Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .Logo depois que Julian Assange entrou na embaixada equatoriana em junho de 2012, muitos manifestantes se reuniram fora do prédio, usando máscaras do Anonymous, gritando com a polícia e segurando faixas dizendo "EU SOU JULIAN". Mas cinco anos depois, assim que a promotoria sueca anunciou que tinha "descontinuado" as investigações preliminares sobre alegações de estupro contra ele, Assange não recebeu uma mobilização similar de apoio. Não havia muitos simpatizantes ali desta vez — só jornalistas apontando as câmeras para as cortinas brancas da embaixada.Quando Assange finalmente apareceu na sacada do prédio hoje, logo depois das 16h30 do horário local, ele meramente levantou o punho para alguns gritos disparatados e uma cacofonia de cliques de câmeras. "Não fui detido… enquanto meus filhos cresciam sem mim… isso não é algo que posso perdoar ou esquecer", disse ele, soando como um vilão tosco do James Bond e citando um tuíte que já tinha publicado.Ele continuou comentando a libertação de Chelsea Manning, agradeceu o governo equatoriano por ficar do seu lado mesmo quando a União Europeia teria ameaçado restrições de comércio contra o país, e voltou para dentro da embaixada depois de uns dez minutos. Ele não fez nenhum comentário específico sobre seu futuro, além de dizer que não pode sair porque a polícia metropolitana o prenderia "mesmo assim".Apesar de Assange ter chamado a decisão de uma "vitória total", a promotoria sueca deixou claro que não arquivou o caso porque achava que ele era inocente. Numa declaração feita às 12h no horário sueco, a promotora-chefe Marianne Ny informou que estavam retirando o mandado de prisão europeu de Assange porque "todas as perspectivas de continuar a investigação sob as circunstâncias atuais são exaustivas".Apesar de Ny não ter jogado a culpa em nenhuma parte, ela disse, ambiguamente, que Assange — que sempre alegou inocência — tinha "se recusado a possibilitar" a "notificação formal dos crimes de que é suspeito". É linguagem judicial, mas basicamente significa que o caso foi encerrado por razões técnicas e administrativas.Assange foi para a Embaixada do Equador procurando asilo político em 2012, depois que a Suprema Corte britânica rejeitou seu apelo contra uma extradição para encarar as acusações de estupro na Suécia. Ele acreditava que viajar para a Suécia poderia levar a uma extradição para os EUA, onde o grande júri foi convocado para processar seu site de publicação controverso, o Wikileaks.Como a Suécia se recusava a garantir que sua extradição não levaria à prisão — ou algo pior — nos EUA, o Equador garantiu asilo político a Assange. Como resultado, ele tem vivido na embaixada, um apartamento no térreo de um prédio, há cinco anos, com nada além da estranha visita de Pamela Anderson para animá-lo.Dito isso, os simpatizantes de Assange — de celebridades de alto escalão a figurões do mundo dos hackers — foram diminuindo com os anos dessa prisão autoimposta, enquanto sua causa célebre virava uma presença fantasmagórica.No nível prático, a decisão da promotoria não significa que Assange está livre para deixar a embaixada e seguir para o Equador. A polícia metropolitana de Londres disse que ele ainda é procurado pelo crime de "recusa a se render", apesar de admitir que essa é uma ofensa menos séria que as alegações de estupro. No entanto, a administração Trump tem falado publicamente nas últimas semanas em processar Assange e o Wikileaks, com o procurador-geral Jeff Sessions dizendo que prender Assange era uma "prioridade" — uma quebra retórica com a abordagem da administração Obama.Então, apesar dessa decisão, o futuro de Assange continua tão incerto quanto antes. Mais importante, o futuro das mulheres que levantaram as acusações contra ele — os advogados delas descreveram o arquivamento do caso como um "escândalo". Sem o apoio tênue que Assange conseguiu juntar cinco anos atrás de um punhado de gente da sociedade civil, ele provavelmente vai achar a vida fora da embaixada — se um dia sair — tão solitária quanto a vida lá dentro.@Yohannk / @theomcinnesTradução: Marina SchnoorSiga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.
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