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Música

Conheça o Clube que Há Nove Anos Resiste à Guerra do Tráfico no México

Como o pequeno Hardpop usa o techno para sobreviver na noite de Ciudad Juarez, uma das cidades mais violentas do mundo.
Alicia Fernandez

Hardpop é um clube despretensioso, que comporta apenas 500 pessoas, e está localizado num shopping em uma estrada na Ciudad Juarez, uma cidade na fronteira entre os Estados Unidos com o México, lugar que por muito tempo foi considerado um dos mais perigosos do mundo, devido às guerras territoriais sangrentas entre os cartéis de drogas do México nas principais rotas de contrabando para os Estados Unidos. Em 2010, no auge da violência, houve quase 300 assassinatos por mês em Juarez — mais ou menos a mesma quantidade de mortes anual em Nova York.

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Ainda assim, o clube atrai regularmente DJs de house e techno como o Tale of Us, Roman Flügel, Nina Kraviz, Solomun e Frank & Tony. O club, inclusive, celebrará seu nono aniversário em setembro com a Sasha. Às vezes, esses DJs até mesmo pulam viagens para cidades maiores no México, como a cidade do Cabo, e vêm diretamente para a Hardpop, atraídos pela galera mais jovem, vibrante e pesadona da comunidade de dance local.

Embora a Hardpop esteja prosperando, seu passado está entrelaçado com a história turbulenta da cidade de Juarez. Em 2010, ela até chegou a ser fechada por um período quando os donos acharam que as operações eram arriscadas demais. No final de agosto na NPR da rádio Latino USA, os produtores Marlon Bishop e Max Pearl (ex-editor do THUMP) examinam a ascensão e declínio — e ascensão novamente — do famoso clube e como ele construiu uma comunidade que frequentemente arriscou suas vidas em prol da zueira enquanto as pessoas ao seu redor estavam morrendo.

Você pode ouvir um trecho aqui — ou no player abaixo. Nós trocamos uma ideia com o Pearl para ficarmos por dentro dessa história fascinante.

Hardpop é um clube despretensioso, que comporta apenas 500 pessoas, e está localizado num shopping em uma estrada na Ciudad Juarez, uma cidade na fronteira entre os Estados Unidos com o México, lugar que por muito tempo foi considerado um dos mais perigosos do mundo, devido às guerras territoriais sangrentas entre os cartéis de drogas do México nas principais rotas de contrabando para os Estados Unidos. Em 2010, no auge da violência, houve quase 300 assassinatos por mês em Juarez — mais ou menos a mesma quantidade de mortes anual em Nova York.

Ainda assim, o clube atrai regularmente DJs de house e techno como o Tale of Us, Roman Flügel, Nina Kraviz, Solomun e Frank & Tony. O club, inclusive, celebrará seu nono aniversário em setembro com a Sasha. Às vezes, esses DJs até mesmo pulam viagens para cidades maiores no México, como a cidade do Cabo, e vêm diretamente para a Hardpop, atraídos pela galera mais jovem, vibrante e pesadona da comunidade de dance local.

Embora a Hardpop esteja prosperando, seu passado está entrelaçado com a história turbulenta da cidade de Juarez. Em 2010, ela até chegou a ser fechada por um período quando os donos acharam que as operações eram arriscadas demais. No final de agosto na NPR da rádio Latino USA, os produtores Marlon Bishop e Max Pearl (ex-editor do THUMP) examinam a ascensão e declínio — e ascensão novamente — do famoso clube e como ele construiu uma comunidade que frequentemente arriscou suas vidas em prol da zueira enquanto as pessoas ao seu redor estavam morrendo.

Você pode ouvir um trecho aqui — ou no player abaixo. Nós trocamos uma ideia com o Pearl para ficarmos por dentro dessa história fascinante.

