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Outros

As dores e as delícias de ficar com roommates

Para a geração do Tinder/Grindr, a linha entre amigo e amante vem sendo confundida de maneiras sem precedentes, e o ‘roommate colorido’ está em ascensão, doa a quem doer.

Ilustração por Jamie Loftus.

Ter um colega de apartamento nunca foi fácil. Mas também nunca foi tão difícil.

As finanças dessa geração estão em frangalhos, a qualidade de vida é bem pior que a das gerações anteriores e estamos enfrentando a pior crise de débito estudantil da história, então os millennials adultos encaram situações de moradia bem incomuns. Muita gente de 18 a 34 anos está voltando a morar com os pais, vivendo em "cubículos" ou em caixas dentro de outros apartamentos, e, mais do nunca, morando com outras pessoas para dividir o aluguel. E muita gente prefere não morar com seus peguetes.

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Mas os jovens têm redefinido incrivelmente seus relacionamentos mais próximos. Já postamos histórias do que acontece quando estudantes ficam com seus roommates — mas o que acontece quando você deixa a bolha da vida universitária? Para a geração do Tinder (e até a do Seeking Arrangement), a linha entre amigo e amante vem sendo confundida de maneiras sem precedentes, e o "roommate colorido" está em ascensão. As histórias abaixo demonstram casos a favor — e contra — as realidades gostosas, desconfortáveis e zoadas de trocar saliva com a mesma pessoa com que você divide a conta da internet.

Kathleen, 42 anos

Nos anos 90, meu colega de apartamento AJ e eu costumávamos chapar juntos, e acabávamos dizendo "Bom, estamos bem loucos mesmo, então vamos nos pegar". E foi assim que começou.

Eu e o AJ éramos muito próximos — a gente tinha até a senha do banco um do outro. E aí ele me deu uma facada nas costas. Ele começou a sair com uma amiga em comum que acabou se mostrando uma psicopata, e ela destruiu nossa amizade. Ela abriu minhas correspondências e furou os pneus do meu carro mais de uma vez.

O AJ era um cara muito legal, até que um amigo dele disse: "Você é sempre o cara legal, assim você nunca vai ficar com a garota". Foi quando ele começou a me usar. Doeu. Eu não recomendaria ficar com seu roommate. Isso complica muito as coisas. No meu caso, isso estragou tudo que eu tinha de bom. Agora sou solteira e estou bem feliz assim.

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Heath, 25 anos

Eu tinha 19 anos e nunca tinha saído de Kentucky até me mudar para Portland. Eu estava tentando conhecer gente e me divertir um pouco, e usava o [aplicativo de encontros gay] Scruff para achar amigos.

Um dia conheci o Chris. Ele tem 51 e eu tenho 25. Quando ficamos pela primeira vez, eu não tinha muita experiência, então só nos beijamos e fomos devagar. Na época, ele estava com um cara chamado Lance, e nós três estávamos sempre juntos. Aí eles me disseram "Essa casa também é sua".

Um dia o Lance terminou com o Chris, e eu me mudei para a casa dele. Moro na casa dele num quarto separado há quase cinco anos. Não transamos mais — paramos uns três anos atrás. Mas temos muito em comum. Adoramos assistir rugby, e eu também jogo. Nós dois gostamos de hóquei; nosso time é o San Jose Sharks.

Sou transgênero e fiz a transição no primeiro ano do colégio. Sofri muito bullying. Colocaram fogo no meu cabelo. Um garoto me deu um soco na frente dos professores, que não fizeram nada. Recebi um monte de ameaças de morte. Eu precisava de um espaço seguro, e o Chris me deu isso. Ele se casou menos de três meses atrás, e agora estamos procurando uma casa com um porão onde eu possa morar. Ele ainda me quer na vida dele. Minha mãe me criou sozinha, então ele é como o pai que eu nunca tive.

