Suave, um português do Barreiro a amar assim perdidamente
Suave. Todas as fotos por Vera Marmelo.

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Entrevista

Suave, um português do Barreiro a amar assim perdidamente

Com "Português Suave", o músico atira-se de cabeça ao crooning e a uma espécie de novo olhar sobre a construção de canções.

Nick Nicotine, acaba de vestir uma nova pele. Nick agora é Suave de apelido e apresenta-se em bom português, numa viagem das margens do Barreiro para o epicentro do novo cançonetismo nacional, das orlas do Barreiro Rocks (que organiza há 18 anos) à admiração declarada a Crooner Vieira, personagem incontornável do Barreiro.

O seu disco, Português Suave - lançado a 13 de Abril e, entre os múltiplos projectos do músico barreirense, o 57º (!!) da carreira - apresenta-nos uma vida mais bela e abrangente, por vezes sofrida, mas com (pelo menos) um sentido muito claro: é tempo de dizer que todas as Grabrielas Schaafs, Afonsinhos do Condado ou Radar Kadafis desta vida estão perdoados.

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Há uma nova "música moderna portuguesa", como se dizia antigamente, a entrar pelos ouvidos mais duros - ou quase todos, vá - e por isso, há uns dias, de forma suave, a VICE interrompeu o almoço de Nick para lhe perguntar porquê, onde, como e com quem surgiu este caminho.

VICE: De repente, ou pelo menos assim pode parecer, do teu habitual registo rock n' roleiro passas para este Português Suave. Apesar dos temas estarem já escritos há mais tempo, achas que, de alguma forma, é a ternura dos 40 a bater?

Nick Suave: (risos) Isto começa em 2011, com um desafio do Fred [Ferreira, dos Orelha Negra e ex-Buraka Som Sistema] para fazer uns temas mais ou menos dentro deste registo, mas não andava muito longe daquilo que eu já tinha feito com a Nicotine's Orchestra. A maior diferença foi mesmo o facto de ele me ter perguntado: "Porque é que não escreves em português?". No início aceitei o desafio ainda com alguma reserva, mas depois tudo se resolveu facilmente dentro da minha cabeça. Continua a ter a mesma energia rock n'roll, mas mais… suave (risos).

De qualquer das maneiras também já tiveste várias identidades, projectos muito diferentes, presumo que esta metamorfose não te seja estranha…

Não, não me é estranha e tem também a ver com isso de criar personagens que sustentem os vários heterónimos, digamos assim, se bem que esta personagem é uma mistura dos outros todos e aproxima-se mais do verdadeiro eu.

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Foto por Vera Marmelo

Canções como "Coração de Amante", com um teclado a la Beach Boys no início, "Meia Noite" e mesmo no single "Perdido" (vídeo acima)… sentes-te confortável na posição de crooner, ou não é essa a intenção?

Sinto-me muito confortável na posição de crooner, até porque uma das minhas maiores influências é precisamente a do Crooner Vieira, aqui do Barreiro. É um grande amigo - e quando digo que ele é influente, digo-o sem qualquer tipo de humor -, porque essa postura que ele tem de entertainer, de showman (como sempre se apresenta), para mim faz cada vez mais sentido, porque o que me apetece realmente é fazer música para entreter as pessoas e para as fazer passar um bom bocado.

Foto por Vera Marmelo

No tema " Que mais hei-de fazer", aquilo é blues, sim senhor… mas em certas partes tu berras como mandam as regras do rock… e será talvez a parte menos suave do disco. Este parece-me ser um disco que, apesar desta estética presente na tua carreira, não dá para disfarçar as tuas influências…

Pois… o que eu espero é que deixe a dúvida: "Será que este gajo está a tentar evangelizar alguém muito disfarçadamente?" (risos) Na volta, sim! Vai-se a ver e o grande plano é que a malta entre pela onda mais romântica portuguesa e acabe toda no Barreiro Rocks! (risos) Mas, mais a sério, acho que grande parte dessa energia é impossível de retirar, não consigo evitar mandar aquele berro ocasional aqui e ali e espero que ao vivo, aqueles anos todos de andar por aí a tocar num registo mais enérgico possa ter alguma repercussão no espectáculo que apresentamos [o primeiro é já a 27 de Abril, no MusicBox, em Lisboa].

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Foto por Vera Marmelo

Se calhar, para a malta que cresceu nos anos 80 e 90 - e sobretudo para os amantes de rock -, este tipo de sonoridade, nessa altura, seria conotado mais com um piscar de olho à música ligeira. Parece-me que em 2018 há uma maior abertura. Sendo tu também um programador cultural veterano, que assistiu certamente a várias mudanças no País e nos públicos, qual é a tua visão?

A grande diferença, provavelmente, estará no facto de como, hoje, acedes à música e à quantidade de som que ouves e que te permite encaixar as coisas de uma outra forma. Para uma geração de malta mais jovem, que tem essa idade agora, é mais natural que as pessoas tenham todas estas referências da Motown, soul… Quando nós éramos mais novos, estávamos limitados aos discos dos nossos amigos e àqueles que íamos comprando, o que significa que, se calhar, a nossa amplitude, a nossa visão era muito mais reduzida e [este tipo de sonoridade] pareceria piroso.

Lembro-me que quando tinha 16, 17, 18 anos, a soul não era a minha praia, no entanto, hoje em dia, cruzo-me com bastantes putos aqui no Barreiro e vejo que, graças ao acesso que eles têm a toda a música que existe no Mundo, conseguem também ter uma maior abrangência e talvez menos essas palas que a nossa geração teria. Por outro lado há sempre liberdade para que, quem ache foleiro determinado tipo de som, apesar de me conhecer, o continue a achar (risos).

Portanto, as Gabrielas Schaafs desta vida estão perdoadas…

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Nick Suave: Ya!

Foto por Vera Marmelo

Para finalizar, a pergunta que todos querem saber… E o Barreiro Rocks, pá? Já se pode saber o que aí vem na edição de 2018?

Podemos falar de datas, vá… é o primeiro fim-de-semana de Novembro, 2 e 3. Por acaso estávamos aqui numa reunião de uma comissão de trabalhadores e de patrões (risos) e é por aí. Ainda não posso adiantar bandas mas, pelo menos uma delas tenho a certeza que vais gostar muito.


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