Retrato de uma familia imigrante
Fotos cortesia de Lee Grant.

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Viagem

Retratos que mostram a diversidade entre imigrantes na Austrália

A fotógrafa coreana-australiana Lee Grant documenta um rosto cultural sempre em metamorfose.

O trabalho de Lee Grant serve como um testemunho de que a ideia de identidade nacional não se resume a uma cultura ou uma verdade. O trabalho dela explora deslocamento e identidade imigrante; iluminando a mistura cultural observada entre imigrantes, e como isso influencia percepções de identidade baseadas no ponto onde nossas origens e residência convergem.

Observando questões sobre quem somos e para onde vamos, o trabalho de Lee tem um papel em navegar na própria identidade dela, enquanto se oferece como um veículo para as pessoas interpretando as suas. De seus primeiros estudos sobre a Austrália suburbana, até sua série mais recente The Korea Project, Lee sempre usou as onipresenças da vida cotidiana como uma mola para diálogos cercando identidade e nossas tentativas de defini-la.

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Lee Grant's portraits of migrants in Australia

Foto por Lee Grant

Onde você cresceu?
Cresci em Camberra a partir dos 8 anos, saí aos 18 e voltei aos 25 com meus dois filhos. Acho que Camberra é minha cidade natal no sentido que ela moldou uma parte de quem sou, mas inevitavelmente a vida acontece e todo mundo acaba mudando.

Você pode falar um pouco dos seus pais – eles eram do tipo criativo quando você era criança?
Meu pai era militar, então não tanto, apesar de saber que ele tinha uma faísca criativa lá no fundo. Minha mãe com certeza era uma pessoa criativa, mas de uma geração e cultura onde você reprime esse tipo de coisa. Ela era muito mais sensível – conseguiu vários diplomas (direito, contabilidade e economia). Meu pai era escocês e minha mãe é coreana, mas ela passou a maior parte de sua vida adulta na Austrália.

Lee Grant's photos

Foto por Lee Grant

Como você descobriu a fotografia?
Não é uma história muito emocionante, acho! Eu era aquela criança de 12 anos (como muitas outras) que roubava a câmera Canon SLR muito legal da mãe e fotografava amigos, bichos de estimação e irmãs. Eu adorava revistas e tentava imitar as fotos nelas, acho. Foi assim que comecei. Meus pais também assinavam a National Geographic (como quase todo mundo nos anos 80), e eu ficava embasbacada com as fotos na revista. Era um portal para o mundo lá fora, além de qualquer coisa que eu poderia imaginar quando criança. Essas fotos me deram um lugar para ir; para imaginar além do confinamento da minha infância limitada e suburbana.

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Quando você se voltou para a fotografia como meio narrativo?
Acho que sempre fui intrometida e curiosa sobre as pessoas. Você conhece certas pessoas na vida e as acha interessantes, você meio que se apaixona por elas e quer saber mais. Diane Arbus disse uma vez que “uma câmera é um passaporte”, o que é verdade. Não sei se eu seria tão corajosa se não tivesse uma câmera comigo quando entro no mundo de outras pessoas. Em termos de narrativa, acho que comecei com minha série Belco, que era tipo pequenos poemas e vinhetas visuais. Gosto bastante de narrativas que são abstratas e não se aderem necessariamente a um formato linear de começo, meio e fim.

Lee Grant photography

Como seu trabalho explora identidade enquanto você navega pela sua no processo?
Cresci numa época na Austrália onde tudo era uma questão de assimilação. E como não tinha a língua da minha mãe, eu me identificava mais com a cultura inglesa na qual cresci.

Muito do que experimentei na infância é típico das crianças da primeira geração de imigrantes; particularmente da minha geração. Imigrantes muitas vezes agem como guardiões da cultura que deixaram para trás, mas essa cultura também não é estática. Eles trazem seus filhos para um lugar novo, e eles frequentam as escolas locais e muitas vezes são criados falando inglês como língua principal. Com certeza é diferente (melhor) hoje do que quando eu era criança, mas acho que ainda é algo que muitos australianos de outra origem étnica ou mestiços ainda experimentam; essa tensão entre identidades.

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Lee Grant photographs

Foto por Lee Grant

Com uma face cultural em constante mudança, o que você acha que significa ser australiano hoje?
Quando eu era criança, havia uma narrativa muito singular do que "ser australiano" significava e como um australiano parecia. Uma narrativa muito anglo cristã, o que não reflete mais quem somos como nação – e não reflete há muito tempo. Acho que há vestígios disso, mas tirando as camadas, a pessoa percebe o quanto isso é mais complexo. A Austrália é uma tapeçaria muito rica de culturas que se metamorfosearam nessa ideia maravilhosa mas estranha do que entendemos como australiano.

E isso é diferente dependendo de com quem você fala. Então quando falo sobre o rosto cultural em transformação da Austrália, acho que isso é o que estou realmente buscando; algo que nunca vou realmente conseguir capturar – nem sei se é possível? O que significa ser australiano? E ainda assim, sabemos fundamentalmente o que isso significa, num nível mais profundo e conectado. Honestamente, acho que é a paisagem que nos molda mais do que a cultura aqui. Isso é algo que os indígenas australianos entendem naturalmente e deveríamos prestar mais atenção nisso.

Lee Grant photography

Foto por Lee Grant

No que você está trabalhando agora?
Atualmente estou trabalhando em vários projetos de longo prazo. Trabalhei no The Korea Project pelos últimos oito anos e estou no processo de montar tudo. O projeto passa pela Coreia do Norte e do Sul, além da diáspora coreana na Austrália.

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Outro corpo de trabalho em que estou trabalhando é sobre a Austrália, chamado The Land of Oz. É um projeto clássico de viagem de carro onde quero visitar todos os oito estados e territórios por anos, coletando histórias através de retratos e documentando a paisagem social e cultural de um lugar que é tão diferente quanto vasto.

O trabalho de Lee fica em exposição na National Portrait Gallery, no Reino Unido, de 23 de fevereiro até 7 de abril, como parte do National Photographic Portrait Prize.

Lee Grant The Korea Project Photography

Foto por Lee Grant

Matéria originalmente publicada na i-D Austrália.

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