarar as acusações de estupro na Suécia. Ele acreditava que viajar para a Suécia poderia levar a uma extradição para os EUA, onde o grande júri foi convocado para processar seu site de publicação controverso, o Wikileaks.

Como a Suécia se recusava a garantir que sua extradição não levaria à prisão — ou algo pior — nos EUA, o Equador garantiu asilo político a Assange. Como resultado, ele tem vivido na embaixada, um apartamento no térreo de um prédio, há cinco anos, com nada além da estranha visita de Pamela Anderson para animá-lo.

Dito isso, os simpatizantes de Assange — de celebridades de alto escalão a figurões do mundo dos hackers — foram diminuindo com os anos dessa prisão autoimposta, enquanto sua causa célebre virava uma presença fantasmagórica.

No nível prático, a decisão da promotoria não significa que Assange está livre para deixar a embaixada e seguir para o Equador. A polícia metropolitana de Londres disse que ele ainda é procurado pelo crime de "recusa a se render", apesar de admitir que essa é uma ofensa menos séria que as alegações de estupro. No entanto, a administração Trump tem falado publicamente nas últimas semanas em processar Assange e o Wikileaks, com o procurador-geral Jeff Sessions dizendo que prender Assange era uma "prioridade" — uma quebra retórica com a abordagem da administração Obama.

Então, apesar dessa decisão, o futuro de Assange continua tão incerto quanto antes. Mais importante, o futuro das mulheres que levantaram as acusações contra ele — os advogados delas descreveram o arquivamento do caso como um "escândalo". Sem o apoio tênue que Assange conseguiu juntar cinco anos atrás de um punhado de gente da sociedade civil, ele provavelmente vai achar a vida fora da embaixada — se um dia sair — tão solitária quanto a vida lá dentro.

@Yohannk / @theomcinnes

Tradução: Marina Schnoor

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