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O Cara que Passou Dois Anos Escrevendo um Artigo Sobre como as Prequelas de Star Wars não São uma Merda

Em 20 mil palavras, a Star Wars Ring Theory argumenta que George Lucas é um supergênio que passou 20 anos fazendo seis filmes muito longos como um projeto de filosofia pop, tão intrincado e simbólico quanto a Bíblia, pretendendo ilustrar que não há...

Imagem via Wiki Commons.

Algumas pessoas gostam muito, muito, muito, muito, muito de Guerra nas Estrelas. Gente assim demonstra isso se vestindo como seus personagens favoritos e frequentando convenções como a Star Wars Celebration, em Anaheim. Outros superfãs fizeram disso seu sustento, trabalhando em zines, acrescentando material ao Expanded Universe (agora chamado Star Wars Legends) e criando videogames que se passam naquela galáxia muito distante. Outros simplesmente consomem o máximo possível de coisas relacionadas a Guerra nas Estrelas. Já Mike Klimo, bom, ele passou dois anos escrevendo um texto sobre por que as prequelas de Star Wars não são uma bosta.

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Em 20 mil palavras, a Star Wars Ring Theory de Klimo argumenta que George Lucas é um supergênio que passou 20 anos fazendo seis filmes muito longos como um projeto de filosofia pop, tão intrincado e simbólico quanto a Bíblia, pretendendo ilustrar que não há bem e mal. Em outras palavras, o enredo de Guerra nas Estrelas mostra a ascensão, queda e redenção de Darth Vader, mas o autor do artigo argumenta que a série em si é sobre como, na infinidade desse universo, ascensão, queda e redenção se equilibram numa unidade. Não apenas isso: Lucas acreditava tanto em sua visão maior que estava disposto a ignorar as pessoas que odiaram partes da história, porque sabia que elas acabariam entendendo isso um dia.

Por isso, a "Star Wars RingTheory" provavelmente é a definitiva teoria de fã de Guerra nas Estrelas na internet – não porque responda baboseiras triviais como se foi o Greedo que atirou primeiro ou quantos dedos dos pés os Ewoks têm, mas porque funciona como um urtext, indicando como exatamente deveríamos ver os seis filmes. Segundo a Ring Theory, os filmes de Guerra nas Estrelas têm uma estrutura palindrômica em que, além dos paralelos óbvios ABC/ABC (Ameaça Fantasma espelha Uma Nova Esperança, etc.), há uma estrutura ABC/CBA subjacente em jogo, na qual cada ato de cada longa-metragem preenche a mesma função que o ato da posição inversa em seu filme correspondente… bom, é só ver esse gráfico do site de Klimo:

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Faz sentido? OK. Ótimo. A questão é a seguinte: Klimo acredita que muito mais coisa está rolando em Guerra nas Estrelas – especialmente na trilogia de prequela – do que tendemos a dar crédito a George Lucas. E, depois de ver o site e falar com ele, estou inclinado a concordar: ele aponta que os longas se inspiram em modos clássicos de narrativa, fazendo referência a coisas como as interpretações de sonho do trabalho de Carl Jung para provar seu ponto. Mas sua ideia mais ampla é que Guerra nas Estrelas é a ocidentalização definitiva da ideia do taoísmo da unificação dos opostos: a prequela segue a queda de Anakin Skywalker da inocência para o mal, enquanto a série original mostra a salvação de Anakin através do amor restante nele, trazido à tona pela inocência de seu filho Luke.

Klimo e eu conversamos por telefone algumas semanas atrás para discutir Guerra nas Estrelas, a teoria dele e se J.J. Abram vai foder monumentalmente com tudo que George Lucas fez.

VICE: O que te inspirou a escrever esse artigo?
Mike Klimo: Comecei planejando escrever uma série de artigos sobre as prequelas, mas também sobre Guerra nas Estrelas no geral, abordando muitas das críticas que os filmes receberam com os anos, de 77 em diante. Enquanto eu fazia toda essa pesquisa, comecei a notar outros paralelos entre os filmes; por exemplo, o fim de Ameaça Fantasma. Acho que muita gente pensa que havia muitos paralelos com o final de O Retorno do Jedi, certo? Sabe, os Gundans se reunindo com o povo de Naboo para falar sobre a Federação de Comércio? E havia essa batalha de várias vertentes, e isso soava muito como O Retorno. E aí eu meio que percebi que aquele começo era muito similar ao que estava acontecendo no começo do Retorno. E aí, sabe, no meio do filme, foi tipo: "Caralho! Espera um pouco! O começo, o meio e o fim combinam!". Quando separei os atos em sequências e depois em cenas, vendo de perto o enredo e mesmo o trabalho de câmera, foi tipo: "Tem alguma coisa acontecendo aqui".

