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Entretenimento

Ministério Público vai intimar tuiteiros contratados para fazer posts pró-PT

O caso #piauigate, 'Lulazord' ou 'Mensalinho do Twitter', que foi denunciado por influenciadores digitais no domingo (26), pode configurar crime eleitoral.
Wellington Dias, candidato a reeleição para governador do Piauí pelo PT. Foto via Wikicommons

Na madrugada de sábado para domingo (26), a jornalista e tuiteira Paula Holanda (@pppholanda, cuja conta no Twitter está agora trancada) fez uma thread denunciando uma ação que ela e outros usuários populares da rede social tinham concordado em participar. Paula relata que foi paga por uma agência para fazer tweets diários sobre pautas que teoricamente seriam "de esquerda", mas que a campanha se revelou uma propaganda partidária para o PT. A responsável pela contratação dos influencers teria sido a empresa de agenciamento de influenciadores e marketing digital LaJoy.

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Na segunda-feira (27), as procuradorias eleitorais do Piauí e Minas Gerais abriram procedimentos para verificar se houve irregularidades envolvendo o caso. Nesta terça (28), o Buzzfeed News reporta que uma investigação formal foi iniciada e, segundo portaria assinada hoje, o procurador regional eleitoral auxilia Bruno Nonimato de Oliveira pede a identificação e intimação dos influenciadores envolvidos para que prestem depoimentos ao Ministério Público.

Durante os três dias em que a ação esteve no ar, segundo Paula, os briefings encaminhados para os tuiteiros solicitavam que eles fizessem tweets sobre Gleisi Hoffman, candidata a deputada federal, Luiz Marinho, candidato a governador de São Paulo, e Wellington Dias, candidato à reeleição como governador do Piauí. Paula começou a suspeitar da ação pelas três pautas serem de candidatos petistas, e contestou as demandas no grupo do WhatsApp em que a ação estaria sendo organizada. Depois de ter sido retirada do grupo por declarar que não participaria mais da ação, Paula expôs a situação no Twitter e causou uma espiral da caos na internet.

Aos poucos, foram descobertos outros usuários que também estariam envolvidos na ação. O usuário do Twitter @Gustavokov juntou uma lista com mais de vinte nomes; entre eles, o ex-baixista da Fresno Esteban Tavares e perfis como @exuliane, @brunafeia e @mateusoliveirab. Alguns admitiram a participação na ação, alegando, assim como Paula, não saber que se tratava de uma divulgação "partidária". Outros perfis foram desativados desde então, e o site da agência Lajoy também foi tirado do ar.

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Ao Globo, Joyce Falete, dona da LaJoy, disse ter sido contratada pela empresa BeConnected para "dar consultoria sobre quais jovens profissionais tecnológicos e digitais de esquerda eram aptos a construir e sugerir a melhor tática (conteúdo: posts, memes e gifs) de apresentar a proposta para quando chegasse o período eleitoral." A empresária, porém, negou que a LaJoy tivesse feito qualquer contratação em relação a essa consultoria.

Rodrigo Cardoso, dono da BeConnected, disse ao jornal que sua empresa é contratada pelo PT para fazer monitoramento e análise de ambiente de redes sociais e que subcontratou a LaJoy para o contato com os influenciadores, mas nega ter pago pelas publicações.

Acusado de estar envolvido com a ação, o governador Wellington Dias, cujo nome esteve nos trending topics do Twitter durante boa parte do domingo, negou em nota ao portal piauiense Cidade Verde que a atividade tivesse sido organizada por sua campanha. "O que se observa pelos comentários nas redes sociais e nos prints que circulam é que este é um movimento nacional, que simpatiza com a esquerda e com o Partido dos Trabalhadores", diz a nota.

Muitas informações sobre o caso estão sendo disseminadas no Twitter mas, por enquanto, são desencontradas e inconclusivas. Alguns usuários aludem ao uso dos aplicativos Follow e O Brasil Feliz de Novo, este parte da campanha do Partido dos Trabalhadores. A influenciadora Alessandra Siedschlag postou em sua conta no Facebook um texto em que relata também ter sido convidada para a campanha através de um e-mail que sinaliza que o trabalho seria remunerado. O texto do suposto e-mail também menciona que o cliente da ação é o aplicativo Follow.

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A ação promovida pela LaJoy pode caracterizar crime eleitoral, segundo Antônio Carlos Mendes, Doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP e docente da universidade. "[Os influenciadores] teriam que demonstrar como foi a propaganda, quem é o responsável por ela e quem a custeia. Se essas características todas não apareceram [no post] e não forem encaminhadas para a Justiça Eleitoral, caracteriza crime eleitoral", diz.

A fala de Carlos Mendes é apoiada pela Resolução nº 23.551, de 18 de dezembro de 2017, que legisla sobre propaganda eleitoral. O artigo 24, um dos que dispõe sobre a propaganda eleitoral na internet, veda a veiculação "de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos políticos, coligações e candidatos e seus representantes." Caso a lei seja violada, a resolução prevê multa no valor de 5 a 30 mil reais.

O BuzzFeed News teve acesso à minuta de um dos contratos envolvidos na ação, feito com a empresa Fórmula Tecnologia, do deputado federal Miguel Corrêa, do PT de Minas Gerais. O contrato prevê a duração de dois meses, agosto e setembro, e o pagamento de R$ 2.500. Entre os briefings para os tweets seguintes dos influenciadores, estavam críticas ao desembargador João Pedro Gebran Neto, que agiu para que o mandado de liberdade do ex-presidente Lula não fosse cumprido, e "criticar o governo [Temer] e/ou a direita. O contrato previa que os participantes mantivessem sigilo pelo período da ação e até 24 meses depois.

O caso Lulazord não se trata da primeira vez em que dinheiro de partidos foi direcionado para campanha partidária nas redes sociais. Em 2015, a Folha noticiou que um blogueiro antipetista recebeu por dois anos do Governo Alckmin por seus "serviços de comunicação" pelo site Implicante, que postava vídeos e memes criticando o PT e a então presidente Dilma Rousseff. Durante as manifestações pró-Impeachment em 2016, áudios conseguidos pelo UOL mostravam que membros do MBL foram pagos por partidos como o MDB e o Solidariedade para conclamar os protestos em suas redes sociais.

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