O zoológico criacionista de Bristol

Sábado passado fui visitar o Zoológico Fazenda Arca de Noé, um zoológico criacionista mantido por cristãos perto de Bristol, Reino Unido. Normalmente associo o criacionismo, e especialmente lugares de entretenimento voltados para o criacionismo, com os EUA, então fiquei interessado em ver os britânicos se metendo nesse besteirol religioso.

Foi isso que vi na entrada do zoológico. Imaginei que eles estariam protestando contra as intenções cristãs do zoo, mas aparentemente eles estavam lá para nos informar sobre as outras intenções do zoo, as de manter uma cabeça de tigre na geladeira da sala dos funcionários.

Esse é um rinoceronte, uma das criaturas mais incríveis de Deus. Sabia que aquele chifre no meio da sua cara na verdade não é um chifre? Aquilo é feito de uma série de cabelo grosso prensado que sai do seu crânio sem nenhum suporte no esqueleto. Deus realmente escreve certo por linhas tortas. Apesar de que fui lá procurando por coisas cristãs, demorou um pouco até que eu achasse alguma coisa. Além do nome, quase não há nenhuma coisa cristã no material didático e nas placas pelo zoológico.

Comecei a achar que as técnicas de lavagem-cerebral do zoo eram tão sutis que não conseguiria achar nenhuma evidência delas até que voltasse pra casa com a Glória de Deus em meu coração e começasse a estigmatizar as palmas das minhas mãos. Ainda bem que quando entrei na sessão dos répteis achei essa jóia. Era muito longo e nem li: sabemos que Deus fez as cobras porque a Bíblia o disse e a ciência não tem muito como provar ao contrário.

Mas aí voltamos para as coisas normais de zoológicos, tipo escutar 50 pessoas simultaneamente gritando “TIMÃO!” para o pobre animal.

Um pouco desapontado com a falta de propaganda de um velho loucão, continuei andando. Até que encontrei esse lugar, a Meca da insanidade, um teatro em forma da Arca de Noé e um playground de aventura.

Na parte principal onde estão todos os cartazes e tal tinha um monte de pôsteres fixados que explicavam as três teorias de onde veio a vida na terra. São os clássicos da: evolução (“nossa breve descoberta do fóssil sugere que aquela evidência falsifica a teoria”), criacionismo (“em nossa opinião, há muitos problemas com essa teoria”) e então uma terceira, uma novíssima teoria chamada “teoria da recolonização”, que é recomendado pelo zoológico “por melhor satisfazer as evidências científicas”. Essa é a teoria que o zoológico fez para promovê-lo. Então do que trata exatamente essa teoria?

“Duas interpretações diferentes do tempo geológico.

Águas de cima e de baixo engoliram toda a terra. Existe apenas um período geológico que corresponde a isso: a primeira parte do Arcáico, na base na história da rocha. Diferentemente de outros planetas, rochas ‘Hadeanas’ mais antigas não mais existem, porque durante o cataclismo eles foram misturados de volta no manto. O Genesis explica porque essa parte da história está sumida.

“Os fósseis conta a história da recolonização da terra, conforme uma pequena quantidade de organismos, marinhos e terrestres, se espalharam por todo lugar em um planeta vagarosamente em recuperação. O ambiente continuou instável por dezenas de milhares de anos. Em resposta, espécies se diversificavam em novas espécies, algumas vezes desenvolvendo nossas propriedades complexas, como o biosonar. Evolução nesse sentido é visto com uma evidência de programação genética imensamente volátil e rústica – de um Criador, não de um poder mágico da criação dentro da própria natureza.

