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Tecnologia

Não adianta negar: somos muito ruins em distinguir montagens de fotos reais

Quem diz é a ciência, não leve para o pessoal.

Durante uma reunião recente do G20 em Hamburgo, na Alemanha, uma foto começou a circular pela internet mostrando o presidente russo Vladimir Putin em uma discussão acalorada em meio a líderes mundiais:,

Os defensores de Putin gostaram de ver seu líder parecer o centro das atenções. Acontece que a foto é falsa, como verificado por jornalistas atentos, que compararam a imagem com fotografias do mesmo momento tiradas de outros ângulos. Sem essa revelação, ela passaria por verdadeira, e, de acordo com um estudo novo publicado na segunda-feira, é provável que a maioria das pessoas não seja capaz de perceber a montagem. Em meio a tanto furor sobre notícias falsas, trata-se de um achado perturbador que enfatiza o quanto somos facilmente tapeados.

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"Não é muito diferente de fechar os olhos e chutar se uma imagem é falsa ou verdadeira", me contou Sophie Nightingale, autora principal do estudo e estudante de doutorado no Universidade de Warwick, no Reino Unido.

Para testar a precisão de nossos detectores mentais de mentiras, Nigthingale e seus colegas criaram um experimento no qual uma série de imagens aleatórias foram propositadamente alteradas de diversas formas, incluindo a remoção de rugas em um rosto, a dobra no contorno de uma árvore e a posição da sombra de uma pessoa de um jeito que não combina com a iluminação na imagem. (Você pode fazer uma versão do teste aqui.)

Eles realizaram dois testes pela internet com mais de 1.300 participantes no total. Foi exibido um conjunto de dez fotos para cada participante, que incluía algumas alteradas e outras não, e eles foram solicitados a apontar se a foto era ou não modificada. Os autores descobriram que, em média, as pessoas foram capazes de apontar as falsas em somente 66% das vezes – um pouco mais de 50, a probabilidade que eles teriam se simplesmente perguntassem casualmente.

"Interpretamos os resultados como uma capacidade não muito boa", Nightingale me contou.

Os pesquisadores também solicitaram que os participantes apontassem o que fora modificado na imagem e descobriram que, mesmo se conseguimos perceber algo esquisito na imagem, não somos capazes de informar o que é. Em média, as pessoas somente localizaram a manipulação em 45% das vezes.

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Eu fiz a versão mais recente do teste on-line e acertei 80% (uau!), mas achei algumas manipulações sejam mais fáceis de apontar do que outras. (Spoiler: se você quiser tentar, faça isso agora, antes de rolar a barra de texto.)

Crédito: Nightingale et al./Cognitive Research.

Crédito: Nightingale et al./Cognitive Research.

A primeira imagem foi manipulada para alterar o topo das árvores de uma forma fisicamente implausível – Nightingale afirma que isso acontece muitas vezes, quando manipuladores de fotos fazem as coisas às pressas – enquanto a segunda incluiu somente um leve retoque, algo que aceitamos tranquilamente hoje em dia.

Nightingale tem algumas teorias sobre por que não somos bons nesse desafio em particular. Ela afirma que as pessoas são tão inundadas de fotografias que em geral não passam muito tempo estudando uma única imagem. Ela também disse que, historicamente, as fotografias eram difíceis de serem manipuladas e temos uma longa história cultural de acreditar que as fotos são a verdade. Por isso,é difícil mudar essa ideia, mesmo sabendo que, atualmente, as pessoas modificam fotos com muito mais facilidade.

Tecnologias novas estão permitindo que as pessoas produzam imagens e vídeos falsos, realistas de um modo estranho, por exemplo, literalmente colocando palavras na boca de outra pessoa. Se não formos capazes de detectar trabalhos obviamente maquiados pelo Photoshop, é preocupante pensar em como faremos para navegar por meio da era das " fake news".

Ah, lembra da foto no início do texto? Veja só, ela é falsa!