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Opinião

Outra Lista de 2017. “Olha que coisa tão linda, é ela menina"

Música, filmes e séries televisivas em revista. Ou a opinião de mais um indivíduo, no extenso oceano de balanços que por aí proliferam em Dezembro.
Entretenimento em 2017. Adam Granduciel (ao centro, foto por Shawn Brackbill), acompanhado pelas protagonistas do filme "The Handmaiden" (à esq. foto cortesia Amazon Studios/Magnolia Pictures) e da série "The Crown" (à dir. foto cortesia Netflix)

Na mesma altura em que o hino “Garota de Ipanema” era composto pelos magos Vinícius de Moraes e Tom Jobim, Bob Dylan punha cá fora o seu primeiro álbum, o épico de David Lean, Lawrence of Arabia, era um êxito de bilheteira e a série Bonanza dava sinais que iria ser “eterna” (esteve na TV entre 1959 e 1973. É fazer as contas…). Estávamos em 1962. Passadas mais de cinco décadas, quem é que este ano merece atenção e aplausos?

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Pela necessidade de se saber o que contribuiu para a nossa felicidade, há um certo fascínio em compilar o best of numa “listinha” (quer seja individual ou em colectivo, o resultado é sempre subjectivo). Eu, assumo, não sou excepção. Ao contrário do saudoso 86-60-86 - programa de moda apresentado por Sofia Aparício -, aqui as medidas são 15-10-40. Quinze séries televisivas, dez filmes e quarenta escolhas ligadas à música (dez álbuns e trinta canções).


Vê também: "O documentário político que foi banido pelo governo indiano"


Como bónus, há um conjunto de tópicos ligados às três áreas. Se por acaso não conheces alguns dos nomes aqui citados, feel free em ir à descoberta. Foi para isso que viemos ao Mundo! (Antes de conheceres os eleitos, fica a saber que nem todos foram lançados em 2017, muitos só estrearam em Portugal nos últimos 12 meses, mas já tinham visto a luz do dia antes e há um ou outro de que só tive conhecimento este ano)

15 SÉRIES TELEVISIVAS (ou um dos vícios mais recomendáveis deste século)

The Crown. A vida no Palácio de Buckingham não são só sorrisos. Alguém que avise a noiva Meghan Markle. (Foto cortesia da Netflix)

A Netflix é uma das plataformas mais concorridas fora da “televisão normal” e percebe-se que The Crown seja uma das principais bandeiras da empresa. Além de ser uma produção com uma qualidade enorme, o percurso e a vida da actual rainha britânica, Elizabete II (excelentemente interpretada por Claire Foy), evidencia um lado íntimo e humano, que em muitos aspectos é desconhecido - e não me refiro à vertente tabloide. A primeira temporada tem a minha total aprovação e a segunda, que ainda não vi, já está disponível.

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Na televisão portuguesa, foi óptimo ver uma RTP robusta e com séries de primeira água. Das investigações policiais como Happy Valley e Trapped, ao mundo das secretas em Le Bureau des Légendes, a televisão pública mostrou ser adulta na altura de escolher – Versailles e A Mafiosa merecem aqui uma menção especial. No mesmo tom, a SIC Radical também não fica atrás, com destaque para o projecto norueguês Acquitted (sobre o assassino de uma jovem).

Para quem o humor - quando é bem feito - é de uma importância extrema, não podia passar ao lado de Fleabag e as diabruras sexuais e sarcásticas da protagonista; Atlanta, pelo olhar inteligente do músico Child Gambino; Curb Your Enthusiasm, num excelente regresso de Larry David; os nerds e as startups, em Silicon Valley; e o irrepreensível Galifianakis em Baskets. No campeonato do “ver a horas a fio sem parar” - a quem alguém deu o nome de binge-watching -, fui “vítima” da curiosidade incessante por Stranger Things (e as aventuras de Eleven e seus “amiguinhos”), Narcos (interessante mesmo após a morte de Pablo Escobar), e The Girlfriend Experience (a vida de uma acompanhante de luxo com a excelente interpretação da neta de Elvis Presley).

Por fim, no topo do bolo, aparece Big Little Lies. Partindo de um cenário pós-crime, o espectador viaja numa novela maquilhada por intrigas entre mulheres, bullying entre crianças e a inenarrável violência doméstica. Tudo numa terra com gente endinheirada. A seguir, eis as quinze séries que mais me seduziram (lista por ordem de preferência).

