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Música

Discos: Warpaint

Vem aí um documentário.

Warpaint

Rough Trade

As Warpaint são o modelo apoteótico do que é uma banda de nicho. Dividem as opiniões de forma tão clara quanto Moisés quando dividiu o Mar Vermelho — entre os crentes que fazem a travessia por entre a sua atmosfera sedutora e peculiar, e aqueles que não distinguem na sua música mais que um aglomerado melancólico de monotonia e marasmo. Não são uma banda para todos porque também não tocam para toda a gente. Tocam para si mesmas, tocam para dentro, exprimindo o que de pessoal as atormenta ou o que querem revelar de si mesmas. E tocam para quem estiver predisposto a um embalo muito personalizado, paciente acima de tudo e, em essência, cativante.

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São estas qualidades ou feitios que aprendemos a reconhecer logo a partir do primeiro EP, produzido de forma sublime por John Frusciante, que muito puxou pelo lado melódico, ruidoso e instrumental, sem deixar que se perdesse a sensualidade inerte e característica. Trabalho discutivelmente superior ao longa duração que se lhe seguiu, o primeiro, que pareceu tentar abraçar de forma mais decidida o

dream-pop

 e o

shoegaze

, mas que no geral pecou por se fazer sentir bastante nu e inacabado, descartando inadvertidamente muitos dos elementos que contribuíam para o equilíbrio hipnotizante da secção rítmica, e para o encanto atmosférico que era tão mais que o mero

reverb

 vocal.

Warpaint

, disco homónimo, vem situar-se simetricamente entre um e o outro lançamento. A bateria sinuosa e as linhas de baixo demarcadas devolvem o ritmo orgânico à sua música, desenvolta de forma minimalista sob as já muito próprias camadas de bruma intensa e de reverberação ecoante. No seu conjunto, todo o álbum é uma maré que nos faz flutuar lentamente e nos arrasta de forma fluída. Cada faixa é meticulosamente compassada, para ser apreciada de forma paciente, lânguida, com grande destaque para “Hi”, auge da insinuação e da sedução. Sempre despretensioso, sempre sem ter muito por onde agarrar, apenas deslizante, entre altos curtos e abruptos, e baixos longos e hipnóticos. Altamente recomendado a amantes de um bom vinho tinto e de preliminares intensos antes do sexo, e possivelmente aos entusiastas do sexo tântrico.

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Para os outros, no entanto, é um álbum que muito provavelmente saberá a pouco. Sem uma direcção assumida, sem objectividade, e entregue a texturas inconsistentes e a espaços vacilantes, o consenso será, talvez, o de soltar um bocejo. A alienação estruturante do álbum, e arrisco dizer da própria banda, assim o dita. Está na sua música e está na sua linguagem corporal em palco, quando por exemplo tocam introvertidamente e com os olhos fechados. A música das Warpaint é um espaço fechado e ao mesmo tempo infinito, sufocante e no entanto de perdição e divagação absoluta. Um purgatório repercutido no

teaser

 do documentário realizado por Chris Cunningham, que conta ainda com uma quantidade enorme de névoa e ruído visual a acompanhar uma remistura do

single

 “Love Is To Die”. O artista visual britânico conviveu com a banda durante o processo de gravação do álbum ao longo dos últimos dois anos, e promete um trabalho visual completo acompanhado de versões musicais alterativas e montadas por si mesmo, o que vindo de alguém que já participou tão activamente com

Aphex Twin

 ou

Björk

, no mínimo deixa água na boca.