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Punk

Seis razões que fazem do John Lydon um tipo mais fixe do que o teu pai

Devias mesmo ir ver PiL ao próximo Clubbing.

Fotografia por Paul Heartfield Nos Sex Pistols armou uma revolução: cristalizou um movimento fluido de regresso às formas simples do rock e deu-lhe uma consistência, imagem e direcção novas, ajudando a fazer do punk um inescapável fenómeno cultural. Não ficou satisfeito e nos Public Image Ltd (PiL, para abreviar) fez várias revoluções, copiadas por muitos que se seguiram. Nesta altura, com 57 anos, podia estar reformado na Califórnia que escolheu para viver (e onde até já arranjou sarilhos na Disneyland), mas voltou com um disco cheio de coisas boas, This is PiL, o primeiro álbum de estúdio do grupo em 20 anos. Falo, claro, de John Lydon, o tipo que um tablóide qualquer chegou a considerar “a maior ameaça” à juventude britânica “desde Hitler”. Os PiL actuam, a 22 de Junho, no Clubbing da Casa da Música, no Porto, um dos concertos mais imperdíveis de todo o programa Verão na Casa. Eis seis razões para lá estares. TEM 57 ANOS DE CLASSE
Os punks originais morreram quase todos (literal ou metaforicamente), mas John Lydon ainda anda aí para desassossegar algumas almas — seja por ir tocar a Israel, quebrando um boicote de músicos, seja por ter decidido reactivar os PiL. Fê-lo por conta própria (a EMI, bom velho inimigo, não lhe respondeu, sequer). Em 2012, lançaram um álbum, This Is Pill, óptimo por sinal, no qual canta “we are the ageless, we are teenagers” com aquele uivo erodido pelo tempo, menos penetrante, talvez, mas ainda potente. John “Parasempre” Rotten. É O PUNK QUE IRRITA PUNKS
Os Sex Pistols pegaram num movimento e fizeram dele um fenómeno cultural. São um dos supremos golpes de teatro da música popular (e isto é um elogio), uma brilhante máquina de rock. Lydon podia ter ficado a tocar para punks para sempre e ficaria bem. Mas fartou-se: “Ever get the feeling you’ve been cheated?”, perguntou ao público do Winterland, em São Francisco, durante o último concerto dos Sex Pistols. O punk aborrecia-o. Seguiu em frente, mas evitou o conforto: poucas semanas depois do último concerto dos Pistols, estava a ensaiar com Jah Wobble (um novato no baixo, que se revelaria um talento natural), Keith Levene (herói da guitarra, vindo dos Clash) e Jim Walker (bateria). Nasciam os PiL nos quais Lydon explorou o amor que tinha aos Can, à música jamaicana, ao rock progressivo (Peter Hammill era o seu herói) e com isso irritou muitos punks, que queriam uns Pistols II. Haverá coisa mais punk do que irritar punks? FAZ ANÚNCIOS A MANTEIGA
Fazer anúncios a manteiga é punk? Não, dirão quase todos. Lydon prova que estão errados: foi com o dinheiro deste anúncio que acordou os PiL do sono profundo em que estavam. Começaram a ensaiar. Depois, deram concertos. Com o dinheiro que fizeram, montaram uma editora através da qual lançaram o disco. Quanto às vendas da dita manteiga, aumentaram 85 por cento no trimestre seguinte. METEU-SE NUM REALITY SHOW E SAFOU-SE
Em 2004, entrou no I'm a Celebrity… Get Me Out of Here!, um reality show com um nome péssimo, e dirigiu um bonito “fucking cunts” aos telespectadores. Em 1976, os Sex Pistols disseram “fuck” umas quantas vezes e foram banidos da televisão. Depois de sair do reality show, apresentou um documentário sobre insectos e aranhas, John Lydon's Megabugs. O senhor televisão. É UM SELF-MADE MAN A SÉRIO
Isto é bater punho a sério, sem sapatilhas coloridas, excesso de relógios ou tretas motivacionais. Antes de montar os Sex Pistols e se tornar um dos maiores cidadãos britânicos de sempre (foi o povo que assim o decidiu, numa votação da BBC, em 2002), cresceu na pobreza. Teve meningite, passou um ano no hospital, trabalhou aos dez anos e aos 15 foi expulso da escola. Depois, pintou o cabelo de verde e meteu-se numa casa ocupada com John Simon Ritchie, que se tornaria, mais tarde, Sid Vicious. O resto é história. Pelo meio, ainda estudou literatura (adorava Oscar Wilde) e artes. GOSTA DAS PUSSY RIOT
No ano passado, Lydon elogiou publicamente as Pussy Riot, punks/heroínas russas. São “muito, muito corajosas por tomarem uma posição” contra o governo russo, afirmou, depois de três membros do colectivo terem sido presas por causa de uma performance numa catedral de Moscovo. "Elas são incrivelmente firmes e corajosas”, disse o vocalista dos PiL à revista Q. "Sei o quão assustador esse país é. Não me masturbo nos quartos de hotel russos porque sei que está uma câmara no tecto e que vai tudo acabar no meu ficheiro”. Cereja em cima do bolo: “Espero que tenham sucesso [em sair da cadeia] antes que Sting, [Bob] Geldof e Phil Collins façam um concerto de beneficência.” Convencidos?