Para saber mais, dê uma olhada nos cartazes na Exibição da Arca de Noé, ou visite o site www.earthhistory.org.uk”

Para ser honesto, nunca consegui entender isso. Tinha informação em excesso nos cartazes e a maioria era muito vago. Eles parecem adotar a escola do “inocente até que se prove ao contrário”: tudo o que a ciência consegue desaprovar conclusivamente, eles aceitam. Todo o resto é trabalho de Deus. Mas aqui estão algumas coisas que aprendi durante todas as horas que fiquei vendo os cartazes e dizendo “queeeee?” enquanto chacoalhava minha cabeça…

Fato 1: Deus permite seus discípulos sofrerem por várias razões e você é um idiota se se focar no lado negativo das coisas. Pense no lado bom também, tipo o fato de você ter terminações nervosas para saber que está sendo torturado lentamente num campo de concentração. Desastres naturais? Você não tem que morrer em um. Deus te dá muitos avisos antes. Como no Japão, Deus deu sete minutos pra você pegar suas coisas e sair correndo de lá. Pare de reclamar.

“De nada, pessoal!” – Deus

Fato 2: Ao contrário do que todos pensam, a Família Real Britânica não veio de lagartos. Na verdade eles são descendentes diretos de Adão. Esse pôster prova isso de alguma maneira.

Fato 3: 71,6% da população britânica se identifica como Cristã. Espera aí, eu falei “população britânica”? Quis dizer “leitores do jornal conservador The Sun”. Desculpa se te confundi agora!

Fato 4: A Arca de Noé realmente aconteceu. Sabemos disso porque A) a Bíblia assim o disse, B) uns gregos também falaram, C) alguma besteira sobre radiação e pedras que realmente não entendi muito bem, e D) porque eles perguntaram para uns entendidos sobre barcos se a Arca de Noé flutuaria na vida real e eles falaram que sim. Então é isso aí.

Uma das minhas coisas favoritas sobre esse pessoal ultra religioso é como eles são inacreditavelmente ingênuos em relação a frases com duplo sentido. Quer dizer que dois burros selvagens vem da África, né? Imaginem a alegria de um professor depois de ensinar essa frase para uma classe de alunos de 12 anos de idade.

Se você é o Richard Dawkings, e está se estressando, então se acalme, Richard. Vai ficar feliz em saber que o zoológico não é muita ameaça para a ciência e a razão. É verdade que as paredes dali estavam cobertas de mentiras, mas olhe pra essas crianças: quantas você acha que estão cogitando as ideias nesses cartazes cheio de palavras explicando que as corujas não podem ter evoluído porque elas tem estômagos estranhos? E quantas você acha que estão ansiosas pelo adorável cordeirinho que eles vão ver?

Como sempre, esse lugar sofre de um problema cristão eterno: eles não tem a mínima ideia de como combinar seu besteirol entediante com as coisas pelas quais as crianças realmente se interessam. O Islã têm virgens e palavras tipo “Jihad”, os judeus têm aquele lance cool de uma sociedade secreta, os seguidores do Sikhismo tem umas facas gigantes e bebem pra caralho, mas os cristãos tem pedofilia e piedade. Nenhuma criança vai curtir isso aí, apesar de eu dar nota 10 pra esses caras por tentarem combinar as coisas divertidas de crianças com as propagandas de merda:

“Chalé do Noé”

Uma impressão plastificada colada numa casinha de plástico? É uma câmara de lavagem-cerebral para crianças! Acho que a única coisa que fez eles dispararem meu alarme ateu foi quando eles colocaram as ideias loucas deles nas placas das cercas dos animais porque isso é algo que as pessoas realmente leem e supõem ser realidade:

Dá uma olhada na parte de baixo a direita da placa. Aposto que vocês não sabiam que as antas não são relacionadas a nenhum outro animal e “parecem ser de uma criação diferente”, né?

Ou que pássaros não só cantam por razões práticas, mas também para “louvar o Criador”? Sabe porque você não estava ciente disso? Porque é PURA DOIDERA.

Então é, tá aí, pouquíssimas crianças vão se importar em ler essas loucuras, mas talvez você deveria levar as crianças ao Zoológico de Bristol, só por segurança. É a apenas 15 minutos dali, custa o mesmo para entrar, e eles têm animais muito mais legais.