THUMP: Como você ficou sabendo sobre a Hardpop?
Max Pearl: Muito do que eu faço é escrever sobre DJs que estão em turnê, e volta e meia eu me deparava com a Hardpop. Grandes DJs de tech-house como Dixon e Tale of Us — pessoas que tocavam em festas para milhares de outras pessoas e em grandes festivais — se apresentavam lá. Então eu estava trocando ideia com o Marlon [produtor da Latino USA] numa festa, e ele me fez perceber como é bizarro que a cidade de Juarez não só é conhecida como uma cidade perigosa, mas também é uma espécie de cidade provinciana. De todas as cidades que esses DJs geralmente vão tocar, essa é a cidade.

O que levou esses DJs até o clube?
Quando penso naquela música, não penso em pessoas superengajadas. Mas o foco da Harpop não era apenas fazer com que as pessoas fossem até o clube e bebessem drinks. Quando entrevistei os DJs e promoters, eles me falaram que o público é uma galera jovem com idades entre 20 e 25 anos que estão surtando porque estão superempolgados em ver as pessoas quebrando tudo na pista de dança. Eles são super, superanimados.

Ainda havia drogas e um negocinho para os que curtem uma festa mais pesada, levando em conta a reputação da cidade?
Bom, os organizadores tinham uma campanha anti-drogas porque eram muito conscientes do efeito que aquilo tinha no país. Não acho que era um lugar lotado de drogados.

Pode me falar um pouco mais sobre por que Juarez é um lugar tão perigoso, especialmente à noite?
Havia uma guerra entre cartéis que estavam tentando obter acesso às rotas para levar drogas até os Estados Unidos através da fronteira. Enviaram a força policial militar e federal, mas não deu certo porque os cartéis eram mais poderosos do que o governo. Eles tinham uma presença forte nas mídias sociais, então às vezes escreviam um tuíte dizendo: não vão para as ruas essa noite. Basicamente, tinham umas noites de lei marcial onde a cidade estava em alerta, e a ameaça era de que se você saísse, levaria um tiro.

Mas as pessoas estavam desafiando este alerta.
Sim, estavam. O personagem principal na nossa história — o nome dela é Alicia Fernandez e ela é fotojornalista em um jornal da região — nos disse que na noite em que o Lee Burridge estava se apresentando no clube, a amiga dela estava fazendo um esquenta num bar. Ninguém sabia o que tinha acontecido até o after, quando eles viram os tuítes e se deram conta de que a amiga deles tinha sido atingida num tiroteio. Também houve sequestros, decapitações... Aconteciam as coisas mais bizarras possíveis.

Nossa, isso é muito louco.
A violência tem sido um problema para a classe trabalhadora já faz um bom tempo. No livro 2666 do [Roberto] Bolaño, ele escreve sobre a cidade de Juarez e o problema das pessoas pobres, mulheres da classe operária desaparecendo no deserto. Este é o momento em que a violência respinga na classe média, e eles ficam tipo, cacete, isso realmente está acontecendo. Em qualquer lugar que fosse, se você era da classe operária, já estava bem familiarizado com essa violência há muito tempo.

Em um dado momento os promoters foram confrontados com a seguinte questão: deveríamos fechar o clube ou não? E as pessoas estavam implorando para eles, tipo, por favor não feche o clube, não temos mais nada para fazer.

Mas não é só uma questão de ter o que fazer, certo? Eu sinto que sair pra zueira também representava algo maior para essas pessoas.
Representava que "nós somos pessoas normais e temos vidas normais". A Alicia fotografava todos aqueles defuntos durante o dia para o trabalho, mas ao mesmo tempo tentava viver sua vida como uma garota normal de 20 e poucos anos à noite.


Spektre "Opus" ao vivo na Hardpop (Foto via)

Havia algum material que você gostaria de ter incluído mas teve que cortar?
Um trecho que tive que cortar era quando eles falavam sobre como eu estava me beneficiando com aquela grana que estava rolando e me sentia culpado por isso. Em 2005, houve um boom graças a novas empresas e começaram a surgir carros de luxo e uns ricaços andando por aí. Do dia para a noite estávamos fazendo muito dinheiro, e eles começaram a se dar conta de onde a grana vinha — as pessoas estavam fazendo lavagem de dinheiro por meio dessas novas empresas. Lembro de ouvir um dos caras que fundou o clube me dizendo que... bom, é quase a mesma coisa que assinar um contrato com o diabo. Podemos ter esses clientes dispostos a gastar essa grana e ficarmos ricos. Ou podemos nos manter na surdina e não fazer propagandas das nossas festas, porque, no fim, sim, é muito dinheiro, mas haverão consequências.

