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Milhões de Festa

Fui ao Milhões à procura do gajo com quem andava a pinar

O primeiro Milhões da Ana Cardoso.

Tenho gostos musicais exóticos e zero calo de festivais. A minha primeira ida ao Milhões foi motivada sobretudo por uma mistura de desorientação após um recente regresso à pátria com uma pitada de o-gajo-que-ando-a-pinar-também-vai. Tudo isto e ainda uma dose saudável de não-me-ocorre-nada-melhor-para-fazer. Não conhecia nenhuma das bandas, mas também não foi essa a razão principal para ir. Passei a maior parte do tempo a vaguear pelo recinto, a fazer amigos, a beber finos do

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e a esquecer-me de comer. Antes de mais, deixem-me sublinhar que isto foi no ano passado, portanto não vou sequer tentar fingir que sei o que se passa realmente. Sei que fiz muitos amigos, dormi em casa de pessoas que não conhecia e alimentei-me à base de cerveja, a ocasional bebida energética e meio chocolate. Se bem me lembro, dentro do recinto as opções eram guloseimas ou cachorros, mas eu só como vegetais, por isso vão-se foder. A fazer amigos e a beber a ocasional bebida energética. Quando me disseram que o Milhões tinha uma piscina, imaginei logo uma imagem pós-apocalíptica de um mar de vómito e de outras substâncias, objectos variados a flutuar e isso, pelo que não levei fato de banho nem sequer me ocorreu aproximar-me da piscina. No entanto, descobri que a piscina em causa é do tipo normal, apenas com festivaleiros ainda semi-sóbrios, ou simplesmente demasiado ressacados para javardar demasiado. Descobri isto da minha posição privilegiada ao lado do bar, à sombra, a besuntar-me de protector solar e a beber vinho porque tem mais classe (não pode ser sempre cerveja). Quanto às casas de banho, vou só deixar uma nota, quem anda em festivais sabe do que estou a falar: "Vou ali à casa de banho, não esperem por mim." A certa altura acreditei mesmo que estava perdida para sempre e que nunca iria encontrar o gajo com quem andava a pinar (que agora até é o meu namorado, suas velhas púdicas — faz um ano agora no Milhões, aww que lindo), mas lá o encontrei a rebolar no chão, com o Fábio e o Granada (pessoal da organização), no meio de uma pilha humana de bêbados felizes. Volta e meia aborrecia-me com o festival, mas pelo menos já podia tentar convencer o meu acompanhante a satisfazer-me algumas necessidades básicas (não estou a falar de comer). Como não podia entrar no backstage e o rapaz não era desinibido o suficiente para resolver estes assuntos num canto escuro qualquer, tivemos de acalmar a passarinha e ser festivaleiros decentes, daqueles que só bebem copos e vão a concertos. A propósito, se estão a planear pinar com alguém da organização para cravar uns bilhetes, saibam que eu paguei o meu apesar de proporcionar prazer carnal. No entanto, tive finos à pala, sítio onde dormir e fodas fixes. Estão a planear pinar alguém da organização? São estes, acho. Foi algures na madrugada de segunda que tive de me despedir do festival e do namorado que adquiri durante o mesmo. Fui confiada às mãos capazes do Luís Silva (um amigo meu que vocês não conhecem, mas que, pelo menos, ficam a conhecer o seu nome) que me levou até ao aeroporto onde o meu pai me foi buscar às seis da manhã (vivia perto do aeroporto) e seguiu-se a viagem de carro mais constrangedora da minha vida: uma Ana muito pouco sóbria, acabada de sair de uma carrinha misteriosa num aeroporto às seis da manhã, esforçou-se por manter a compostura até chegar a casa. Tendo em conta este relato, podem concluir que eu agora classifico o Milhões como “a melhor cena” e que estou estupidamente entusiasmada com o festival deste ano. Até posso dizer que conheço um ou dois nomes do cartaz, mas palpita-me que será mais um ano de vaguear sem ver concertos e de fazer amigos novos.