O rolê de um speedrunner pra terminar 'Super Mario 64' em menos de uma hora
Igor 'Dezanig' Viana, speedrunner de 'Super Mario 64'. Foto: Bruno Izidro/VICE Brasil.

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O rolê de um speedrunner pra terminar 'Super Mario 64' em menos de uma hora

Igor “Dezanig” Viana conta como conseguiu ser o melhor jogador de 'Mario 64' do Brasil.

Zerar Super Mario 64 (ou “fechar”, dependendo da região do Brasil em que se mora) com certeza foi um dos pontos altos dos jogadores de Nintendo 64 dos anos 90. Um trampo de semanas, talvez meses, passando por fases que faziam as mãos suarem segurando o controle.

Já para Igor “Dezanig” Viana, terminar o clássico de Nintendo 64 é só mais uma terça-feira. E ele ainda pode fazer isso em menos de uma hora. “Deza”, como Igor é conhecido, pratica speedrun — aquela atividade com o objetivo de zerar jogos o mais rápido possível — e é um dos melhores no que faz.

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Nintendo 64 usado pelo Deza pras runs de 'Super Mario 64'. Foto: Bruno Izidro/VICE Brasil.

No ranking de speedruns de Super Mario 64, ele aparece entre os dez mais rápidos. O brasileiro possui o sétimo lugar com o tempo de 1h41min na categoria de 120 estrelas (a mais completa e prestigiada). Na de 70 estrelas (que é o mínimo pra poder enfrentar o chefão final), ele termina em 48 minutos e possui a décima posição na tabela.

(Para quem não lembra, em Super Mario 64 você coleta estrelas pelas fases para abrir mais mundos até chegar ao chefão final, o Bowser, como de costume. Por isso as speedruns do jogo são divididas por número de estrelas.)

Estar no top 10 de Super Mario 64 diz muito sobre as habilidades Deza. Afinal, o jogo é um dos mais disputados na comunidade de speedrun até hoje, com mais de dois mil speedrunners. Isso acontece não só pela popularidade de Mario, mas também por ser um exemplo de jogo em que é preciso ser bom com o controle para realizar saltos perfeitos e executar manobras precisas.

Na maratona de speedruns Brazilians Against Time (BrAT), que rolou em São Paulo e terminou no último domingo (1º), Deza demonstrou suas habilidades controlando o gorducho da Nintendo.

Deza durante a sua run no BrAT 2018. Foto: Bruno Izidro/VICE Brasil.

Mas o que um jogador assim faz pra chegar a um nível tão absurdo? Batendo um papo com Deza após a speedrun na BrAT, ele falou que jogava Super Mario 64 de três a quatro horas todos os dias, o que custou a ele alguns controles quebrados, um mal que todo speedrunner de jogos de Nintendo 64 passa.

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“O controle de Nintendo 64 não dura muito em speedrun, por causa do analógico, que fica tão gasto depois de um tempo que não presta mais pra jogar”, falou Deza. Por isso, hoje em dia ele usa um controle com a alavanca um pouco modificada, feita com um material de plástico mais resistente e com peças internas de aço.

O controle especial e extra resistente de Deza. Foto: Bruno Izidro/VICE Brasil.

Pra fazer uma speedrun perfeita também é necessário abusar de alguns bugs no jogo. Em Super Mario 64 não são tantos, mas são essenciais para ganhar alguns preciosos segundos. A mais conhecida é a que acontece logo nos primeiros minutos do jogo, chamada Lakitu Skip, que é basicamente pular em certa posição na ponte no castelo pra não ativar a conversa com o personagem na porta.

“Essa foi o primeiro truque [de speedrun] que eu aprendi”, revelou Deza. “Eu fiquei dias praticando até começar a acertar o tempo certo”. Fazer esse truque diminui oito segundos o tempo da speedrun.

Mesmo com um controle decente e explorando bugs, um speedrunner só fica bom mesmo depois de muito treino, o que consiste em jogar várias vezes até adquirir memória muscular nos dedos pra executar ações sem nem pensar direito.

Essa é a parte mais importante e trabalhosa pra quem faz speedrun, porque leva muita tentativa e erro. Para facilitar nos treinos, o que Deza e outros speedrunners de Nintendo 64, Super Nintendo e Mega Drive usam é um cartucho especial chamado EverDrive, que lê cartões de memória com ROMs de jogos.

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Na prática, o EverDrive funciona como um emulador, o que possibilita rejogar partes específicas do jogo de forma mais rápida, só que rodando no videogame original. “Eu jogo fragmentos do game muitas vezes seguidas até eu conseguir fazer tudo de forma consistente. Só depois é que faço speedruns completas do jogo, do começo ao fim”.

EverDrive, o cartucho adaptado para rodar ROMs de emulação no Nintendo 64. Foto: Bruno Izidro/VICE Brasil.

Deza deixa bem claro que isso só é usado pra treinos. Na hora de jogar pra valer, em eventos como a BrAT ou pra buscar recordes, as speedruns são feitas com o cartucho original de Super Mario 64 (que, aliás, é o mesmo desde quando ele jogava quando criança) e no próprio videogame.

O curioso é saber que a comunidade de speedrun normalmente não vê com bons olhos quem só joga por emuladores ou, no caso de Super Mario 64, versões emuladas, como a do Virtual Console do Wii. “Se você usa emulador é muito mal visto. Pode até fazer [speedrun] e tem um ranking separado pra essa versão, mas o pessoal não dá tanto valor”, disse Daze.

Depois de horas e mais horas passando pelas mesmas fases e ouvindo as mesmas interjeições do Mario "enchem o saco", revelou o jogador. "Eu tô a ponto de não fazer mais speedrun de Mario 64.

O jogador treina antes da sua run no BrAT 2018. Foto: Bruno Izidro/VICE Brasil.

Deza fala que chegou em um ponto em que as speedruns de Mario 64 não estão mais evoluindo e jogadores não conseguem tempos melhores. Ele também não pensa em melhorar o próprio tempo e alcançar o recorde.

Na categoria de 70 estrelas, o tempo de Deza (48m38s) é de pouco mais de um minuto de diferença pro primeiro (47m34s), só que tirar um minuto em speedrun exige uma dedicação quase total, o que ele não pode mais fazer.

Atualmente no último ano da faculdade de direito, Deza está cada vez mais deixando as speedruns como um hobby pro tempo livre. “Acho que essa run na BrAT foi a última vez que joguei [Super Mario 64]”, revela.

Por sorte, Deza também faz speedrun de The Legend of Zelda: Ocarina of Time — ele também está entre os dez mais rápidos no jogo, na categoria 100% —, então isso não quer dizer uma aposentadoria completa. Afinal, ser o jogador mais rápido do Brasil nos dois maiores clássicos do Nintendo 64 não é pra qualquer um.

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