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  • The Crown, Temporada 1
  • Fleabag, T1
  • The Girlfriend Experience, T1
  • Big Little Lies, T1
  • Happy Valley (O Vale da Felicidade), T1
  • Stranger Things, T2
  • Atlanta, T1
  • Curb Your Enthusiasm (Calma, Larry!), T9
  • Narcos, T3
  • Le Bureau des Légendes (Agência Clandestina), T3
  • Acquitted (Absolvição), T1
  • Game of Thrones (Guerra dos Tronos), T7
  • Trapped (Encurralados), T1
  • Silicon Valley, T4
  • Baskets, T1


Vê também: "Os realizadores de 'An Insignificant Man' revelam como foi documentar a vida política indiana"


10 FILMES (ou como o cinema está longe de estar dependente de estórias com super-heróis)

The Handmaiden. Erotismo e suspense a rodos. (Foto cortesia Amazon Studios/Magnolia Pictures)

A sétima arte fica marcada pela as revelações sobre a conduta de Harvey Weinstein (que abriram várias “caixas de pandora” na sociedade norte-americana sobre o assédio e o abuso sexual) e pelo caricato golpe de teatro na Cerimónia dos Óscares. Quando se pensava que La La Land seria o grande vencedor da noite, eis que o erro é rectificado e a equipa de Moonlight recebe a tão aguardada estatueta.

Fora deste circo mediático, onde alguns dos meus preferidos não foram premiados pela Academia (casos do actor Viggo Mortensen, em Captain Fantastic e do argumento de The Lobster), fui conquistado por duas boas “americanices”. O thriller Get Out - em que o jogo de aparências está no centro do enredo - e a estória verídica em Hidden Figures. Aqui, três negras (e as respectivas mentes geniais) marcam a história da NASA, na Guerra Fria, e numa época em que existia segregação sexual e racial.

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Saltando as fronteiras de Hollywood, The Handmaiden é uma trama erótica imprópria para quem faz da previsibilidade o seu modus vivendi. Aliás, se estás a par do trabalho do coreano Park Chan-wook (autor de Oldboy) sabes que a violência e o absurdo estão intimamente ligados à humanidade de alguns dos personagens. Já no brasileiro Aquarius e no inglês I, Daniel Blake, reivindicação é uma das palavras-chave. O primeiro tem a extraordinária Sônia Braga e mostra como se deve lidar com gente sem escrúpulos, o segundo o laborioso realizador Ken Loach e o foco nas insuficiências e falhas da sociedade.

O sueco A Man Called Ove cavalga a amargura e a má disposição de um idoso para desembocar numa amizade inesperada e, pelo valor do argumento (baseado num livro com o mesmo nome), irá ter uma versão norte-americana com o dedo de Tom Hanks. Por falar em finger, Raw é um brilhante exercício cinematográfico francês, pintado com as cores do desejo e do terror. É, por outro lado, um desafio engraçado aos vegetarianos e uma forma original de dar as boas vindas a caloiros universitários. Continuando pelo país de Emmanuel Macron, a pérola dramática e com várias passagens divertidas, Divines, mostra jovens raparigas de um gueto com o anseio de melhorarem as suas vidas. Mesmo que tenham que enfrentar alguns perigos…

A fechar, há dois filmes completamente diferentes entre si, mas com uma dimensão fantástica. Da Ucrânia, o provocador e visceral The Tribe, em que é impossível não ficar dilacerado com algumas cenas chocantes. Estamos perante um documento com actores surdos-mudos e, por isso, sem palavras e com língua gestual. Baseado em factos históricos, Dunkirk relata uma situação periclitante sofrida pelas tropas inglesas na Segunda Guerra Mundial. Com o olhar clínico de Christopher “Interstellar & Inception” Nolan, somos levados a ver a estratégia militar por mar, terra e ar. Mais do que santificar algum herói, o cineasta releva a bravura dos protagonistas (abaixo lista por ordem de preferência).

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10 ÁLBUNS E 30 CANÇÕES (ou como a música deste milénio é um mix de emoções no campeonato do shuffle)

Com esta “droga” sonora, nem me fales de centro de reabilitações.

A nostalgia e a intimidade são dois vectores marcantes em A Deeper Understanding, o registo que deixa para trás a concorrência. Através de longos solos de guitarra e ritmos que me remetem para a mítica dança em “Dancing In The Dark”, ou melancolias de fazer corar o mais solitário dos solitários - como a sublime “Thinking Of A Place” -, a banda de Adam Granduciel convida o ouvinte a navegar num misto de fun e cool sadness.

