Q&A:EVA KRUSE

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Sustainability Week

Q&A:EVA KRUSE

Eva Kruse é CEO do Danish Fashion Institute e da Copenhagen Fashion Week​. Conversamos com ela sobre moda sustentável, já que ela é uma pioneira no assunto.

Eva Kruse é CEO do Danish Fashion Institute e da Copenhagen Fashion Week. Conversamos com ela sobre moda sustentável, já que ela é uma pioneira no assunto.

Por que a moda tem um papel tão crucial no mundo de hoje?
Porque a moda talvez seja a indústria mais poderosa do mundo. Adoro roupas e adoro mentes criativas, a ambição das pessoas e o ritmo acelerado da indústria, mas acima de tudo, o que mais amo é o poder da moda. A moda vai muito mais longe que qualquer outro setor, e nos influencia consciente e inconscientemente. Ela nos faz amar, desejar, instigar, rejeitar e mudar. Sempre e sem parar.

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Por que você acha que a moda deve se preocupar com a sustentabilidade?Além de ser uma ferramenta de comunicação extremamente poderosa, a moda também é uma das maiores indústrias do mundo e uma das que mais intensamente consomem recursos em termos de energia, matéria-prima, pesticidas, produtos químicos, água e força de trabalho em países (que pagam salários baixos). Tamanha influência traz a responsabilidade de gerar novos modelos de negócios e aplicar as forças inovadoras e criativas da indústria na construção de mudanças no sentido de aumentar a sustentabilidade. Acredito que nós, como indústria e pessoas, temos a obrigação de pensar na sustentabilidade. Precisamos nos preocupar com o impacto.

Como você acha que a moda impacta o planeta?
O mundo está enfrentando mudanças climáticas sérias e outros problemas graves que afetam nosso habitat, influenciando a vida humana e animal. A indústria global da moda tem um impacto imenso no meio ambiente e nas milhões de pessoas que trabalham no setor, o que a torna uma das mais importantes do mundo. Isso principalmente porque também possui uma capacidade enorme de desencadear transformações que podem influenciar as vidas de milhões e exercer um efeito monumental no nosso planeta.

Na sua opinião, como a indústria da moda pode se tornar mais sustentável?Existem muitas coisas que a indústria pode fazer para se tornar mais sustentável e, sendo um setor poderoso, devemos dar o bom exemplo aos consumidores e guiar o caminho. Conceitos como economia circular, reciclagem, reuso, novos materiais, longevidade de design e qualidade duradoura estão entre as forças inovadoras de novos modelos de negócios que podem levar a inovação, a grandes produtos e empresas mais fortes, ao mesmo tempo minimizando o impacto sobre as pessoas e o planeta.

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O que a levou a se preocupar com o impacto da indústria?
Acho que nós, como indústria e consumidores, temos a obrigação de fazer alguma coisa. Temos que fazer a sustentabilidade ser o "novo preto". Temos que cuidar melhor do planeta pelo bem das próximas gerações. Para mim, fazia sentido pessoalmente começar a trabalhar com sustentabilidade na indústria da moda. Fazia sentido contribuir e pelo menos tentar estimular uma mudança.

Falando de bons exemplos, a Escandinávia é líder no sentido de considerar os resíduos como recursos em vez de um inconveniente. Você poderia destacar algumas iniciativas de boas práticas no seu país?
Existem várias empresas dinamarquesas que têm abordagem sustentáveis excelentes e que vale a pena citar. Os três exemplos abaixo deixam claro que existem muitas formas diferentes de pensar em uma indústria circular.

A VIGGA oferece roupas infantis orgânicas por assinatura. Conforme seu filho cresce, você troca as peças por outras maiores. Um modelo simples e circular de negócio.

2.A Resecond é toda voltada para a economia colaborativa. É uma loja em que os membros se inscrevem para adquirir roupas, mas devem doar peças antes para poder alugar e ficar com algum produto.

3.A marca infantil Name It lançou um sistema de reciclagem em que roupas velhas e gastas são levadas para as lojas e reutilizadas ou refeitas em novos produtos.

Pensar na moda como uma indústria circular me anima. Não só seria muito melhor para as pessoas e o planeta, como também há um incentivo econômico promissor nessa linha de raciocínio. Uma pesquisa (da Fundação Ellen McArthur) mostra que estamos deixando de gerar US$ 80 a 120 bilhões por ano no mundo todo por causa do potencial não utilizado da economia circular do plástico. Acredito que exista um potencial parecido – ou até maior – em uma economia circular para a moda com foco nas fibras. Alguns atores no setor já começaram, mas ainda temos que entender todo o potencial econômico, no meu entendimento.

Com o aumento da conectividade global, como você acha que podemos catalisar mudanças reais na indústria?
A cada dois anos, o Instituto Dinamarquês de Moda e a Associação Nórdica de Moda promovem a Copenhagen Fashion Summit – um marco que busca promover a pauta da sustentabilidade e acelerar a transformação em uma indústria que é um desafio. O evento de 2016 marca a quarta edição da conferência e com o impulso que vimos desta vez, acredito de verdade que começamos um movimento. É questão de dar passos pequenos, mas cada vez mais pessoas estão se unindo ao debate, e mesmo um pequeno passo faz a diferença.

É isso que me motiva e motiva minha equipe a dar duro para organizar a conferência. A crença de que temos o mesmo o poder de transformar.