Uma entrevista com a primeira pessoa a postar uma #selfie no Instagram, 283 milhões de posts depois

Quando escreveu "#selfie" no comentário de uma foto em seu perfil no Instagram (@jennlee), Jennifer Lee, 43, não imaginava que o autorretrato entraria para a história. Era 27 de janeiro de 2011, dia em que a rede social incluiu a ferramenta de indexação por meio de hashtag. A partir dessa data, a norte-americana ex-executiva com passagens pela Gap Inc., Accenture e HP e consultora de empreendedorismo há 13 anos — se tornava, oficialmente, a dona da primeira selfie do aplicativo.

"Eu postei a foto em 16 de janeiro, antes de o Instagram ter hashtags. Quando ele implementou o recurso, no dia 27, eu marquei todas as minhas fotos com várias tags, incluindo #selfie naquela imagem. 'Selfie' era o termo que eu ouvia das pessoas quando elas falavam sobre esses autorretratos, é por isso que eu usei", lembra ela, em entrevista à VICE, direto de San Francisco, onde mora.

Na época, o Instagram ainda não permitia a edição de legendas. Jennifer não pode mexer na frase original, então optou por incluir #selfie como um comentário embaixo da foto em que aparecia usando um suéter pela primeira vez.

Cinco anos depois de seu primeiro uso na plataforma, o termo "selfie" segue bastante popular. Foi eleita a palavra do ano pelo dicionário inglês Oxford, em 2013. Até o momento, a hashtag já foi usada 283.712.525 vezes na rede social em todo o mundo. É uma das marcações preferidas entre os usuários do aplicativo, sejam anônimos ou famosos, como Kendall Jenner, Taylor Swift, Beyoncé, Neymar Jr., Kéfera e Gisele Bündchen (veja abaixo).

O Instagram também segue crescendo. Atualmente, são mais de 400 milhões de pessoas ativas na rede social mensalmente, com média de 80 milhões de fotos publicadas por dia.

Tal volume de usuários causa comoção quando o aplicativo anuncia mudanças. Em março, houve protesto e petições online contra a troca da exibição das fotos em ordem cronológica por um algoritmo que as exibe de acordo com a relevância dos posts para cada perfil.

"O Instagram cresceu e ficou mais difícil acompanhar todas as fotos e os vídeos que as pessoas compartilham. Você pode se surpreender ao saber que as pessoas não veem, em média, 70% dos seus feeds. Isso quer dizer que muitas vezes você não vê publicações que pode considerar importantes", informa o aplicativo.

A plataforma afirma que os testes "de uma experiência mais personalizada do feed" ocorrem com uma parcela muito pequena dos usuários, que levará algum tempo para alinhar as alterações nossa comunidade global e que segue ouvindo feedbacks do do público sobre essa reorganização.

E como ser a "mãe do selfie" mudou a vida de Jennifer Lee? "Eu não diria que foi um daqueles pontos de virada na vida", comenta. "Mas foi surreal o dia em que o termo foi anunciado como a palavra do ano e minha foto começou a ganhar tantas curtidas e comentários de uma só vez. O legal é que a foto recebeu cobertura internacional e eu acho que foi até exposta no Museu Alemão de Tecnologia", relata a autora dois livros "The Right-Brain Business Plan" (2011) e "Building Your BusinessThe Right-Brain Way" (2014).

Ironicamente, ela afirma que não tem publicado tantas selfies assim. A última data de cinco semanas atrás. "Eu realmente acho tirar e postar selfie pode ser exagerado e narcisista quando levado longe demais. No entanto, também acredito que, se feito com intenção e consciência, pode ser uma ferramenta poderosa para a autoexploração e autocompaixão."

A seguir, a entrevista completa de Jennifer Lee.

VICE: Por que você usou a hashtag #selfie em 2011? Qual o significado do termo para vocês?
Jennifer Lee: Eu postei a foto em 16 de janeiro, antes de o Instagram ter hashtags. Quando ele implementou o recurso, no dia 27, eu marquei todas as minhas fotos com várias tags, incluindo #selfie naquela imagem. 'Selfie' era o termo que eu ouvia das pessoas quando elas falavam sobre esses autorretratos, é por isso que eu usei.

O que você quis dizer quando usou #selfie na legenda daquela foto, em que você usava um suéter?
A legenda foi escrita antes de existirem hashtags no Instagram, por isso é apenas sobre o quanto eu amava o meu novo suéter! Então, eu adicionei a hashtag como um comentário mais tarde, uma vez que não poderia editar legendas naquele momento.

Você imaginava que o termo "selfie" fosse se tornar um dos mais populares nas redes sociais desde então?
O termo selfie já era bastante popular na blogosfera em 2011, então não me surpreende que ele tenha se tornado popular nas redes sociais, especialmente com tantas pessoas tirando selfies e com o aplicativo Instagram sendo tão famoso.

Em 2013, dois anos depois de você ter usado #selfie no Instagram, a palavra entrou para foi eleita o termo do ano pelo Dicionário da Oxford. O que você pensa sobre isso?
Isso mostra como algo na cultura popular pode se tornar tão grande que se transforma até em uma palavra oficial no dicionário.

Sua vida mudou depois de ser anunciada a primeira pessoa a usar a hashtag #selfie no Instagram?
Eu não diria que foi um daqueles pontos de virada na vida, mas foi surreal o dia em que o termo foi anunciado como a palavra do ano e minha foto começou a ganhar tantas curtidas e comentários de uma só vez. O legal é a foto recebeu cobertura internacional e eu acho que foi até exposta no Museu Alemão de Tecnologia.

Depois de cinco anos, houve alguma evolução nos selfies?
Agora, eles estão em todos os lugares. Elas se tornaram onipresente.

Você continua postando selfies?
Ocasionalmente, eu ainda posto selfies no Instagram. Eu não publico um monte delas, o que torna o fato de eu ser a primeira pessoa a usar a hashtag "selfie" bastante irônico! Mas, de vez em quando, eu posto uma. Eu sei que é mais fácil as pessoas se conectarem com você, se eles realmente puderam vê-lo. E, às vezes, há momentos significativos que eu quero capturar ou apenas quer dizer "oi!".

O que você pensa sobre esse tipo de imagem?
Eu realmente acho tirar e postar selfie pode ser exagerado e narcisista quando levado longe demais. No entanto, também acredito que, se feito com intenção e consciência, pode ser uma ferramenta poderosa para a autoexploração e autocompaixão. Eu aprecio e se alinha com a abordagem "Seja sua própria pessoa amada", pregada por Vivienne McMaster (@viviennemcm), uma das minhas clientes na consultoria, e é uma maneira de ver a si mesmo com gentileza e autocompaixão.

Além de consultora em criatividade e empreendedorismo, você também pinta quadros. Qual a relação entre os selfies e os autorretratos na história da arte?
Sim, eu pinto e a maior parte do meu trabalho são telas enormes de pinturas intuitivas. Eu suponho que eles são como uma espécie de selfie interno, uma representação externa do que está acontecendo dentro da minha própria mente. Quanta aos selfies e os famosos autorretratos na história da arte, acho que existem algumas semelhanças. Parto do princípio de que os famosos pintores usavam esse recurso para explorar a si mesmos, documentar um tempo em sua vida para a posteridade ou apenas para ter um assunto para pintar. Hoje em dia, é muito mais fácil de fazer um autorretrato: você não precisa ser um mestre pintor, basta pegar o telefone e tirar um selfie.

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