Bob Dylan, Springsteen, Dire Straits e até os improváveis Rádio Macau (com a harmónica aos quatro minutos de “Nothing To Find” - ver vídeo abaixo) e Rinôçérôse (com a estridente “guitarrada” por volta dos três minutos e trinta segundos em “Up All Night”), são nomes que me saltam à vista durante a audição. Depois do belo My Woman, de Angel Olsen, o ano passado, o disco de estreia dos The War on Drugs na multinacional Atlantic Records é um sucessor à altura.

2017 é ainda iluminado pela visão feminina de artistas bafejadas pela primeira letra do abecedário, ou seja, Aldous Harding, Azniv Korkejian (Bedouine) e Alynda Segarra (Hurray For The Riff Raff); acarinhado pela sensibilidade lisboeta de Luís Severo; pelo rock porreiraço dos Protomartyr e de Kevin Morby; empolgado pela competência nostálgica de James Murphy e dos seus LCD Soundsystem; abrilhantado pelo néon electrónico da dupla Talaboman; e animado pelos teens australianos, The Goon Sax, que cantam com uma descontracção do caraças, não fosse o pai de um dos membros o fundador dos Go-Betweens (yeah, Mr.

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Outono Soundsystem

Robert Forster).

Quanto às canções, e num ano em que o termo “apocalítico” andou de mãos dadas com as intervenções de Donald Trump, não deixa de ser engraçado que o tema dos Cigarretes After Sex seja o meu favorito - com uma letra, diga-se, de cariz íntimo e nada político (ver vídeo abaixo).

ÁLBUM (lista por ordem de preferência)

CANÇÃO (lista por ordem alfabética)

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BÓNUS (Ou Mais 20 Tópicos Aleatórios Que Marcaram O Meu Dois Mil E Dezassete)

  • Teledisco: “Humble”, de Kendrick Lamar (ver vídeo acima); “Eu Escolhi Você”, Clarice Falcão; “Reverie”, Arca; “Old Habits”, Minta & The Brook Trout; “The Great Undressing”, Jenny Hval.
  • Top Binge-Watching: Stranger Things.
  • A tal que não me importava de ter como “girl next door: A actriz Mary Elizabeth Winstead (Fargo/T3 ) ex aequo com Riley Keough (The Girlfriend Experience).
  • O tal com um cool look: O personagem principal de Baby Driver (pelo actor Ansel Elgort).
  • Melhor Argumento Filme: The Handmaiden, escrito por Park Chan wook e Chung Seo-kyung.
  • Cena de Humor Numa Série: A protagonista a masturbar-se com um discurso de Obama (em Fleabag).
  • Grupo de Actores reunidos numa Série: The Crown ex aequo com Big Little Lies.
  • Grupo de Actores reunidos num Filme: The Tribe.
  • Actor/Actriz “A seguir a carreira”: Oulaya Amamra (em Divines).
  • Tema/Cover: “Love Drought”, original de Beyoncé, por Serpentwithfeet.
  • Canção Ainda Bem Que Apareceu: “Amar Pelos Dois”, de Salvador Sobral, na Eurovisão.
  • Canção numa Série ou num Filme: “Lark”, do trio Au Revoir Simone, em Twin Peaks/T3.
  • Guilty Pleasure Song: “Sign of the Times”, de Harry Styles.
  • Álbum de Música On Repeat: A Deeper Understanding, The War On Drugs.
  • Álbum de Música “Como Desapontar Um Fiel Seguidor”: Everything Now, Arcade Fire.
  • Cena Picante: O escaldante e, ao mesmo tempo, funny threesome no quarto episódio da segunda temporada de Insecure.
  • Vilão dentro do ecrã: Tommy Lee Royce (o actor James Norton, em Happy Valley).
  • Vilão fora do ecrã: Kevin Spacey e as acusações de assédio sexual de que foi alvo.
  • Diálogo numa Série ou num Filme: A conversa em Stranger Things entre Dustin e Steve Harrington, sobre o gel de cabelo e “como conquistar alguém”, enquanto percorriam uma linha férrea.
  • O maior cromo numa Série ou num Filme: Larry David a fazer de si próprio em Curb Your Enthusiasm.

Para terminar, se fores daqueles que curte o Natal, em baixo podes ouvir o novíssimo tema de Manuel Fúria e Os Náufragos. Desejos de Boas Festas e que 2018 te engrandeça a vida com muita e boa arte!


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