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Música

​Canções que salvam vidas: Death In June

Death In June, segunda-feira, perto de 300 pessoas, lotação quase esgotada, Hard Club, Porto. Quem? É uma daquelas bandas de culto que, em 2016, há muita malta que não faz a mais pálida ideia que existe.

Foto por Luís Lacerda

Está a chover que se desunha. Está um calor infernal. É sexta-feira e estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula. Por outro lado, é sexta-feira, estás em pulgas para a rambóia de logo à noite e para fritares a molécula… mas não tens guito. Não te apetece ir trabalhar. Não te apetece estudar. Vais é dar uma volta pela cidade. Espera, está a chover. Pronto, vais ver o mar, que está um calor diabólico. Alto, que isto está cheio de turistas e não dá para ir a lado nenhum. Nunca mais chega a Primavera! Primavera é que não, que é só alergias.

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Um gajo nunca está contente. Se não é do cu é das calças. O que vale é que, como toda a gente sabe, há canções que salvam vidas (os Smiths cravaram-no a letras de ouro no cancioneiro pop para toda a eternidade). Semanalmente, e para que a tua vida ganhe um novo sentido e encontres a salvação possível, deixamos por aqui um desses bocadinhos de lírica e melodia (ou ruído e grunhidos selvagens, conforme a disposição) que têm a capacidade de, em pouco mais de três minutos, te salvarem. Se não a vida, pelo menos o dia.

Death In June, segunda-feira, perto de 300 pessoas, lotação quase esgotada, Hard Club, Porto. Quem? É uma daquelas bandas de culto que, em 2016, há muita malta que não faz a mais pálida ideia que existe.

Mas a coisa é séria. Isto é gente que tem lugar no panteão da história musical. São 35 anos que começaram na urgência do punk, na insatisfação com o mundo ao seu redor, no ir de um extremo ao outro, dos encontros em manifestações anti-nazi, à ironia de usar, mais tarde, algum do simbolismo germanofóbico. Mas, se calhar, isso era só mesmo uma questão de mau gosto, apesar da tentativa de validação assente no catastrofismo de Jean Genet.

Se, antigamente, o ambiente nos concertos poderia ser pesadinho, aquilo a que se assistiu no Hard Club, foi a um momento de confraternização de velhos fãs - os de sempre, entenda-se -, em ambiente descontraído, com o mentor da banda, Douglas P, em modo bem disposto e, bastas vezes, a perguntar ao público se alguém queria pedir uma canção em especial, o que fez com não faltassem discos pedidos.

Para o compositor, a má publicidade existe, de facto, mas o truque é como se lida com isso. Ele, pessoalmente, parece que se está bem a borrifar para o que os outros pensam. A dark-folk dos Death in June, essa, passeou-se sempre com todo o seu esplendor por entre um público ora desconfiado pela semiótica por vezes usada, ora pelas belas melodias. E, no fundo, é isso que importa, ser salvo pela música.