FYI.

This story is over 5 years old.

Motherboard

O plágio de brasileiros no YouTube mostra que nem todos podem ser youtuber

Dois canais foram acusados de cópia nos últimos dias, mas o buraco é mais fundo do que meia dúzia de roteiros roubados.
Donos dos canais Pense Geek e Mateus Hwang foram acusados de plágios por youtubers estrangeiros. Na imagem, Mariana Delveccio e Geoff Thew. Crédito: Reprodução/ YouTube 

Todo dia é assim: você abre o YouTube e procura um vídeo para se distrair. Dá uma olhada na curadoria que aparece na home, tranquilão. Curte clipes que gosta. Ri com aquela esquete. Vê outra besteira. Por que não assistir a mais um? De volta à página inicial, entre os conteúdos mais vistos, é de lei clicar em algo nacional que chame atenção.

Pode ser alguém tocando uma música, uma explicação sobre a complexa coleção de arquétipos dentro da cultura japonesa de mangás ou um cara barbado rimando. O que você pode não estar ciente é que, por detrás desses vídeos fofos ou engraçados, pode existir um produtor de conteúdo gringo fodido da cabeça com seu material roubado.

Publicidade

Foi o que aconteceu no último final de semana: youtubers estrangeiros sacaram que brasileiros com canais grandes estavam copiando vários de seus vídeos e resolveram protestar.

A figura central na polêmica foi Mariana Delveccio, mais conhecida como Satty e dona do canal PenseGeek. A acusação veio do produtor canadense Geoff Thew, responsável pelo canal Mother’s Basement. Ele levantou a suspeita de que seu conteúdo estaria sendo copiado, na última quinta-feira, 19, e pediu ajuda a seus fãs lusófonos para sacar se existia algo estranho.

O burburinho começou a tomar corpo no Twitter quando Thew começou a postar as evidências de que Satty teria copiado diversos roteiros de seus vídeos, incluindo as mesmas piadas. Mas a treta só foi atingir seu ponto mais alto dias depois, quando a brasileira fez um vídeo negando as acusações, no sábado, 21. O vídeo fez o youtuber canadense ficar pistola e publicar um vídeo de praticamente 18 minutos expondo que outros produtores também tiveram seu material plagiado.

Como é de se imaginar a engrenagem das tretas na rede social já estavam rodando: diversos canais começaram a publicar suas versões sobre os fatos, suas próprias apurações e por aí vai.

Mas a história não parou aí. Teve um fato simultâneo que mostra o quanto esse papo de plágio de conteúdo gringo é mais fundo do que parece: enquanto as primeiras publicações de Geoff Thew rolavam no Twitter, saía outro vídeo expondo mais uma cópia de conteúdo feita por brasileiro. O pianista estrangeiro Eric Kotzian publicou vídeo no qual mostra que o youtuber Mateus Hwang passou a mão em seus vídeos e nos de outros três produtores. Dessa vez as cópias não se limitavam a roteiro: eram tentativas descaradas de fingir autoria em cima do conteúdo de outros.

Publicidade

Diferentemente de Satty, Hwang assumiu e se desculpou publicamente por ter roubado os vídeos de outros produtores no dia seguinte da publicação do vídeo de Kotzian. Em uma reviravolta irônica da rede social de vídeos, porém, Hwang resolveu cair atirando. Uma vez que o escândalo com o canal PenseGeek foi exposto, ele publicou um vídeo em que “investiga” o plágio da colega de plataforma.

Embora muito mais falados do que outros, os casos não estão isolados. Não é de hoje que apropriações de conteúdo, seja ela legal ou não, acontecem entre youtubers nacionais. Em 2015, o rapper Mussoumano foi acusado de copiar os vídeos do rapper americano Mac Lethal. Em 2014, o canal Porta dos Fundos foi acusado de copiar um outro canal com menos acessos. A lista de suposições de cópia é imensa.

É claro que o fenômeno não é exclusivamente nacional. Expõe, na verdade, o quão longe os youtubers podem ir na busca pelo conteúdo que atinja maior público. E o quanto vários deles não deveriam estar nessa área.

O professor do Mestrado em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, Marcelo Santos, crê que hoje existe uma pressão social para a produção de conteúdo e compartilhamento nas redes entre os adolescentes, mas o problema é que nem todos eles são capazes de produzir conteúdo bom e original.

“As próprias redes ensinam você a ser esse produtor de conteúdo, muita gente não vai conseguir, e às vezes no desespero ou na má fé, cometem este tipo de atitude”, comentou. Para ele, o plágio nessas acontece porque essa atitude acaba sendo recompensada, mesmo que de maneira não intencional, pela plataforma.

Publicidade

O YouTube possui algumas iniciativas e políticas para tentar barrar o plágio e apontar que determinados conteúdos são ou não copiados de terceiros. No entanto, não ficou claro se foram eficientes nos dois casos citados.

Perguntado sobre a números de ocorrências no Brasil e se existem políticas e ações locais para coibir este tipo de problema, o YouTube afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não divulga este números e que “políticas de direitos autorais são aplicadas a todos os criadores.”

E provando que plágio não compensa, o canal PenseGeek teve todos os seus vídeos retirados do ar. Não ficou claro se foi a própria autora ou se a plataforma foi a responsável. Enquanto isso, Mateus Hwang segue publicando seus vídeos. Talvez copiando algum youtuber desconhecido, talvez não, mas isso é algo que fica para os detetives da internet.

Atualização 18h12: Uma fonte próxima à Mariana Delveccio confirmou que os vídeos da youtuber foram listados como privados pela própria autora.

Leia mais matérias de ciência e tecnologia no canal MOTHERBOARD .
Siga o Motherboard Brasil no Facebook e no Twitter .
Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter, no Instagram e no YouTube.