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Algo em especial ajudou a juntar tudo pra você?
Por volta dessa época, tropecei num livro chamado Thinking in Circles, da antropóloga social Mary Douglas. Foi quando tudo começou a se encaixar. Ela estava essencialmente descrevendo o que eu argumento que Lucas estava fazendo com esses seis filmes.

Imagem cortesia de Mike Klimo.

Você acha que a estrutura yin-yang foi intencional da parte de Lucas?
A prova, para mim, é esmagadora na estrutura que existe – que essa ideia aqui é uma estrutura quiástica (você pode chamar de convolução de anel). Acho que a evidência fala por si mesma.

Você aponta que há muitas tomadas correspondentes na prequela e na trilogia original, o que eu realmente não tinha percebido.
A estrutura, para mim, é inegável. No entanto, [a forma] como interpretamos isso, e talvez como tiramos significado disso, é outra história. Essencialmente, eu queria argumentar que era isso que Lucas buscava simplesmente por quem ele é como cineasta: as prequelas eram pensadas como a queda e os originais, como a redenção. Muito dos dois materiais, ele meio que aposta um contra o outro. Um representa o lado bom da força; o outro, o lado obscuro. E, como mostro no artigo, não me parece uma coincidência que, diretamente na metade de Ataque dos Clones, apareça uma figura de yin-yang nas nuvens, enquanto Anakin parece estar meditando. Eu diria que isso certamente foi intencional da parte dele.

Então você levou dois anos para escrever isso?
Dois anos do berço até a cova, em termos de pesquisa e de tentar colocar tudo na composição de anel, além de todas as regras que entram nisso: o prólogo, a divisão em duas metades e a ideia mais importante estando no meio. Sim, foi um processo muito longo.

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Você é mais interessado em Guerra nas Estrelas como objeto literário do que apenas como filmes pelos quais muita gente é obcecada?
Você está perguntando se eu tenho um capacete de Stormtrooper autografado pelo George Lucas? [risos] Quer dizer, quando era criança, eu amava Guerra nas Estrelas [o original]. Eu era obcecado pelos personagens, pelas origens, pelos detalhes… conforme fui envelhecendo, comecei a ir a uma direção diferente. Me interessei mais por cinema. Deixei Guerra nas Estrelas de lado por um tempo e aprendi sobre filmes. E, quando a prequela saiu, eu estava mais interessado em coisas como Paul Thomas Anderson e coisas assim. Entretanto, quando comecei a aprender mais sobre George Lucas, acho que passei a admirá-lo. Ele estava usando Guerra nas Estrelas como um veículo para expressar temas e emoções maiores.

O que você acha da nova trilogia de Guerra nas Estrelas e das notícias de que J. J. Abrams destacou alguns contornos de George Lucas para os filmes?
Acho que a Guerra nas Estrelas de George Lucas, como nós conhecemos, não sei se isso existe indo além [de Lucas], mas não sei se isso é necessariamente ruim. Quer dizer, adoro os seis filmes que ele nos deu e acho que já existe um significado enorme naquele material, embora esteja ansioso para ver outros cineastas, outros roteiristas, contarem histórias sobre aquele universo. Acho ótimo.

Você acha que a estrutura em anel vai continuar?
Acho que – pelos trechos, trailers e outras coisas – isso vai ser um paralelo de A Nova Esperança, assim como A Ameaça Fantasma. Só que, fora isso, não tenho certeza. Eu queria muito saber se J. J. Abrams sentou com Lucas e conversou sobre isso – e se ele sabe quanta coisa entrou apenas na estrutura desses seis filmes.

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O que você quis dizer com a frase "Guerra nas Estrelas de George Lucas"?
Os episódios de 1 a 6 eram a visão de George Lucas – sabe, mesmo com outros dirigindo e outros roteiristas ajudando. Mas sabe de uma coisa? Parte de mim não acha necessariamente ruim que Abrams esteja tomando o controle. E não porque muita gente está pensando: "Finalmente George Lucas está fora e vamos ter um bom Guerra Nas Estrelas". Eu preferiria que os novos filmes não tivessem nada a ver com Lucas; assim, as pessoas não ficariam pensando muito sobre isso. No momento, é uma questão de "Quanto ele está envolvido?" ou "Quanto do tratamento dele eles vão manter?". Entende o que eu digo?

Você preferia um corte claro.
As pessoas ainda estão imaginando: "Bom, talvez eles ainda estejam usando as diretrizes dele. Ou talvez algumas das ideias". E… bom, acho que isso é uma distração. Isso atrapalha. Vamos arrancar esse bandeide logo.

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Tradução: Marina Schnoor

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