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Retratos bonitos das horas de vida que perdemos diariamente no metro de Lisboa

"O não-lugar", a série fotográfica de César de Melo que retrata o dia-a-dia de todos nós.
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"O não-lugar", a série fotográfica de César de Melo.

Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

Acordamos de manhã e tocamos com os pés no chão frio. Arrastamo-nos até ao duche, depois até à cozinha e depois até à paragem de autocarro. Enfrentamos a rua, os encontrões, os olhares vazios. Desviamo-nos dos carrinhos de bebés, damos lugar aos mais velhos, agarramo-nos com certo pudor aos postes de apoio do metro. Saímos do trabalho quando já o dia dá lugar à noite. Esperamos na paragem mais tempo do que gostaríamos, encolhidos entre capuchos e cachecóis, na tentativa de escapar ao vento. Evitamos colisões entre guarda-chuvas, poças de água na calçada e trocar olhares com desconhecidos. Sorrimos àqueles com quem nos cruzamos diariamente porque coincidimos horários e afastamo-nos dos que comem dentro do metro, seja por estarmos com fome ou porque nos faz impressão o cheiro a queijo.

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Acordamos de manhã e tocamos com os pés no chão frio. Dia após dia saímos de casa e enfrentamos o mundo exactamente pela mesma ordem, no mesmo transporte, na mesma espera e entre os mesmo encontrões que no dia anterior. Funcionamos em rotinas, em horários. Vamos do ponto A ao ponto B, de segunda a sexta, das 9h às 18h. A vida é uma cópia de si mesma que se repete diariamente, parafraseando (mal) o filme Fight Club. E nós somos sombras do que gostaríamos de ser, pelo menos na pouca vontade com que subimos ao metro, com que trocamos de linha, com que carregamos no “stop”, com que picamos o passe.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

O Relatório Global de Transporte Público 2019 da Moovit, aplicação gratuita de mobilidade, revelou que 45 por cento dos utentes lisboetas são obrigados a fazer dois transfers por viagem para chegarem ao destino, sendo que 21 por cento tem que fazer três ou mais. Na caso da cidade do Porto, as percentagens são de 44 e 7, respectivamente. O documento analisou também, além da quantidade de transportes necessários num só trajecto, os tempos de espera, de viagem e a distância média - quer total, quer entre paragens.

Em Lisboa, uma viagem em transporte público demora, em média, 45 minutos (duração semelhante à registada em Madrid, sendo que a cidade espanhola é muito maior) e na Invicta o utente demora cerca de 38 minutos entre sair de casa e chegar ao local de trabalho. Contudo, o tempo de espera é o mesmo nas duas, 13 minutos na capital e 12, 5 no Porto. O relatório, que analisou o percurso de milhões de pessoas em 99 cidades do mundo de 25 países, concluiu que os utentes de Lisboa fazem, em média, 7,89 quilómetros por viagem e precisam de caminhar cerca de 808 metros para chegarem a uma paragem. No Porto, a distância reduz-se para 6,5 quilómetros totais e 733 metros a percorrer até à paragem mais próxima.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

Entre estas idas e vindas rotineiras, em que “as moscas mudam mas a merda é a mesma”, César de Melo, fotógrafo de rua e colaborador da VICE, decidiu apontar-lhes a lente. Daí surgiu a série O não lugar, que mostra esta parte menos glamorosa do nosso dia-a-dia. “O metro é um meio utilizado para nos transportar, mas é também um local que pode ser desconfortável e suspeito, onde nossa área é invadida por outros e a deles por nós”, diz-me o fotógrafo. “É um espaço que não é nosso, mas que tomamos assim que entramos nele. A maneira como nos comportamos dentro dele revela a nossa essência e a nossa forma de interagir com aquilo que nos rodeia."

Vê abaixo as fotografias daquele que não é apenas o teu dia-a-dia, mas sim o de todos nós. A solidão palpável, a pressa, o sono, a agitação. César remata: “fotografado muitas vezes de forma furtiva, outras de forma declarada, este é um retrato desse não-lugar”:

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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Todas as fotografias são da autoria de César de Melo.

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