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Games

Jogos de Publiça

Lembro com nostalgia da época em que eu podia alugar um jogo de propaganda na locadora do meu bairro alimentando o espírito do capitalismo, muitas vezes sem nem saber.

Muitos acreditam que o merchandising descarado teve seu auge nos anos 80 e começo dos 90. E eles estão cobertos de razão, o que não significa absolutamente que publicitários e marqueteiros de plantão não estejam sempre procurando alguma forma de enfiar seus cases de sucesso goela abaixo do pessoal. Todas as mídias sofrem interferências diretas ou indiretas das marcas que consumimos. É a maneira capitalista, e você terá – ao menos que você vire um eremita, forma de vida cada vez mais oprimida na sociedade civil –, uma hora ou outra, que se render aos feitiços do fetiche da mercadoria.

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Os jogos de videogame, que desde muito cedo são alvos de adaptações de outras mídias como cinema, televisão e afins, muitas vezes também foram usados para adaptar os maravilhosos mascotes de empresas, os avatares das mais variadas marcas. Isso quando não jogávamos games que serviam para promover a própria marca do videogame que possuíamos, como Mario ou Sonic, verdadeiras personificações do branding das empresas.

Com o desenvolvimento da propaganda nas décadas de 1990 e 2000, a galera começou a pegar um pouco mais leve nas referências diretas às marcas, já que algo absorvido pelo mainstream foi também a crítica à própria propaganda desenfreada. Hoje em dia o pessoal tenta adaptar a promoção de seus produtos de maneira mais orgânica e velada. Se isso é bom ou ruim eu não sei – e meio que tanto faz –, mas pelo menos as marcas não parecem nos tratar como completos imbecis, desprovidos de qualquer capacidade de sutileza.

A partir do começo da década passada, com jogos baseados em flash acessíveis em navegadores de internet, cada vez mais games diretamente relacionados às marcas deixaram seu mercado tradicional e migraram para a internet. Lembro, no entanto, com nostalgia da época em que eu podia alugar um jogo de propaganda na locadora do meu bairro alimentando o espírito do capitalismo, muitas vezes sem nem saber.

Pepsiman

Este jogo, por mais cretino que pareça, inaugurou um dos gêneros que fez mais sucesso nos últimos anos, embora seja um gênero bem cretino, o endless running. Sabe aquele Temple Run? Sabe o Minion Rush? Eles devem sua existência a este jogo de publiça japonês, com seu único personagem: Pepsiman. Veja o vídeo do gameplay e fique, como eu estou faz três dias, com essa infernal música na cabeça. O jogo de fato não é tão horroroso quanto poderia ser. Só acho curioso um game que tem tanta propaganda descarada assim ser vendido e não distribuído de graça.

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Coca-Cola Kid

Este jogo, assim como o Pepsiman, é baseado no mascote da Coca-Cola no Japão, tendo sido lançado apenas por lá exclusivamente para Game Gear. Nele, você controla o Cokey, um moleque radical que anda de skate e dá voadoras nos seus inimigos, nada de especial para um beat em' up mas nada tão ruim também. O interessante nele é que ele era um jogo comum e, apesar das inúmeras referências à Coca-Cola no cenário e em power ups, seu enredo não tinha nada diretamente relacionado à marca.

McDonald's

Os malditos porcos imperialistas do McDonald's investiram em jogos voltados ao aumento de sua simpatia para com a criançada, ao mesmo tempo em que enfiava seus produtos em nossas crianças gordinhas. Em sua grande maioria, jogos de plataforma padrão e sem graça, mas alguns se destacam por um motivo ou outro.

Donald Land

O que este jogo tem de especial? Absolutamente nada. Ele é muito parecido com a grande maioria dos games de plataforma da época, com seus toques de surrealismo tão bem executados por Alex Kid, além da violência contra animais da natureza através do uso irrestrito de bombas. Mas a capa é bem maneira.

Ronald McDonald in Magical World

Maldito palhaço feliz, nada de interessante nesse jogo de Game Gear.

Global Gladiators

Lembra do Capitão Planeta? Lembra da mãe do Doug Funny? Os anos 90 desenvolveram o mito da salvação do planeta através da reciclagem e do cuidado com o meio ambiente, e Global Gladiators faz parte dessa turminha alto-astral. O curioso é o método que os seus personagens têm para matar os mutantes tóxicos, personificações da ação do homem sobre nossa grande mãe gaia: para matá-los, você atira com o seu canhão de catchup. Isso mesmo. Para salvar o mundo da poluição, você manda um cumshot de catchup e mostarda na cara da mãe gaia.

