Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.Actualmente, a Europa Ocidental - um território históricamente muito dado à guerra - está a desfrutar de uma era de estabilidade sem precedentes. À excepção de ocasionais revoltas regionais e civis, o Continente mantém a paz durante 73 anos. Uma época dourada, poder-se-ia dizer.Mas, a paz não é eterna. Apesar disso, ainda há gente que acredita que os países da Europa não se podem voltar a envolver num conflito, como se fossem bêbados à saída de um bar. Houve quem sonhasse com algo parecido durante a concertação europeia de meados do século XIX e também durante as quatro décadas de calma que se seguiram ao conflito franco-prussiano, em 1870-1871. E, em troca, esse segundo período culminou na Primeira Guerra Mundial. Portanto, enganaram-se na apreciação.
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E isto faz-nos questionar se, mais uma vez, não estaremos enganados e em negação quanto à iminência de um conflicto massivo em pleno século XXI.
Há quem ache que sim. Há, aliás, peritos em segurança que investigam cenários em que uma Rússia muito potente está de um lado e os aliados europeus da NATO de outro e passam das tensões diplomáticas para o campo de batalha real. Apesar de esses mesmos especialistas salientarem que algo deste género é improvável, a verdade é que se aprendemos alguma coisa com os recentes acontecimentos mundiais é que improvável não significa impossível.Um: Donald Trump cumpre as suas ameaças e retira os Estados Unidos da América da NATO. Dois: um entusiasmado Vladimir Putin decide invadir os estados bálticos - Lituânia, Letónia e Estónia - que durante tanto tempo considerou que deveriam formar parte da Russia. Três: dado que os anteriormente mencionados são estados-membros da NATO desde 2004, o resto da aliança - Reino Unido, Alemanha, França, etc - vai em seu socorro.O resultado? "Hiroshimas e Nagasakis por todo o lado", opinava o legislador russo Vladimir Zhirinovsky ainda no ano passado, durante uma conversa sobre esta hipótese.
Vê: "Guerra Fria 2.0"
Há quem ache que sim. Há, aliás, peritos em segurança que investigam cenários em que uma Rússia muito potente está de um lado e os aliados europeus da NATO de outro e passam das tensões diplomáticas para o campo de batalha real. Apesar de esses mesmos especialistas salientarem que algo deste género é improvável, a verdade é que se aprendemos alguma coisa com os recentes acontecimentos mundiais é que improvável não significa impossível.Um: Donald Trump cumpre as suas ameaças e retira os Estados Unidos da América da NATO. Dois: um entusiasmado Vladimir Putin decide invadir os estados bálticos - Lituânia, Letónia e Estónia - que durante tanto tempo considerou que deveriam formar parte da Russia. Três: dado que os anteriormente mencionados são estados-membros da NATO desde 2004, o resto da aliança - Reino Unido, Alemanha, França, etc - vai em seu socorro.O resultado? "Hiroshimas e Nagasakis por todo o lado", opinava o legislador russo Vladimir Zhirinovsky ainda no ano passado, durante uma conversa sobre esta hipótese.
Mas, será que, realmente, um confronto entre a Rússia e a Europa poderia acontecer? E, em caso afirmativo, como é que se sairia disso? Bem, segundo Keir Giles de um laboratório de ideias britânico chamado Chatham House, "as notícias são bastante alarmantes".
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1. As tensões aumentam
2. O ponto de ignição
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"Ocupariam os estados bálticos mais ou menos de forma imediata", assinala Giles, que também é o director do Centro de Investigação e Estudo de Conflitos de Oxfordshire. E acrescenta: "Putin acredita que a segurança da Rússia passa por ter o controlo dos estados bálticos. Mas, há que ver mais além. Não é fácil delimitar as ambições da Rússia no que diz respeito a onde devem estabelecer-se essas fronteiras, ainda que sem dúvida estejamos a falar de incluir a Polónia e a Finlândia".
3. A Internet cai e soam os disparos
Um estudo de 2015, realizado pela RAND Corporation, concluiu que à Rússia bastariam 60 horas para controlar a Lituânia, Letónia e Estónia. Ainda assim, Giles salienta que, a ocorrer, saberíamos com antecipação. E explica: "Haveria um considerável aumento de atenção da diplomacia e dos media russos sobre determinados temas, que poderiam fazer antever que se preparava uma intervenção armada".Com base nalgum pretexto, como uma missão de paz, milhares de tropas reunir-se-iam na fronteira. Nos dias anteriores à invasão, o acesso à Internet do target seria cortado ou interferido por soldados especialistas em telecomunicações. As fontes de energia seriam cortadas e os multibancos deixariam de dar dinheiro. O sinal de televisão e de telemóvel também seria interrompido. Provavelmente, também se enviariam mensagens personalizadas às autoridades, ao exército e aos cidadãos do país, com o objectivo de gerar confusão e pânico. Em alguns casos, estas mensagens poderiam aparecer como enviadas por alguém da lista de contactos do destinatário.
