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Música

Discos: White Wear

Toda a generosidade de quem nos proporciona boa vibe.

Black Strings
Cuz me pain
2013 Esta ideia recorrente de um disco conservar toda a imagética de verão, para que a mesma se possa revelar quando o Homem bem quiser, não é de todo descabida. Surge, então, o tal efeito de transporte associado à música, neste caso um passeio imaginário pela praia ao fim do dia, isto sem pôr um pé fora de casa e enquanto, na verdade, nos babamos no sofá da sala. É uma ilusão (dirão os mais cépticos) mas não deixa de ser uma boa ilusão (dirá a maioria). Black Strings é mais um retrato cuidado do que deve soar a melhor electro-pop de 2013 aberta a discretas experiências. Como tal, conserva essa eterna leveza de Verão, pela forma de melodias simultaneamente enigmáticas e sensuais, bem como pela toada de efeitos do pós-disco. Não é, pois, pop celebratória, tão pouco letárgica, mas situa-se a meio caminho, pouco ou nada preocupada com isso e a fazer uso de uma voluptuosa saia esvoaçante. Esta classe presente na composição de cada tema coloca White Wear perto de gente mediática como John Talabot, Mano Le Tough ou até Laurel Halo em alguns breves momentos. Suave e lânguida, a voz surge ocasionalmente como parte instrumental e não tanto como transporte real para letras; além disso, para um disco que transmite por si só tanta polaroid bacana, talvez ninguém quisesse saber das letras para nada. Perante um cenário tão aquoso, perfeitinho e esteticamente uniforme, até se poderia esperar algum bocejo indesejável. Felizmente nem tudo se resume ao modo de barriga para o sol, e existe igualmente espaço mental para um mergulho à campeão, uma futebolada das antigas ou para um piscar de olho à miúda de biquini apetecível. Propriedades mágicas ao alcance de um mero disco e sem recurso à coolness eterna das calças de linho branco dignas de um Don Johnson em Miami Vice. No fundo, há que reconhecer generosidade a quem nos proporciona tamanha boa vibe. Quem ganhou o dia, quem foi?