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Música

Um Trio de Portland Chamado Bruxa Está Mantendo o Witch House Vivo

O último álbum da trilogia do grupo e acaba de sair pelo cultuado selo STYLSS e é um caldeirão de witch-house, trip-hop e future beats.

Se você achava que o witch-house estava morto, é melhor pensar duas vezes antes de aposentar seu chapéu pontudo: além de uma ou outra alma viva que ainda ouve Crystal Castles (acho que nem a Alice curte muito ouvir também, de acordo com esse set guetoso que ela tocou recentemente), e os poucos projetos que sobreviveram e que mudaram totalmente seu som e assumiram sua persona techno e house, como o Madden, poucos projetos continuaram com os baixos BPM e o clima soturno que marcou o gênero. Mas uma safra nova de produtores tem usado o imaginário tech-bruxo em suas produções, e outros o continuaram muito bem, como o grupo Bruxa, que acaba de lançar seu terceiro EP pelo selo virtual STYLSS. Como o trio de Portland fala na nossa entrevista, "todo mundo fala que o witch-house está morto, mas estamos no momento em que todos os posers pulam do navio e vemos quem realmente está aqui de verdade".

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O Bruxa é feito pelo Saint Michael, Derek Stilwell e Bianca Radd, que é a voz que você ouve cantando ora em português, ora em inglês durante as músicas, já que sua mãe brasileira a fez falar as duas línguas durante toda a vida. Após os dois EPs Eye on Everybody, pela Sweating Tapes, e o Victimeyez pelo selo Mishka (isso, aquela marca de roupas bacanérrima com quem a VICE já fez vários editoriais), eles lançam através do cultuado selo STYLSS seu mais novo álbum, I Don't Love You Anymore. A faixa "Popes Smoking Opium", que você escuta abaixo, não é exatamente tão dançante quanto outras faixas do álbum, mas que representa bem a viagem sombria pelos becos sonoros criados pelos synths, samples e drum pattern guiados pelo rap do Saint.

E não tem como não falar do STYLSS ao tentar descrever a evolução do som do Bruxa e de toda a cena de bass e eletrônica experimental que tem crescido em Portland. Comandado pelo Cory Haynes, conhecido também pelo seu projeto QUARRY, o portal que virou um selo é um dos mais intrigantes e bem-selecionados rolando por aí, mostrando uma curadoria expansiva e livre de panelinhas através de vários projetos: o Sunday Selections, em que eles criam uma playlist com as melhores músicas da semana e divulgam todos os domingos; a Mixes Series, com mixes de artistas ligados ao selo ou convidados; e os Releases e Singles, com músicas dos colaboradores do selo.

O EP I Don't Love You Anymore, que conta com seis faixas e ainda um remix do Magic Fades para a faixa "Animal Shovel", está disponível pelo preço que você quiser pagar e em edição limitada em cassette através do Bandcamp do STYLSS.

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THUMP: Como vocês se conheceram e decidiram formar a banda?
Derek: Bem, a Bianca é minha cunhada e eu a conheço desde que ela tinha oito anos. Então em 2011 a gente tava dando uns rolês depois de um tempo sem se ver, e a gente começou a trocar umas músicas que estávamos ouvindo na época, e eu comecei a trabalhar em um beat, ela fez algumas sugestões, e sem nem tentar muito a gente criou essa faixa "Witchstep". Gravamos os vocais praticamente em uma tarde com um 57 zoado que eu tinha pego emprestado de um amigo (eu não tinha um estúdio de verdade na época, e ainda não tenho, só um laptop e fones de ouvido). Nossos amigos gostaram da música, então quando a gente queria gravar mais, íamos na casa do meu amigo Saint Michael, porque ele tem um microfone melhor e um sistema de som num armário. Eu e ele nos conhecemos trabalhando em uma padaria e começamos a fazer música juntos; um álbum inteiro que acabou nunca saindo. Uma vez que todos nós começamos a gravar juntos, simplesmente deu certo e o Bruxa nasceu. Tudo aconteceu dentro de três meses; da primeira música feita em um dia até a entrega do primeiro EP. O nome da banda foi decidido em uma série de cinco mensagens de texto. Foi assim, tudo encaixou.

Que equipamento vocês usam pra tocar ao vivo?
Derek: Eu uso um notebook com Ableton Live e uma Launchpad, numa template personalizada.

Saint: Um microfone e processador de voz.

Bianca: O mesmo que o Saint.

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Esse álbum é a terceira parte de uma trilogia. Qual história vocês estão contando, e porque lançá-lo através do STYLSS?
Saint: Bem, sempre existiu a ideia de que iríamos criar três álbuns para três fitas, e a gente seguiu isso. Não há uma narrativa propriamente dita, esse é o ponto. Estamos sendo apenas nós, mas em conjunto.