É dinheiro sujo, basicamente.
Você não quer ter essas pessoas circulando pelos seus empreendimentos. Também houve um monte de merda padrão das máfias — se você não gastasse uma grana para proteger o seu negócio, eles o queimariam. Hardpop foi um dos últimos lugares a fechar, porque muitas pessoas estavam com medo de que os cartéis aparecessem por lá. Não acho que eles receberam ameaças diretamente, mas era com isso que estavam realmente preocupados. Eles se destacam na comunidade quando não há mais tantos negócios funcionando.

E eles estavam fazendo dinheiro!
Fazendo muito dinheiro. No fim das contas, eles fecharam em agosto de 2010 porque estavam muito paranoicos com isso. Então começaram a fazer festas secretas divulgadas apenas nas mídias sociais, nenhum flyer ou coisa do tipo. Uma vez que os cartéis diminuíram, eles abriram novamente, porque o foco da violência agora estava em outras partes do México. Então o surto de violência que eles tiveram contato agora está acontecendo em Michoacan, Guerrero e Jalisco. Exatamente agora, sinto que Juarez é muito mais seguro.

Com o nono aniversário com a Sasha que rolará em breve, parece que tudo acabou dando certo para a Hardpop.
Sim, parece que sim.

Max Pearl e Michelle Lhoow são escritores e editores que curtem dançar juntos em Nova York. Siga os dois no Twitter.

Tradução: Stefania Cannone

THUMP: Como você ficou sabendo sobre a Hardpop?
Max Pearl: Muito do que eu faço é escrever sobre DJs que estão em turnê, e volta e meia eu me deparava com a Hardpop. Grandes DJs de tech-house como Dixon e Tale of Us — pessoas que tocavam em festas para milhares de outras pessoas e em grandes festivais — se apresentavam lá. Então eu estava trocando ideia com o Marlon [produtor da Latino USA] numa festa, e ele me fez perceber como é bizarro que a cidade de Juarez não só é conhecida como uma cidade perigosa, mas também é uma espécie de cidade provinciana. De todas as cidades que esses DJs geralmente vão tocar, essa é a cidade.

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O que levou esses DJs até o clube?
Quando penso naquela música, não penso em pessoas superengajadas. Mas o foco da Harpop não era apenas fazer com que as pessoas fossem até o clube e bebessem drinks. Quando entrevistei os DJs e promoters, eles me falaram que o público é uma galera jovem com idades entre 20 e 25 anos que estão surtando porque estão superempolgados em ver as pessoas quebrando tudo na pista de dança. Eles são super, superanimados.

Ainda havia drogas e um negocinho para os que curtem uma festa mais pesada, levando em conta a reputação da cidade?
Bom, os organizadores tinham uma campanha anti-drogas porque eram muito conscientes do efeito que aquilo tinha no país. Não acho que era um lugar lotado de drogados.

Pode me falar um pouco mais sobre por que Juarez é um lugar tão perigoso, especialmente à noite?
Havia uma guerra entre cartéis que estavam tentando obter acesso às rotas para levar drogas até os Estados Unidos através da fronteira. Enviaram a força policial militar e federal, mas não deu certo porque os cartéis eram mais poderosos do que o governo. Eles tinham uma presença forte nas mídias sociais, então às vezes escreviam um tuíte dizendo: não vão para as ruas essa noite. Basicamente, tinham umas noites de lei marcial onde a cidade estava em alerta, e a ameaça era de que se você saísse, levaria um tiro.

