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Música

VINÍ Vai no Flow e Diz que Está se Desprendendo de Rótulos

O produtor paulista está pra lançar 'Dharma', seu novo álbum. Trocamos uma ideia com ele que falou sobre gêneros, budismo, Rio, São Paulo e mais.

O menino Vinicius Miguel aka VINÍ mandou um som novo pra nós. "Cage" que vai estar em Dharma, seu próximo disco, vem numa pegada boom bap, experimentalzona. Pouco lembra o batidão funk, gênero que antes costurava sua produção. Se liga:

Previsto pra sair no finalzinho de outubro – "Ou primeira semana de novembro" – o EP está em fase de finalização. O paulistano prolífico da Vila Califórnia diz que tem mais umas dez faixas na manga. Mas como sua nota de corte é alta, devem sobrar de quatro a sete músicas.

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No melhor esquema independente, Dharma vai estar disponível em streaming no SoundCloud do VINÍ e com o download liberado pra geral. Bati um papo por e-mail com ele que me contou como funciona esse lance de Dharma e desapego. Coisas da máxima budista, doutrina que seu avô seguia e herói que ele homenageia na nova produção. Quer saber? Melhor deixar o cara falar:

THUMP: Esse é seu primeiro lançamento desde Favela 3000, né? O que mudou do primeiro disco até o Dharma?
VINÍ: Eu diria que sim, é o único trabalho mais sólido depois do Favela 3000, depois dele eu só havia lançado algumas músicas avulsas que não cheguei a considerar como singles, de fato.

Acho que, essencialmente, o que mudou foi aquela intenção e preocupação que havia antes de fazer um "som de baile", mais pra fazer a galera dançar na pista, cheio de groove do funk daqui e tudo mais. Não que hoje eu não queira mais fazer um som pista ou nunca mais vá usar funk em nada, só que se rolar vai ser bem natural, sem forçar o processo. Acredito que o Dharma deve vir um pouco mais "sério", sabe? Não com aquele jeito de som de pista, mas que ao mesmo tempo ainda vai ter um beat forte ali.

Me sinto desprendido de qualquer gênero ou vertente, mesmo que eu já esteja "marcado" por ter feito algum gênero por um tempo. Além disso, sinto necessidade de experimentar outros sons, mostrar outras influências, fazer mais o que eu estou sentindo no momento. Acho que essa liberdade foi a principal mudança de lá pra cá.

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"Cage" já dá uma ideia do que vem por aí? É bass pesadão? Qualé a pegada do disco novo?
"Cage" dá uma ideia de uma parte do EP, que é mais pesada na ambiência, uma coisa meio tensão, sombria mesmo… Tô muito nessa pegada, sempre curti sons assim. Porém, vai ter alguns momentos mais "pra cima" também, alguma melodia mais suave, pro disco não ficar cansativo. Acho importante manter esse equilíbrio.

Eu tenho mais umas 10 faixas pra finalizar com potencial pra entrar no EP, mas ainda vou dar uma filtrada e como minha linha de corte com minhas próprias coisas é meio rígida, devo ficar com algo em torno de quatro à sete musicas. Entre essas demos, tenho desde coisas que lembram o trap (como a própria "Cage", em alguns elementos e na construção, mas além dela só quero mais uma nessa linha), tem beat mais puxado pro boom bap com um quê de experimentalismo, tem footwork e até umas piras de miami bass e techno meio industrial. Mas acho que não dá pra rotular com precisão tipo, tipo ouvir uma faixa e dizer "hmmm, isso aqui é trap", por exemplo.

E essa viagem de Dharma? É uma pegada de seguir o flow? Lei natural das coisas? Você curte o Sidarta?
É um pouco de várias coisas. Tem a ver com isso de lei natural, em relação a esse momento que citei antes, de me desprender de rótulos, estar sempre fazendo algo novo, aprendendo e experimentando coisas novas, vejo isso como evolução, parte do ciclo da vida mesmo… Outra coisa é um lance que eu li outro dia sobre o Dharma que dizia algo como "transmissão da compreensão entre mestre e discípulo", e isso foi fator determinante pra escolha do nome. Eu buscava alguma referência do budismo, pois queria prestar uma pequena homenagem ao meu avô (provavelmente o cara com quem eu mais aprendi na vida), com quem passei grande parte da minha infância e pude ver de perto o quanto ele seguia à risca as doutrinas budistas no seu dia a dia. Era quase como estar vendo um samurai de perto. Isso me influenciou bastante e acredito que influencia minha música e agora um pouco da identidade visual também.

Mas eu mesmo não sou budista… Gosto de algumas coisas deles e sempre que tenho tempo livre, leio um pouco mais sobre.

Por ser de São Paulo você acha que consome funk de um jeito diferente? O paulistano é mais do rap enquanto o Rio é mais funk? Ou essa diferenciação nem existe mais?
Sim, eu acho que em cada lugar se tem um jeito diferente de fazer ou consumir determinado tipo de música. Isso varia de acordo com as características do lugar e do estilo de vida do mesmo. Eu sinto que aqui em São Paulo o lance sempre foi um pouco mais "cara fechada", tanto no rap como no funk. No Rio, eu já vejo o artista ser mais descontraído, mais "tiração de onda", como eles mesmos dizem. Porém, tanto aqui como lá, eu tenho sentido a cena do funk meio enfraquecida no momento. Já faz um tempinho que eu não escuto algo que me empolgue.

E pra mim, nem existe um sentido pra isso de "esse som aqui é nosso, aquele ali é deles", às vezes o maior barato é você ver como alguém de outro lugar faz a música local de algum lugar que não é o dele, sabe? Eu imagino por exemplo, como os caras do rap aqui de São Paulo (que estavam cantando mais letras de protesto lá no comecinho dos anos 90) viram surgir uma galera no Rio com umas ideias totalmente diferentes, um flow mais solto, umas sacadas bem boas e tudo mais… Mas que também era rap. Deve ter sido um choque muito louco.

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