Derek: Se existe uma história, é apenas a do que estava acontecendo com a gente naquele período, não é nada premeditado ou explicitamente comunicado.

Saint: STYLSS tem apoiado nossa música por um longo tempo, e gostamos do que eles têm feito em Portland e da música que eles têm divulgado. Então fez sentido nos unirmos.

Muitas pessoas já devem ter perguntado se vocês se consideram witch-house, witch-step, ou gravewave ou essas merdas, mas como parte do imaginário bruxo/mágico, eu vejo que a música de vocês é sobre transformação, alquimia. O que vocês acham sobre gêneros, e se vocês pudessem nomear um para vocês, qual seria?
Bianca: Uma piada foi evoluindo, resultando em um gênero que tenta descrever nosso som, sem nem mesmo falarmos sobre isso.

Saint: Gêneros são ridículos, de qualquer forma. Quer dizer, eu entendo que eles são úteis até um certo ponto, mas no fim você está apenas ouvindo música e se a tag do gênero começa a ditar sua experiência, então foda-se.

Derek: Eu sempre amei todos os subgêneros estranhos da música eletrônica e passei por várias fases, assim como um monte de outros produtores. Eu já fiz industrial, hip hop, trip hop, big beat, drum'n'bass, electro, synth pop, mas na maior parte do tempo era uma combinação de tudo isso. Eu gosto de witch-house agora mais do que em 2011, 2012. É aquele típico momento em que todos declaram algo como "morto", mas é a melhor coisa pois todos os posers abandonam o navio. Para mim, é apenas digital trip-hop gótico.

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Qual a história por trás da menininha da capa?
Bianca: História? Um bebê roubando a cena… quase nada mudou desde então. Ela já mandava na própria vida.

Bianca, você é metade brasileira. Você chegou a morar aqui ou vem visitar? Você fala português fluentemente? Pois tem trechos em português em várias canções.
Bianca: Minha mãe é brasileira. Eu fui lá quando tinha dois anos, e voltei pros EUA com quatro. Eu nunca voltei e isso me mata. Ela é do Rio, e eu cresci falando português e inglês fluentemente. É, eu não sei porque canto em português, apenas vem a vontade. Acho que está no sangue, eu ouvia minha mãe falar e isso me marcou.

O que vocês conhecem da cena daqui?
Derek: Não muito. Toda a influência brasileira vem da Bianca.

Saint: Mas queremos saber mais. Nos mande tudo.

Como é morar em Portland? As pessoas parecem mais abertas a projetos e ideias diferentes. Quais outros lugares vocês tocaram e curtiram?
Saint: É maneiro. Existem muitas pessoas talentosas aqui. Selos como Ecstasy, Club Chemtrail e STYLSS têm sido essenciais para fomentar essa nova cena eletrônica aqui em Portland. Então é bem legal ver isso acontecer e estar no meio de tudo. Um salve para o Magic Fades, também.

Derek: Eu nasci e fui criado em Portland, muita coisa já mudou e isso dá uma reputação que é boa e ruim em muitos aspectos. Eu gosto da nova Portland, mas sinto falta da Portland antiga também.

Bianca: Humm, nós ainda não tocamos em muitos lugares, até o público de Portland varia. Gostamos de tocar em Seattle, pois foi uma experiência que nos ligou bastante. Dezembro passado eu me mudei para Los Angeles, mas fugi para Portland. Eu apenas vou onde o vento me leva. Não estou dizendo que aqui é o lugar que vou parar. Nada dura para sempre nesta Terra. Bem, nesta vida.

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E quem decide o quê dentro da banda. Vocês possuem ideias parecidas, ou são bem opostas mas acabam se complementando?
Derek: Entre nós três existe uma gama muito grande de gostos musicais que acabam por se cruzarem de maneiras interessantes. Uma música que realmente nos deixe excitados é rara, e o processo inteiro da banda é sobre buscar essa sensação.

Bianca: Nós nos completamos. Nós realmente ouvimos aos desejos e necessidade de cada um, e quando acontece isso eu acho que tudo flui naturalmente.

Quais são suas bruxas favoritas, ficção ou não?
Bianca: Minha mãe. Faruka Baulk. Ah, Sarah Jessica Parker em Abracadabra. Todas as minas lá de Salem. Silvia Plath [risos], mas agora sério, um salve para a Jessica Emerald. THEE COVEN. Não esqueci dos meus bruxos, também.

Saint: Sem ídolos, cara.

Derek: Top 5 filmes com bruxas: 1. O Bebê de Rosemary; 2. Suspiria; 3. A Máscara de Satã; 4. Convenção das Bruxas; 5. Mark of the Devil.

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