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Leia um capítulo de 'Aqui é o crime', novo livro de Artur Rodrigues no qual ninguém é inocente

Em seu segundo livro, o jornalista narra uma história em que polícia e bandidos estão envolvidos num assalto a banco.

Foram 170 cofres arrombados — um prejuízo de R$ 10 milhões. No dia 27 de agosto de 2013, um grupo de 12 assaltantes passou dez horas dentro de uma agência bancária da Avenida Paulista. Foi o maior já registrado em São Paulo e que, além do marco, serve também como pano de fundo para , novo livro do jornalista paulistano Artur Rodrigues, que sai esta semana pela editora Patuá.

assalto a banco

Aqui é o crime

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"Não sei como seria escrever ficção se não fosse repórter, porque me alimento desse dia-a-dia para escrever", conta o autor, que explica ter partido da notícia do assalto recordista para construir a narrativa do seu primeiro romance — em 2013, Artur lançou O ato de riscar um palito de fósforo, um livro de contos. Fragmentado, Aqui é o crime é narrado a partir da fala, em primeira pessoa, de cada um dos seus personagens. No livro, me conta Artur, a narrativa extrapola a notícia do assalto, "o que mais serve de combustível para esse livro é essa guerra velada entre polícia e PCC, as mortes praticadas por policiais na periferia, o revide dos bandidos".

Repórter com passagem por quase todos os jornais diários de São Paulo, Artur — que hoje trabalha como setorista de política na Folha de S. Paulo — acumula a prática de sujar sola de sapato nas ruas há uma década cobrindo polícia. O autor falou que seu interesse pelo universo do crime, porém, surgiu ainda na época do ensino médio "quando bandidos pés de chinelo amedrontavam a molecada com revólveres calibre 32".

"Não me identifico com essa prosa do eixo Vila Madalena-Leblon-Berlim."

Dá pra sentir essa imersão no cotidiano do outro lado da ponte na linguagem utilizada em Aqui é o crime, principalmente quando Artur tem a manha de deixar no ar situações como a do segurança do banco corrompido, o velho e amargurado repórter de polícia ou da primeira-dama do crime com sangue nos olhos em busca de vingança. Na narrativa, a histórica de cada um dos personagens (que dão nomes aos capítulos) não parece se entrelaçar diretamente, até que o quebra cabeça fica completo com a derradeira história-capítulo.

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Artur Rodrigues. Foto: acervo pessoal

Fascinado pelos malandros, personagens perdidos, oprimidos, amorais e violentos, Artur diz que o seu objetivo na ficção é "fuçar o submundo, não só dos criminosos comum, mas também dos poderosos", e ele faz isso se apoiando na linguagem das ruas. "Não me identifico com essa prosa do eixo Vila Madalena-Leblon-Berlim", conta. "Busco [recontar] as histórias das ruas, mas sem panfletarismo, sem julgamentos, maquiavelismo."

Entre lançar um livro de contos e formular seu primeiro romance, Artur passou pela oficina literária do romancista gaúcho Luiz Antonio Assis Brasil. A experiência, conta, foi importante para escrever com regularidade. Dos autores com os quais mais se identifica está o chileno Roberto Bolaño e Rubem Fonseca — "O universo dos personagens dele (violento, ácido, desesperançoso) é uma paulada que não perde o efeito nunca".

Em Aqui é o crime, Artur diz que queria escrever um livro que também se parecesse com um disco de rap dos Racionais. "Cada personagem, uma faixa diferente. Algo como "Tô ouvindo alguém me chamar" e "Diário de um Detento", mas com uma unidade", conta. O resultado é uma história intrincada, com detalhes psicológicos cabulosíssimos, em muitas passagens chamam atenção por você conseguir relacioná-los com algo que você sabe que existe mesmo sem ter visto aquilo acontecer. Ninguém é inocente no livro. Como Artur lembra na epígrafe, citando Mano Brown: em São Paulo, Deus é uma nota de R$ 100.

Leia o capítulo do Machado.

O lançamento de Aqui é o crime rola em São Paulo, neste sábado (27) — curiosamente o mesmo dia do assalto ao Itaú —, na livraria Patuscada, em Pinheiros.

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