Mas as pessoas estavam desafiando este alerta.
Sim, estavam. O personagem principal na nossa história — o nome dela é Alicia Fernandez e ela é fotojornalista em um jornal da região — nos disse que na noite em que o Lee Burridge estava se apresentando no clube, a amiga dela estava fazendo um esquenta num bar. Ninguém sabia o que tinha acontecido até o after, quando eles viram os tuítes e se deram conta de que a amiga deles tinha sido atingida num tiroteio. Também houve sequestros, decapitações… Aconteciam as coisas mais bizarras possíveis.

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Nossa, isso é muito louco.
A violência tem sido um problema para a classe trabalhadora já faz um bom tempo. No livro 2666 do [Roberto] Bolaño, ele escreve sobre a cidade de Juarez e o problema das pessoas pobres, mulheres da classe operária desaparecendo no deserto. Este é o momento em que a violência respinga na classe média, e eles ficam tipo, cacete, isso realmente está acontecendo. Em qualquer lugar que fosse, se você era da classe operária, já estava bem familiarizado com essa violência há muito tempo.

Em um dado momento os promoters foram confrontados com a seguinte questão: deveríamos fechar o clube ou não? E as pessoas estavam implorando para eles, tipo, por favor não feche o clube, não temos mais nada para fazer.

Mas não é só uma questão de ter o que fazer, certo? Eu sinto que sair pra zueira também representava algo maior para essas pessoas.
Representava que "nós somos pessoas normais e temos vidas normais". A Alicia fotografava todos aqueles defuntos durante o dia para o trabalho, mas ao mesmo tempo tentava viver sua vida como uma garota normal de 20 e poucos anos à noite.

Spektre "Opus" ao vivo na Hardpop (Foto via)

Havia algum material que você gostaria de ter incluído mas teve que cortar?
Um trecho que tive que cortar era quando eles falavam sobre como eu estava me beneficiando com aquela grana que estava rolando e me sentia culpado por isso. Em 2005, houve um boom graças a novas empresas e começaram a surgir carros de luxo e uns ricaços andando por aí. Do dia para a noite estávamos fazendo muito dinheiro, e eles começaram a se dar conta de onde a grana vinha — as pessoas estavam fazendo lavagem de dinheiro por meio dessas novas empresas. Lembro de ouvir um dos caras que fundou o clube me dizendo que… bom, é quase a mesma coisa que assinar um contrato com o diabo. Podemos ter esses clientes dispostos a gastar essa grana e ficarmos ricos. Ou podemos nos manter na surdina e não fazer propagandas das nossas festas, porque, no fim, sim, é muito dinheiro, mas haverão consequências.

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É dinheiro sujo, basicamente.
Você não quer ter essas pessoas circulando pelos seus empreendimentos. Também houve um monte de merda padrão das máfias — se você não gastasse uma grana para proteger o seu negócio, eles o queimariam. Hardpop foi um dos últimos lugares a fechar, porque muitas pessoas estavam com medo de que os cartéis aparecessem por lá. Não acho que eles receberam ameaças diretamente, mas era com isso que estavam realmente preocupados. Eles se destacam na comunidade quando não há mais tantos negócios funcionando.

E eles estavam fazendo dinheiro!
Fazendo muito dinheiro. No fim das contas, eles fecharam em agosto de 2010 porque estavam muito paranoicos com isso. Então começaram a fazer festas secretas divulgadas apenas nas mídias sociais, nenhum flyer ou coisa do tipo. Uma vez que os cartéis diminuíram, eles abriram novamente, porque o foco da violência agora estava em outras partes do México. Então o surto de violência que eles tiveram contato agora está acontecendo em Michoacan, Guerrero e Jalisco. Exatamente agora, sinto que Juarez é muito mais seguro.

Com o nono aniversário com a Sasha que rolará em breve, parece que tudo acabou dando certo para a Hardpop.
Sim, parece que sim.

Max Pearl e Michelle Lhoow são escritores e editores que curtem dançar juntos em Nova York. Siga os dois no Twitter.

Tradução: Stefania Cannone