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"Sob as circunstâncias adequadas, isto poderia ser suficiente", explica Giles. E acrescenta: "Não seria necessário atravessar a fronteira com tanques. Poderia organizar-se um golpe só com presença de militares. A desinformação e a desordem civil poderiam provocar uma mudança de regime encabeçado por um governo de Moscovo. Isso cumpriria os objectivos económicos e de segurança da Rússia".Uma vez falhada a diplomacia, é certo que uma NATO sem os EUA não teria o poderio armado suficiente para ganhar uma guerra com a Rússia. Por agora vamos ignorar as armas nucleares e seguir com a guerra convencional. A Rússia tem mais soldados (só com as reservas somam 2.5 milhões) e equipamento. Como país, a sua cadeia de comando está muito mais optimizada. Os seus soldados estão fortalecidos pelos conflitos na Síria e na Ucrânia. Após uma década a gastar mais de 30 mil milhões de euros em melhorias militares, o seu armamento é também superior.
E se não se produzisse nenhuma alteração de regime? Pensa na guerra híbrida: tudo o que foi dito anteriormente, combinado com um repentino movimento de tropas. "Não sabemos como é que se produziria uma anexação, mas não há dúvidas de que a Rússia está a ensaiar a situação.", explica Giles. E salienta: "O que sim, sabemos, é que seria feita com rapidez".
4. NATO: Lutar ou morrer
Também existe a possibilidade de alguns membros da NATO se retirarem. Concretamente, a Turquia, dada a relação entre Putin o presidente Recep Erdoğan. Isso significaria perder uns 600 mil homens, o maior contigente depois do norte-americano.
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Como consequência de tudo isto, a NATO enfrentaría um dilema existencial: lutar e provavelmente perder, ou resignar-se e perder os estados do Báltico. Ou, como sugere Ian Shield, professor adjunto de Relações Internacionais da Anglia Ruskin University: "Deveriam eleger entre recuar no tratado - o que provocaría quase de certeza a desintegração da NATO e, consequentemente, de toda a ordem europeia - ou participar numa guerra catastrófica com armas nucleares incluídas".Um cenário muito negro, portanto.
5. Guerra por terra
Prossigamos com a especulação e vamos supor que a NATO decide enfrentar a Rússia. Como é que se resolveria este conflito?Segundo Shields, não seria bom para nenhum dos lados. "Haveria aniquilação em qualquer campo de batalha, ainda que estes campos de batalha não se parecessem com nada do que já tenhamos visto. Os mísseis e a artilharia têm muito mais alcance e precisão que antes, o que torna possível destruir postos inimigos, infra-estruturas e até cidades inteiras a partir de território amigo. Haveria menos batalhas individuais e mais capacidade de destruição. Se nenhum lado se rendesse, grandes extensões da Europa seriam reduzidas a escombros e o número de baixas seria inimaginável".Ambos os lados lutariam pelo controlo dos mares que rodeiam a Escandinávia. Enquanto os ciberataques poderiam acabar com as infra-estruturas de transporte, de hospitais, de meios de comunicação e instalações. A principal vantagem da Rússia no meio deste massacre seria dupla. Em primeiro lugar, como dispõe de mais armas e exército, os russos poderiam continuar a fazer estragos durante mais tempo. Em segundo lugar, a imensa extensão do país permites-lhe resistir melhor à devastação: a NATO podia eliminar todas as estruturas do interior do país e ainda assim Moscovo ficaria intacta.
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6. Armas nucleares
"A Rússia tem algo no seu arsenal nuclear que o Ocidente não tem: armas nucleares tácticas", salienta Giles. E sublinha: "Não são armas que apagam cidades inteiras do mapa, mas sim capazes de destruir campos de batalha ou bairros. O Ocidente tinha este tipo de armas, mas desfez-se delas, pelo que a única resposta a um ataque nuclear teria que ser com um ataque nuclear a grande escala, o que significaria uma auto-derrota porque também afectaria o Ocidente".Em qualquer caso, caso se se chegasse a uma guerra nuclear, tudo seria imprescindível: eliminar-se-iam cidades e milhões de pessoas morreriam. Nesta fase até os estrategas mais experientes preferem não continuar a criar cenários hipotéticos.
7. Não percas o ânimo
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