Hoje eu tenho um emprego ótimo e estou me formando como analista de dados. Estou namorando, mas meus gostos mudaram. Procuro alguém da minha idade. Acho que conforme fui amadurecendo, a questão se tornou menos sobre sexo e mais sobre encontrar alguém com quem eu possa compartilhar minha vida. Não quero parecer egoísta, só estou procurando um parceiro agora. Quero alguém com quem eu possa envelhecer.

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Lauren, 27 anos

Tudo o que eu fiz no meu intercâmbio em Oxford foi ler, escrever e transar.

Meus colegas de apartamento passavam o dia inteiro bebendo cerveja e comendo peixe frito com batata na loja do lado de casa. Éramos eu, uma garota, e quatro caras num flat de três andares. Não tínhamos muitos amigos britânicos. Foi uma época sombria.

Meu roommate Tommy já tinha ficado como outra garota na casa, mas aí começamos a transar sempre. A gente enchia a cara e acabávamos fazendo o melhor sexo da minha vida. Fui para uma partida de polo com o Tommy nos arredores de Londres. Colocamos nossas roupas mais chiques e foi muito divertido. Mas aí enchemos a cara e eu acabei escoltada para fora do jogo de polo.

Transar numa casa com outros colegas de apartamento era bem divertido. Também era excitante porque a gente fazia tudo escondido. Só vi o Tommy uma vez depois disso. Ele veio ficar na minha casa, transamos mais uma vez, depois bloqueei ele em todas as minhas redes sociais. Agora tenho um colega de apartamento homem, mas somos como irmãos. Nunca mais vou transar com um roommate. As coisas ficam estranhas bem rápido e isso faz todo mundo no apartamento se sentir desconfortável. Já superei essa fase.

Scott, 50 anos

Moro em Denver e trabalho na indústria do turismo. Sempre morei sozinho, mas ano passado tive um roommate por seis meses que conheci pelo Grindr. Inicialmente nos encontramos só para ficar. Eu queria namorar, mas ele não estava interessado. Mas ele precisava de um quarto para ficar, então aluguei um na minha casa para ele por $400 por mês. Assim que ele se mudou, decidimos que não podíamos mais ficar.

Ele era do Paquistão, e cozinhava refeições maravilhosas quase todo dia, o que era muito bom pra mim. Depois do jantar, eu fazia um chá inglês e a gente assistia as novelas paquistanesas dele no YouTube. Eu não entedia uma palavra, mas sempre sabia o que estava acontecendo. Daí eu fazia uma massagem nos pés dele e ele ia dormir. De certa maneira, era como se fossemos casados, mas sem sexo. Era um relacionamento bem legal, sem tensão sexual nem estresse.

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No geral, gostei muito da experiência, e sinto saudades dele todo dia. Quando ele se mudou, segui morando sozinho. Fui um desses experimentos sociais raros e especiais que acontecem na nossa vida. Ganhei um amigo ótimo — ainda estamos em contato e sempre lembramos com carinho do nosso tempo juntos.

Nesses aplicativos de encontros, é bem improvável encontrar alguém tão confiável, alguém com quem você possa realmente contar. Mas, às vezes você encontra esse alguém especial. Então não descarte todo mundo.

Amanda, 28 anos

Sou bartender e moro em Bushwick, Brooklyn. Pode me chamar de hipster se quiser, mas eu evito o rótulo. Mas eu toco teclado e baixo em duas bandas.

Morei numa casa punk DIY por um ano. O lugar era infestado de ratos. Muitos desses espaços DIY em Bushwick são lofts com cubículos. Lá eu morava com o Nate e mais um monte de gente. Nate e eu éramos amigos há muitos anos, mas nunca tínhamos ficado.

Uma noite, muito, muito bêbados, chegamos de um show e fomos para o quarto dele, que era particularmente vulnerável aos ratos porque era do lado da cozinha. Estávamos transado quando os ratos começaram a aparecer, e ele tinha fobia de ratos. Ele surtou e correu pra porta com a calça nas canelas. E nunca mais ficamos de novo.

Siga o Conor Bezane no Twitter e acompanhe o blog dele.

Tradução: Marina Schnoor

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