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Comedores de Animais

Há uma estranha renascença do bestialismo na Europa. Talvez ironicamente, a onda começou quando ativistas conseguiram proibir a prática em lugares como Alemanha e Noruega.

Há uma estranha renascença do bestialismo na Europa. Talvez ironicamente, a onda começou quando ativistas conseguiram proibir a prática em lugares como Alemanha e Noruega. Em segundo plano, simultaneamente começou a surgir uma indústria de turismo sexual com animais — que está florescendo especialmente na Dinamarca.

O país escandinavo está longe de ser o único lugar onde é possível trepar com um golfinho, um cavalo, um porco ou um cachorro. Inclusive, mais de uma dúzia de estados e territórios norte-americanos permitem legalmente alguma forma de relação homem-bicho, incluindo Alabama, Connecticut, Havaí, Kentucky, Nevada, New Hampshire, Nova Jersey, Novo México, Carolina do Norte, Ohio, Texas, Vermont, Virgínia Ocidental, Wyoming e Washington, DC.

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No ano passado, no entanto, foi Alemanha que ganhou atenção na mídia internacional por elaborar uma legislação para criminalizar o sexo com animais – sem levar em consideração se o bicho se machuca no processo. O doutor Edmund Haferbeck, chefe do Departamento Jurídico e Científico do grupo de direitos dos animais PETA na Alemanha, encarou o fato como um triunfo ambíguo: ele alega que outras leis de bem-estar animal enfraqueceram, apesar de sua vitória pessoal na proibição do sexo entre espécies – a câmara alta do parlamento alemão, a Bundesrat, aprovou o projeto em fevereiro de 2013, antes de ele ser sancionado pelo governo da chanceler Angela Merkel e virar lei.

As tentativas de criminalizar a zoofilia como ato, independente de haver evidências de abuso físico contra o animal, foram então lideradas por ativistas dos direitos dos animais. Faz sentido. Mas as repercussões da lei foram inúmeras, e uma delas foram os protestos diretos de um grupo minoritário de zoófilos conhecido como Zeta (sim, é uma brincadeira com Peta). Os membros admitem que fazem sexo com animais e muitos também têm parceiros humanos que sabem de suas tendências. Acontece que Dave Chappelle foi incorreto em seu famoso especial de stand-up For What It’s Worthao dizer: “Podem continuar trepando com gente, sobra mais xota de macaca pra mim!” – as pessoas, na verdade, trepam com animais e pessoas também. O Zeta, aliás, até tentou se formalizar como entidade na Alemanha, mas foi rejeitado pelas autoridades.

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A zoofilia é defendida abertamente por poucas pessoas, e Oliver Burdinski é uma delas. Ele é a voz reluzente do Zeta, com um tom gentil e vida sexual desvanecente com o único cão que lhe resta, o Joey, um husky de olhos azuis.O Joey já não fica muito empolgado de penetrar Burdinski no ânus, mas o homem é o passivo da relação e diz: “Sou a cadelinha dele”. Burdinski atribui a mudança em sua vida sexual à idade do cão. De qualquer forma, está longe dos seus inebriantes primeiros tempos de zoófilo, quando ele tinha três parceiros caninos, todos morando com ele. Burdinski diz que a matilha às vezes brigava entre si pelo prêmio de fazer sexo com seu amo humano.

O problema do Zeta com a lei é sua validade com base na constituição alemã, ou Lei Fundamental. O grupo afirma que, se o animal não for ferido, essa legislação é, na verdade, uma “lei moral”. Essa é uma questão importante na Alemanha, onde os direitos humanos passaram a ser fortemente salvaguardados depois da Segunda Guerra Mundial por causa das atrocidades que Adolf Hitler conseguiu cometer utilizando-se de pejorativos morais. O Zeta afirma que, por causa disso, a proibição não é constitucional. Mas o governo do país se recusa a reconhecer formalmente a organização.

Enquanto Noruega, Alemanha e outras nações europeias alteraram suas leis de zoofilia recentemente, a Dinamarca se meteu no centro das atenções do sexo animal de que alguns moradores do país em breve se livrariam. Denúncias de turismo sexual com animais em Jutland começaram a surgir pela primeira vez em 2007. Jornalistas como Margit Shabanzadeh, atualmente repórter da TV2 News em Copenhagen, estavam na dianteira ao expor esse problema que florescia. Ela descobriu uma mulher que treinava cães para fazer sexo com outras mulheres e disse que, apesar de alegar que o cão era saudável, ele não parecia particularmente feliz com a chegada dela. “O cão estava machucado e parecia que mancava e tinha uma aversão a pessoas em geral”, afirmou Shabanzadeh.

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O aumento das denúncias de incidentes do tipo, incluindo estábulos invadidos à noite por estupradores de animais, chocou a opinião pública. Isso levou o debate para a esfera política dinamarquesa, em que ativistas exigiram que o governo adotasse o padrão alemão e pressionaram o ex-ministro da Agricultura para mudar a lei. Mas ele não se interessou muito depois de um relatório produzido por Peter Sandøe, então presidente do conselho consultivo de ética da Dinamarca, indicando que, se não há prejuízo ao animal, não há crime. Sandøe, atualmente professor de bioética na Universidade de Copenhagen, conduziu um estudo em que concluiu que alguns animais podem até sentir prazer no sexo com seres humanos.

Isso parecia uma sentença de morte para ativistas como Karoline Lundstrøm, que tenta se meter as redes clandestinas de práticas zoófilas há anos. Ela vasculha sites usados para organizar encontros, como o Beast Forum, e de criadora de interior meio que se tornou cyberguerreira justiceira em busca de zoófilos e feras. A distinção é importante para pessoas que trepam com animais: zoófilos amam seus animais e se preocupam com eles, enquanto as feras só trepam e fogem.

As feras tendem a inspirar o imaginário sensacionalista sobre a zoofilia, como cavalos mutilados com camisinhas espalhadas pelas pernas amarradas, como descrito pela veterinária doutora Lene Kattrup. Kattrup oferece um manancial de histórias de terror sobre as atrocidades cometidas contra animais na Dinamarca e é melancólica com a forma como o país falha em proteger os animais.

Os ativistas esperavam ansiosos por um novo dia para a proteção animal depois da chegada de Dan Jorgensen, o novo ministro da Agricultura da Dinamarca. Defensores antigos como Peter Mollerup o veem como amigo do movimento dos direitos dos animais e a melhor chance de finalmente conseguir mudar a lei. No entanto, Jorgensen não parece tão incomodado assim com a zoofilia. Ele não fez declarações sobre a prática e não a reconheceu publicamente desde que assumiu o cargo.

Grupos minoritários dinamarqueses agora se apegam à questão na esperança de conseguir cadeiras no parlamento. O exemplo mais notório é Christian H. Hansen do partido Fokus, que antes servira no Partido Popular Dinamarquês por doze anos. Hansen suspeita que Sandøe se oponha à lei porque ele próprio curte trepar com animais. O Fokus se vende como “o partido mais verde” da Dinamarca e é bem direto sobre questões ambientais também. Ele foi criado em grande parte em reação ao foco absurdo do PPD na lei da imigração – e pouco em qualquer outra coisa – segundo seu fundador.

A batalha sobre a ética das relações sexuais entre animais e seres humanos está longe de acabar. A mitologia em torno da zoofilia tem centenas de anos e inclui deuses gregos, como Zeus. Discussões histéricas e a incapacidade de enfrentar o problema de frente são os verdadeiros inimigos da situação. Se você tem medo de reconhecer um problema, fica impossível de resolvê-lo.

-Connelly La Mar