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Drogas

Metanfetamina é um presente normal de Ano Novo Lunar na Coreia do Norte

Drogas ilegais são um presente popular de aniversários, formaturas e festas de fim de ano no país.
Gavin Butler
Melbourne, AU
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
MS
Traduzido por Marina Schnoor
metanfetamina e Kim Jong Un
Imagem via Shutterstock (E); e usuário do Flickr Zennie Abraham, CC licença 2.0 (D).

Para muitos, as festas do Ano Novo Lunar significam uma chance de passar tempo com a família, participar de banquetes decadentes e trocar presentes sinceros. Esses presentes podem variar de envelopes vermelhos com dinheiro, chá, roupas. Mas para os norte-coreanos, pode muito bem ser metanfetamina.

Os cidadãos da Coreia do Norte estão trocando metanfetamina como presente, parte de um costume que está se tornando cada vez mais popular, segundo o New York Times. “Pingdu”, como a droga é conhecida entre os locais aparentemente é um presente comum quando se trata de aniversários, formaturas e “festas como o Ano Novo Lunar”. E mesmo a droga sendo ilegal na República Popular Democrática da Coreia (RPDC), especialistas dizem que presentear casualmente alguém com metanfetamina é mais ou menos um segredo que todo mundo sabe.

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“Metanfetamina é vista amplamente na Coreia do Norte como um tipo muito poderoso de droga energética – tipo um Red Bull amplificado”, disse Andrei Lankov, especialista da RPDC da Universidade Kookmin em Seul, ao New York Times. Andrei diz que histórias de pessoas dando metanfetamina para amigos são comuns entre os desertores do norte. Os usuários no país supostamente injetam ou cheiram a droga casualmente, como alguém que fuma um cigarro – e muitas pessoas do país pobre se automedicam com opiáceos e estimulantes como solução para a falta crônica de tratamento médico.

Relatos de metanfetamina como um presente popular de Ano Novo Lunar na Coreia do Norte emergiram na Radio Free Asia – um meio de comunicação financiado pelo governo americano – semana passada. Na publicação, uma fonte anônima da RPDC disse que “cristal se tornou um dos presentes mais vendidos”, e que “a maioria dos compradores são jovens, mesmo pessoas ainda no ensino médio”.

“Eles geralmente compram cristais para cheirar juntos durante as festas”, a fonte explicou. “Eles querem esquecer sua dura realidade e se divertir… Os estigmas sociais cercando uso de drogas [desapareceram], então algumas pessoas acham que estão perdendo alguma coisa se não têm metanfetamina ou ópio para dar como presente.”

Nem a VICE nem o New York Times conseguiram verificar de maneira independente o relato da Radio Free Asia, mas a informação é apoiada por vários especialistas e pesquisadores. Justin Hastings, cientista político da Universidade de Sydney, disse que metanfetamina se tornou efetivamente legal na Coreia do Norte “porque os oficiais recebem suborno para fazer vista grossa, e porque o estado se beneficia indiretamente da cadeia de subornos que chega até o topo”.

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Greg Scarlatoiu, diretor executivo do Committee for Human Rights in North Korea, também apontou que o uso e distribuição de metanfetamina não é uma grande preocupação do regime de Kim Jong-un. Na verdade, o uso habitual de drogas recreativas poderia servir ao governo para aplacar e subjugar o povo.

“O uso de drogas não significar um desafio para o regime, na verdade entorpecer as vontades e mentes dos norte-coreanos, e o governo tacitamente permite que isso continue”, diz Greg. “Apesar dos tremendos desafios de saúde mental e física que isso provoca.”

O governo da Coreia do Norte, enquanto isso, nega firmemente que seus cidadãos usem ou produzam metanfetamina. Em 2013, a agência de notícias estatal do país declarou que “o uso, tráfico e produção de drogas ilegais que reduzem seres humanos a aleijados mentais não existe na RPDC”.

Mas em 2003, o Nautilus Institute publicou um relatório revelando que “o regime norte-coreano está envolvido na produção e tráfico de drogas ilegais desde os anos 1970”, e que “esses esforços aumentaram nos anos 90 enquanto a situação econômica do país piorava… [e] a produção de heroína foi suplementada pela produção de metanfetamina”.

A Fairfax apoiou essas alegações em 2014, enquanto apontava que “o governo da Coreia do Norte abandonou em grande parte o negócio de drogas, segundo o Relatório Internacional de Estratégia de Controle de Narcóticos de 2013 do Departamento de Estado americano”. Quando a produção de metanfetamina do governo começou a declinar, muitos dos cozinheiros provavelmente redirecionaram suas habilidades e começaram a vender no mercado local: alimentando a obsessão dos cidadãos pela substância. No mesmo artigo, a Fairfax disse que os norte-coreanos costumam tomar metanfetamina para tratar gripes, aumentar a energia, ou continuar acordado quando precisam trabalhar até tarde. A droga também ajuda a diminuir a fome – uma função útil num país onde a comida é notoriamente escassa.

“Quando você recebe alguém em casa, é educado oferecer uma carreira”, disse Lee Saera, de Hoeryong, ao jornal. “É como beber café quando você está com sono, mas metanfetamina é muito melhor.”

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