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Música

Discos: Simon Scott / Danny Norbury

O preciosismo das curtas durações.

Split

Brian Records

Nas barbas de uma época algo obcecada pelos grandes tamanhos, a

Brian Records

tem-se isolado das restantes

labels

 por lançar música de curta duração em formatos bastante especiais (acetatos, disquetes, etc). Esta parece ser uma opção de risco, num tempo em que se promete muito por pouco dinheiro, mas a verdade é que as edições da Brian esgotam uma após a outra, até porque são lançadas em números extremamente limitados. Ainda assim todo este preciosismo, em torno dos discos, não seria mais que fogo-de-vista se por detrás do selo britânico não houvesse um critério bem apurado. Não é contudo de admirar que o bom gosto abunde nas edições da Brian, já que esta começou por ser um clube de melómanos, que se juntavam para trocar músicas e fazer compilações (que por qualquer motivo inexplicável nunca deveriam incluir Van Morrison). Uma boa parte desse espírito de clube de amigos verifica-se ainda nos discos feitos artesanalmente e com um toque personalizado. Ou pelo menos é esta a história que consta da página da casa britânica, que nos deixa sempre um pouco desconfiados do seu humor, mas absolutamente seguros da qualidade dos discos que trazem cá para fora.

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O

Split

, que junta Simon Scott e Danny Norbury, no mesmo acetato de oito polegadas (isto porque a fábrica deixou de produzir os de cinco polegadas), é uma daquelas jóias que ilustra bem o que a Brian tem de melhor: cada um dos envolvidos oferece dois temas de sensivelmente dois minutos deslumbrantes de uma ponta à outra. E aqui a curta duração de cada faixa consegue dois feitos pouco habituais: o controlo de qualidade fica praticamente assegurado e ninguém pode alegar que não escutou o disco completo por falta de oito minutos (a menos que seja um “tubarão” do

Shark Tank

). Prolonguei-me a falar sobre a eficiência de

Split

, porque os seus temas merecem muito mais ser escutados do que propriamente “pensados” ou “criticados” (coisa feia). No seu lado do acetato, Simon Scott (baterista da formação clássica de Slowdive) precisa só mesmo de uma guitarra acústica e de algumas gravações de campo para demonstrar que nunca o tempo é perdido enquanto o escutamos. “Eel Spine” e “Trees Return to Soil” têm um pouco do

storytelling

 mágico do nosso Norberto Lobo e podem ser escutados repetidamente sem enjoar. Redondo triunfo, meus senhores. A contribuição de Danny Norbury contrapõe-se à de Simon Scott por ser mais triste e clássica no que extrai de um violoncelo tocado em modo de lamento sucinto (por isso mesmo nunca lamechas). A melhor nota de avaliação para

Split

pode até ser o logotipo da própria Brian Records: um boneco robusto com os dois polegares apontados ao céu.