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​Casey Calvert: estrela pornográfica, intelectual e feminista

"Só deixo que me tratem como um objecto quando quero", diz Casey.

Casey Calvert tem 24 anos, é estrela pornográfica e uma feminista bastante comprometida. Em criança era uma miúda como outra qualquer: insegura, tanto pelo seu corpo como pela sua sexualidade. Hoje em dia, Casey trabalha na indústria pornográfica e fá-lo para expressar livremente a sua sexualidade e reivindicar os seus direitos como mulher, porque para ela a pornografia não categoriza as mulheres: concede poder ao homem e – infelizmente para alguns – supõe uma fonte de financiamento para os seus vícios. Casey exerce o seu direito de decidir o que fazer com o seu corpo, o que não é comum nesta indústria, que não se preocupa com a violência contra as mulheres, a exploração das actrizes, ou a transmissão de doenças. Apesar de Casey deixar que os actores a dominem, não significa que tenham algum tipo de controle sobre ela. "Só deixo que me tratem como um objecto quando quero", declara a americana, numa era em que se roubam fotografias eróticas dos telemóveis das celebridades. Recentemente foi fotografada para Herself.com – a plataforma feminista online da actriz australiana Caitlin Stasey – e nós falámos com ela sobre sexo, feminismo e a sua experiência na indústria pornográfica.

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Conta-nos um pouco sobre ti, e sobre o sítio de onde vens?
Cresci em Gainsville, Florida, numa família de classe média-alta. Em criança era muito tímida e tinha poucos amigos. Não era nada popular: era o típico rato de biblioteca, tom boy, e continuo a sê-lo. Tenho uma relação muito próxima com os meus pais e a verdade é que não mudaria nada da minha infância.

Como ocupas o teu tempo? E porquê?
Vivo a vida como quero e porque posso.

Como chegaste ao mundo da pornografia?
No primeiro ano da universidade comecei a trabalhar como modelo para artistas e fetichistas. Não foi algo que tenha procurado: conheci as pessoas certas num momento da minha vida em que estava a explorar as minhas fantasias pessoais, e foi quando me disseram que podia ser modelo. No princípio pensei que estavam loucos mas acabei por mostrar-lhes que afinal gostava do que fazia. Quando me licenciei decidi avançar na minha carreira como modelo, fazendo-o de forma mais séria. Como já havia fotos minhas nua pela Internet, a indústria pornográfica não demorou em entrar em contacto comigo. Conversei com os meus pais e investiguei antes de decidir lançar-me, e mudar-me para Los Angeles.

O que te oferece a pornografia, para além do que todos sabemos?
E o que é que toda a gente sabe? O sexo? De todas as formas, recebo as coisas mais importantes que a pornografia pode dar-te: a oportunidade de explorar a minha sexualidade, e de viver como me apetece – graças à liberdade económica que me proporciona.

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Pareces uma mulher muito confiante. Alguma vez sentiste vergonha do teu corpo ou da tua sexualidade?
Desde sempre. Quando era pequena era muito insegura: sabia que tinha um corpo saudável, mas em nenhum momento pensei que fosse sexy, nem sequer bonito – eu era a rapariga inteligente, e não a miúda bonita. E quanto à minha sexualidade, não me envergonhava até começar a explorá-la.

Alguma vez te sentiste descriminada pela tua profissão?
Claro que sim. É fácil julgar alguém que se dedica à pornografia, mas não o levo a sério. Esses juízos morais, carregados de frustração, não me assistem.

Consideras-te uma mulher feminista?
Sim, sem dúvida.

E o que é para ti o feminismo?
Para mim o feminismo é o direito que as mulheres têm a escolher.

O que dirias a todos aqueles que dizem que a pornografia transforma as mulheres em objectos, e que apenas se centra na supremacia masculina?
Diria que eu sou exemplo de que isso não é totalmente verdade. Talvez nos meus filmes pareça que estou a ser submetida, mas na realidade fui eu que o consenti. Só me deixo submeter quando eu quero.

Este negativismo incomoda-te?
Realmente sim, incomoda. No meu mundo ideal, as pessoas que se dedicam a isto são tratadas por igual, mas na nossa sociedade há muitos tabus à volta do sexo, e ainda falta muito tempo para essa atitude desapareça.

Sentes-te identificada com o conceito "porno star"?
Não, em absoluto. Sou uma rapariga de 24 anos, com uma família normal, que se dedica à pornografia.

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Que erros cometem as pessoas quando se fala em actriz pornográfica?
As pessoas acham quetemos algum tipo de problema, e que não nos dedicaríamos a isto se fôssemos "normais". Diz-se que o fazemos para poder criar os nossos filhos, por um problema de vício de drogas, ou porque os nossos pais nos violaram quando éramos pequenas – embora algumas actrizes tenham realmente passado por isso – mas muitas de nós estamos nesta profissão porque queremos.

Dedicas parte do teu tempo a obras de solidariedade. Achas que é importante usar a tua popularidade para uma boa causa?
Sou muito abençoada e tenho muitos seguidores no Twitter. Se posso aproveitar-me disso para fazer algo de bom, então vou fazê-lo, sem dúvida.

O que é que a pornografia pode oferecer aos direitos das mulheres?
A pornografia deu-me algo que nada, nem ninguém, me tinham dado antes: o controle sobre a minha sexualidade. As mulheres passam a vida a investigar, aceitando e usando a sua sexualidade, mas esse não é o meu caso. A minha sexualidade pertence-me e não há muita gente que possa dizer isso. A pornografia deu-me força, e dá-a também a muitas outras mulheres que a concebem desta forma.

O que dirias às mulheres que têm medo de explorar a sua sexualidade?
Que não há nada a temer.

Recentemente posaste nua para o blog de Caitilin Stacey. Foi muito diferente de quando o fazes na pornografia?
Já tinha trabalhado antes com Jennifer Toole para um catálogo, e a verdade é que foi muito bom posar para ela, num ambiente muito mais relaxado. Passámos o tempo todo a conversar, enquanto ela fotografava. E respondendo à tua pergunta: sim, foi uma experiência completamente diferente.

Onde te vês daqui a 10 anos?
Trabalho na indústria cinematográfica: não importa se é para adultos, comercial ou ambas. Continuarei a fazer o que realmente gosto.

Descreve-te em três palavras.
Forte, única e independente.