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O que pensam as cadeiras sobre o discurso do Clint Eastwood?

Um franja de votantes que ficou esquecida.

Como provavelmente devem saber, o Clint Eastwood — aquele gajo famoso dos filmes de Hollywood e antigo presidente da câmara de Carmel — fez um discurso desconexo e confuso na Convenção Nacional Republicana da semana passada. Até a equipa do Romney ficou tipo: “Ya, também não sabemos o que se passou aqui, ele estava nos seus maranços.”

O conceito que o Eastwood usou para o discurso foi uma espécie de acção vaudeville (ele é suficientemente velho para se lembrar disso): fingiu que a cadeira vazia que estava ao lado dele era o Obama. Durante 11 longos minutos, o Clint foi tropeçando nas suas palavras, abordando tópicos que estavam semi-interligados, respondendo às interrupções ocasionais das cadeiras ao dizer cenas como “não me vou calar”, ou “o que queres que lhe diga, Romney? Não lhe posso dizer para fazer isso por ele próprio!” Foi como se estivéssemos a olhar para o nosso avozinho, depois deste ter bebido uns copos a mais — aquelas alturas em que ele começa a dar a sua verdadeira opinião sobre as coisas. É de ficarmos horrorizados, mas também curiosos sobre o que ele tem a dizer e, por isso, não o interrompemos. Têm havido inúmeras discussões e análises sobre o discurso — o que faz sentido, claro —, mas acho que toda a gente tem ignorado, injustamente, um grupo de votantes que estaria potencialmente interessado no discurso. Não concordo com esse desprezo. Então, andei às voltas pela redacção e conversei com algumas cadeiras.

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VICE: O que achaste do discurso do Eastwood?

Cadeira giratória simpática:

Tenho uma palavra para ti: finalmente! Finalmente os republicanos prestaram-nos atenção, a nós cadeiras. Sei que corre um estereótipo de que todas nós estamos inclinadas para a esquerda, que somos hippies ou coisa do género, mas isso não corresponde à verdade. Fico satisfeita por nos terem incorporado na convenção.

És republicana?

Não me identifico bem com nenhum partido, mas definitivamente não curto a forma como o Obama tem lidado com o défice. Ele nem sequer tomou medidas sobre a crise da obesidade nos Estados Unidos, o que, como é óbvio, é um assunto delicado para mim e para toda a comunidade de cadeiras.

Consigo perceber.

Pessoalmente, conheço várias cadeiras que se partiram por causa do “excesso de peso”, como gostamos de lhe chamar. Nem é preciso explicar que, se o Romney tivesse escolhido o Chris Christie como vice-presidente, ele teria perdido todos os votos das cadeiras. Julgo que esse foi o factor decisivo para a sua escolha.

Viste o discurso do Clint da semana passada?

Cadeira rotativa que está sempre inclinada, porque está um bocado partida:

Li sobre isso no Twitter. Isso rebentou nas redes sociais, especialmente, nas páginas das cadeiras que conheço.

Que tipo de coisas andaram a circular?

Bem, como podes imaginar, toda a gente foi do tipo: “Uau, que convidado surpresa!” Mas o Eastwood pouco deixou a cadeira falar. Garanto-te que aquela cadeira tinha coisas mais interessantes para dizer do que o Clint, e teria falado muito melhor. Mas a cadeira — não a conheço pessoalmente e não quero ser má-lingua — só estava lá sentada, nem uma palavrinha disse.

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O que terias feito se estivesses naquele púlpito?

Gostaria de ter tido os tomates para gritar coisas como: “Acordem, cadeiras! Estes conservadores otários só nos querem atirar para o lixo e voltar à era em que as pessoas se sentavam em calhaus. Votem no Gary Johnson!”

És libertária?

Ya, meu. Acabemos com a guerra das drogas. Tragam o nosso exército para casa hoje. Mas, claro, é por isso que nunca me deixariam subir àquele palco.

Então, o Clint Eastwood…

Cadeira de realizador 1:

Oh man, podemos não falar sobre isso? És, tipo, o terceiro jornalista a perguntar-me sobre isso hoje.

A sério? Desculpa.

Não faz mal. Só queria recordar-me do Clint por todos os belos filmes que ele fez, percebes? Não consigo pensar nele desta forma, como um ideologista incómodo, ou algo do género.

Cadeira de realizador 2:

Odeio quando os actores falam sobre políticos. Ou qualquer outro artista no geral. Acham que eles não devem expressar o que pensam? É como a minha colega já te disse. Lembras-te do

Unforgiven

? Foi um grande filme. Talvez um dos melhores westerns de sempre.

Cadeira de realizador 3:

Minha, o

Rastros de Ódio

Cadeira de realizador 2:

Não vou ter esta discussão aqui. Toda a gente sabe como me sinto em relação ao

Rastros de Ódio

. Ainda assim, se for rever o

Unforgiven

, vou ficar a pensar: “Será que isto é influenciado pelas minhas posições de direita? Será que isto é uma afirmação política?” Isto não devia estar na minha cabeça. Não quero ver um filme com uma data de preconceitos baseados no realizador, ou em quem é que ele vota. Por exemplo, sabes em que é que o P.T. Anderson vota?

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Nem por isso.

Exactamente. Nem queres saber. Não interessa, estás-te a borrifar. Não queres encarar os filmes dele como uma cena política.

Ou seja, estão ansiosas pelo The Master?

Cadeira de realizador 1:

Ui, nem fazes ideia.

O que acharam sobre a verborreia do Eastwood?

Cadeira baixinha 1:

Achei que foi estranho e perturbador. Por que é que ele estava a falar sobre encerrar-se a base de Guantánamo e tirar a malta do Afeganistão amanhã? O que é que isso tem a ver? O Romney não está a favor destas políticas.

Cadeira

baixinha

2:

Espera, há um motivo pelo qual ele não possa falar sobre isso? Estas são as opiniões dele, ele pode exprimi-las. Aposto que há uma carrada de republicanos que concordam com ele. E foram eles que o deixaram dizer o que bem lhe apeteceu.

Cadeira

baixinha

1:

Sim, eles foderam tudo. E o Clint embaraçou o Romney.

Cadeira

baixinha

2:

E qual é o problema? A malta precisa de ter sempre uma mensagem? Juntar-se aos soldadinhos de chumbo e fazer a coreografia do costume?

Cadeira

baixinha

1:

É para isso que servem as convenções. Não é altura para liberdades. Só acho que o pessoal do Romney devia ter planeado isto melhor. Não é bom para eles terem os oradores fora de controlo.

Vocês namoram?

Cadeira

baixinha

2:

Sim.

Cadeira

baixinha

1:

Não.

Posso falar contigo sobre o discurso do Clint Eastwood?

Sanita:

Não tenho nada a dizer sobre ele, nem sobre os republicanos. Os políticos são merda.

Todos os políticos? Ou só os gajos deste partido?

Todos. Há quanto tempo têm as cadeiras andado a votar nos democratas? E não ganhámos nada com isso. Já alguma vez ouviste falar do Acto de Estímulo ao Estofamento? Não, não ouviste, porque ficou retido no comité. Os políticos que se vão foder.

Não viste a convenção?

Nope. E fico feliz por isso. Não foi nada se não intriguismo. Aparecem com uma cadeira em público? Fixe, pessoal, mas onde gosto de ver uma cadeira é num escritório.