As Haim são as minhas melhores amigas

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Música

As Haim são as minhas melhores amigas

Atenção, não sou uma groupie doentia. Quer dizer, se calhar sou um bocado.

No passado dia 30 de Novembro, depois de intermináveis horas de espera, duas de voo e um café no centro de Paris, voei em direção à La Gaîté Lyrique, uma sala de concertos parisiense que estava quase por estrear e que recebia nessa noite a banda Haim.

Devo confessar que a minha relação com as três irmãs da Califórnia — Alana, Danielle e Este — é um bocado doentia. Descobri Haim bem antes do tão aclamado LP Days Are Gone. Sou louca por Fleetwood Mac e acabei por descobrir as babes ao encontrar a sua já mítica cover do tema "Oh Well". Paixão à primeira visualização, download de todos os EPs e singles disponíveis, pesquisa exaustiva de alguns unreleased tracks: quando algo é bom não me importo de comer sempre do mesmo.

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Por magia consegui arranjar o número de telemóvel da baixista e mana mais velha, a Este. Podem chamar-me fanática ou groupie mas acho que no fundo sou só uma "pain in the ass", quando quero algo não descanso enquanto não o tiver. Resultado de tudo isto: encontro marcado para Paris.

Apesar de ter chegado bastante cedo à sala, quando cheguei backstage as babes já tinham saído para jantar. Fiquei pela sala a ver Saint Raymond que abrir o concerto com bastante energia. A multidão compacta de 700 pessoas (casa cheia) reage de forma positiva, temos direito ao habitual "best crowd of the tour speach". Pouco passava das 21h30 quando as Haim pisaram o palco. Com um look muito mais grunge do que aquilo que se podia esperar de uma girls-band da California: calções rasgados, baton vermelho, casaco de pele e baggy t-shirts — elas estão ali para o rock e não pelo glamour — e um sorriso que enganava quem não esperaria o melhor delas. Na plateia ouviu-se maioritariamente uns "Este" estridentes — a irmã mais velha é claramente a mais carismática e adorada das três, provavelmente por ser tão acessível e próxima dos fãs. Elas agarram os instrumentos e começam logo em grande com a "Falling". Caiu-lhes a máscara e transformam-se em bêtes de scène, alternando entre riffs de guitarra e vozes com uma rítmica digna de um tema de r&b dos anos 90. Segue-se "The Wire" e a cover de "Oh Well", e é aí que chego à conclusão que é incrivelmente difícil etiquetar estas miúdas. De facto, elas são a salvação da Pop actual mas conseguem homenagear o rock clássico dos anos 80. Ainda assim, as influencias parecem-me múltiplas e acaba por ser difícil encaixá-las num único género (ou dois ou três, vá). A plateia continou incrivelmente receptiva e entre cada musica tivemos direito a uma piada ou duas da Este ou da Alana. Prendas são atiradas para o palco, elas sentem-se em casa e nós também. Apesar de estarem ali 700 pessoas, o concerto tem um ambiente completamente intimista. Somos transportados para a sala de estar de papa e mama Haim, primeira sala de ensaio das três irmãs, com temas mais calmos: "Honey & I" e "Go Slow". Vem então a primeira novidade da noite: "My Song 5", a musica que, segundo elas, foi a mais complexa e difícil de escrever tirando-as da sua zona de conforto. Transpira-se "girl power" em cima do palco, Alana salta e dança ocupando o espaço todo enquanto a sua irmã mais velha Este não pára com as suas tão famosas bass faces. A Danielle preenche a sala da sua voz imperial.

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No final, ainda houve tempo para "Don't Save Me" (escrita voluntariamente "Dont't Save Me" na setlist em homenagem ao erro de "typo" na capa do álbum), "If I Could Change Your Mind" (outra novidade na setlist desta digressão) e a "Forever" que pôs a plateia, há muito conquistada, a dançar.

Deixaram o palco e, como seria de esperar, a plateia reclamou por mais e veio a "Running if you call my name" só com a guitarra da Danielle acompanhada pelas três vozes. Acabou por ser o momento mais emotivo, mesmo antes do agradecimento de uma Alana emocionada. Mas não tinha sido o fim. Acabam então em grande como sempre o fazem com a "Let Me Go" e terminam cada uma no seu drumset para uma battle rítmica. Parece que não há mesmo nada que estas raparigas não consiguam fazer. Desaparecem do palco com o publico a pedir mais, mas já não dava para mais. Sigo então para fora da sala, aproveito para cumprimentar o vocalista de Saint Raymond. Tenho tempo de ir apanhar um bocado de ar antes de ser levada para backstage pela segunda vez. Quando me apresento à Este, ela nem me deixa acabar, grita o meu nome e dá-me um abraço bem apertado, ela é, como era de esperar, uma torre ao meu lado. Ficamos as duas um bocado à conversa em frente ao camarim delas e acabo a mostrar-lhe a fotografia da minha sobrinha recém-nascida, é oficial somos bffs! Ela abre então a porta: "Olhem quem está aqui, a Anaïs!", mal ponho o pé dentro da sala que a Alana grita o meu nome e tenho direito a outro abraço bem apertado. A Danielle igual a ela mesma, mais calma do que as suas irmãs, mas não menos simpática também me vem cumprimentar de um abraço. Bebi cerveja e champanhe (enquanto comentavam o facto de ser ridículo terem tanta coisa à sua disposição só para seis pessoas). A conversa continuou. Percebi que os últimos tempos foram uma loucura para as miúdas. Tiveram que cancelar toda a promo prevista naquele dia por terem chegado atrasadas a Paris. Sendo uma fã incondicional do programa, pergunto-lhes como foi actuar e participar no Saturday Night Live, definiram a experiência como sendo a realização de um sonho de criança. Tentei então convencê-las a vir a Portugal o mais rápido possível. Feedback positivo: "Lisboa é mesmo uma cidade que queremos visitar!". Puxando a brasa à minha sardinha, afirmo que o "Porto is the shit!", depois de umas gargalhadas a Este afirma que só virão ao Porto se eu prometer que as levo a comer um bom peixe (malta, chutem sugestões). Fica então prometido o novo encontro com elas, brevemente, mas desta vez em terra lusófona.

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