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M.C. Kids

O nome pode enganar. Não é um jogo sobre rap, mas outro game de plataforma típico da época. M.C. Kids não é tão abertamente uma propaganda interativa do McDonald's, embora toda a sua trama se desenrole na mitologia criada pelos personagens da rede de lanchonetes voltados para o mercado infantil. Fora alguns truques maneiros possíveis, como inverter a gravidade, etc., o que mais me chamou atenção é que você pode jogar com um personagem negro, algo não tão comum até nos jogos feitos hoje em dia – quanto mais no começo dos anos 90.

Cool Spot

Cool Spoté uma série de jogos de plataforma que começou como um reforço de marketing para a marca de refrigerante 7up, mas que, ao menos aqui no Brasil, conseguiu superar a marca original, já que o 7up teve pouca penetração no mercado brasileiro e acabou não sendo mais vendido por aqui. De qualquer forma, o jogo era bem maneirinho e fizeram ao todo quatro games bem razoáveis com o personagem.

The Expendabros

Como diz o ditado, de graça até show da banda de pífanos Injeção Na Testa. Em outra ocasião, neste mesmo website, eu falei sobre dois jogos novos de tirinho, o Mercenary Kings e o Broforce. Este segundo é um game baseado nas figuras dos clássicos filmes de ação, com a típica atitude de entrar chutando a porta atirando em todo mundo em nome da democracia. O jogo ainda está em desenvolvimento, mas isso não impediu os caras de participarem de um esquema de marketing velado, bem do jeitinho que a galera gosta hoje em dia. Em uma sacada bem sacada mesmo, a galera responsável pelo marketing do filme entrou em contato com os desenvolvedores do jogo e pediu uma versão baseada nos personagens do filme Os Mercenários 3. Como a série cinematográfica é um jogo de ação que se retroalimenta dos antigos filmes do gênero e o jogo Broforce é justamente uma celebração do gênero, o esquema encaixou como uma pistolaKimber Gold Combat II customizada nas mãos da galera do departamento de marketing responsável pelo filme. Ojogo está disponível de graça no steam até o fim desse ano. Se você ainda não jogou Broforce, recomendo fortemente.

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夢工場ドキドキパニック

(Yume Kojo: doki doki panic)

Nada como um bom comercial do famicom.

A história do Super Mario Bros 2 é famosa. O jogo original japonês era apenas uma continuação com o mesmo engine do Super Mario Bros cujos níveis eram mais difíceis que o do primeiro. O time da Nintendo da América achou que aquilo não ia funcionar muito bem no mercado dos EUA e a companhia acabou adaptando o jogo Yume Kojo: doki doki panic, que não era um game do Mario, para o mascote da Nintendo. O que não costumam lembrar é que o jogo original, Yume Kojo, foi encomendado pela gigante Fuji Television como propaganda do seu festival Yume Kojo '87, feito para promover seus mais recentes programas à época. Muito do que foi adaptado para o universo do Mario em jogos posteriores foi desenvolvido para este jogo publicitário, que nem era para ser do Mario a princípio.

Yo! Noid

Outra adaptação de um jogo japonês para o mercado ocidental, cujo título era Kamen no Ninja Hanamaru e com um protagonista ninja e ambiente completamente diferente do urbano Yo! Noid. O curioso é que, apesar de muita gente da minha geração ter jogado esse maldito jogo com o herói vestindo um pijama ridículo e usando um ioiô como arma, pouca gente sabia que ele era uma propaganda paga pela Domino's Pizza, já que não existia a empresa aqui no Brasil. Dá uma comparada entre o vídeo lá em cima e este do jogo original japonês:

Chester Cheetah

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Os primeiros esboços japoneses do Sonic The Hedgehog, como descritos por Tom Kalinske, o ceo da Sega da América na época do lançamento do querido porco-espinho, consistia nesse animal com longas presas, óculos escuros, uma guitarra irada e uma namorada altamente sexualizada chamada Madona. O pessoal da Sega da América lutou com garras e dentes para evitar que o melhor mascote dos videogames pudesse existir e tivemos que nos contentar com o atual Sonic. O que isso tem a ver com o Chester Cheetah, personagem da Elma Chips como você deve se recordar, é o fator simbólico que os óculos escuros tinham no desempenho do estereótipo de um cara descolado nos anos 80 e 90. Essa simbologia tem perdido muita força ultimamente e só vejo carregadores e capinhas de celular nos tristes camelôs – nada como isto aqui:

Pepsi Invaders

Ok, este jogo seria impossível hoje em dia com a mania atual de se evitar conflitos. Uma modificação do lendário Space Invaders feito exclusivamente para 125 executivos da Coca-Cola. No jogo, os aliens do Space Invaders foram substituídos pelas letras P E P S I e um alienzinho solitário no final. Espero que a galera da firma tenha dado muita risada com essa piadona.

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